Como criar um grupo reflexivo com homens para conversar sobre violência contra as mulheres?

Pesquisadores consolidaram diretrizes e critérios para quem deseja estruturar um grupo com autores de violência no estudo

O combate às violências contras as mulheres tem sido uma missão chave aqui no PdH. 

Depois de 5 meses dedicados ao projeto, lançamos nosso livro-ferramenta "Como conversar com homens sobre violência contra as mulheres", feito em parceria com o Instituto Avon e com pesquisadores do tema - como o Adriano Beiras, o Flavio Urra e o Sérgio Barbosa. 

Uma das pesquisas que contribuíram muito para o desenvolvimento deste trabalho foi o estudo sobre "Programas de atenção a homens autores de violência contra as mulheres: um panorama das intervenções no Brasil", no qual os pesquisadores Adriano Beiras, Marcos Nascimento e Caio Incrocci consolidaram diretrizes e critérios para quem deseja
estruturar um grupo com autores de violência.

Para ler o estudo completo, clique aqui.

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Quais são os pontos principais para a criação de grupos reflexivos no combate à violência?

Para quem de fato quer trabalhar com grupos de homens autores de violência, é preciso se aprofundar em estudos e teorias sobre o tema. Recomendamos ler o artigo completo. 

Aqui vamos elencar algumas pontos essenciais no desenvolvimento destes programais:

Entendendo as teoria

1) Aprofunde em estudos para não naturalizar as desigualdades

Usar a perspectiva de gênero e as teorias feministas contemporâneas com abordagem crítica e reflexiva, de modo a contemplar direitos humanos, igualdade de gênero, interseccionalidades, diversidades e desconstrução do patriarcado, da homofobia e da transfobia.

Estas são características fundamentais para evitar naturalização, banalização e legitimação social das violências de gênero, além de problematizar como os diferentes marcadores da diferença contribuem para as desigualdades sociais;

2) Enfatize a reflexão e reeducação

Dar ênfase em programas de caráter reflexivo ou psicoeducativo, e não terapêutico, para evitar uma perspectiva psicologizante ou patologizante da violência.

Entendendo o Método

3) Sobre o número de encontros

Desenvolver programas considerando um mínimo de encontros entre 12 e 15, de modo a assegurar a qualidade reflexiva e o aprofundamento do trabalho realizado.

4) Lidando com a complexidade do tema

Partir de perspectiva multidisciplinar que contemple a complexidade da temática, sem a reduzir a simplismos de causas e efeitos;

5) Incentivando Mudanças

Incentivar metodologias de caráter reflexivo e crítico que possam produzir mudanças subjetivas, culturais e sociais mais amplas, sem restringir-se a responsabilizações individualizantes;

6) Foco na Responsabilização

Focar em dinâmicas de responsabilização dos HAV (homens autores de violência), com metodologias participativas e ativas, perguntas reflexivas, uso de atividades lúdicas, e ressignificações sobre a construção social de masculinidades.

Em relação às políticas públicas:

7) Criação de política focada no tema

promoção de uma política nacional específica que possa garantir financiamentos públicos e estrutura técnica e profissional;

8) Trabalhando em rede

Trabalhar integrado em rede com outros serviços voltados para mulheres e famílias;

9) Formação continuada

Incentivar a processos de formação continuada, assim como diálogos em rede com facilitadores e facilitadoras de diferentes regiões do país.

Sobre como avaliar os programas:

10) Importância de avaliar o impacto

Necessidade de estudos de avaliação de impacto que contribuam para mensurar a contribuição desses programas ao enfrentamento da violência doméstica e de gênero contra as mulheres, seu custo-efetividade e a possibilidade de scaling up;

11) Compartilhar os resultados

Disseminar o conhecimento de experiências anteriores e das diretrizes internacionais como forma de contribuir para a construção de modelos de intervenção com HAV;

12) Sistematizar os aprendizados

Sistematização das lições aprendidas, de forma a auxiliar na formulação de outras iniciativas, evitando que novos programas sejam iniciados de forma frágil ou simplista;

13) Garantir sustentabilidade das ações

Construção de garantias de sustentabilidade das ações voltadas para mulheres e homens em situação de violência como parte de uma ampla política de promoção da igualdade de gênero.


publicado em 19 de Março de 2020, 15:26
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