Gente de skate invadindo piscinas

O DC Downhill Club anda por aí, de skate na mão, sondando piscinas abandonadas e fazendo amigos

Você lembra do rush que sentiu quando, lá pros seus doze anos, bateu na porta do vizinho e saiu correndo pela última vez? Seus amigos rindo, você suado, preocupado com o cecê que suas glândulas sudoríparas ainda não produziam, os olhos esbugalhados e o foco no momento exato de correr - zarpar o barquinho antes de ver a vizinha abrir a boca pra gritar com vocês, ah, não tinha graça. Precisava de ser no auge da coisa.

E da última vez que você bateu na porta do vizinho pra pedir açúcar, lembra? Ele atendeu todo risonho, achou que você vinha reclamar do som alto… Só queria uma xícara pra adoçar teu bolo. Ah, isso eu tenho.

Mas você não lembra, né, cara? Fala a verdade. Ninguém não bate mais na porta, não.

Hoje, assistindo esse vídeo, eu descobri que tem gente que ainda toca a campainha da casa dos outros. E por bem!

Os skatistas do DC Downhill Club (DCDC) dispendem de um tempo fuçando mapas da região e achando piscinas sensacionais e abandonadas que tenham formatos parecidos com bowls para praticar - no maior estilo Z-Boys. Quando acham, passam um tempo sondando o lugar e se atentando à detalhes da casa que precisem de reparos - cercas quebradas, grama alta no jardim.

A adrenalina começa quando eles batem à porta do dono do casarão e pedem autorização pra andar de skate na piscina. Em troca, se oferecem pra fazer os serviços de reparo e limpam a própria piscina.

O que tem de mais valioso nisso é o laço que criam com os proprietários. Pelo rush inicial ou pela compaixão de quem compartilha açúcar e espaço, a experiência de bater à porta de alguém (quase) sempre vale a pena. Trocamos o olhar, o toque e as diferentes perspectivas - quem disse que essa piscina não serve pra mais nada?

Mais do que isso, aprendemos a perder o medo do outro. Não que a gente o tenha por bobeira - esse medo é diariamente alimentado pelos bombardeios de casos que ouvimos e coisas que nos acontecem -, mas não podemos deixar que nos tire a capacidade de se conectar com outra pessoa de coração aberto, assim, aleatoriamente.

Deixa eu invadir sua piscina?


publicado em 26 de Agosto de 2015, 13:59
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Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.


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