Guia prático para não passar vergonha nesse Carnaval

Começou o carnaval! É perfeitamente possível curtir sem atrapalhar ninguém. Vem cá que a gente te mostra como.

A espera durou uma eternidade, mas bem na viradinha de fevereiro para março, ele chegou com tudo. Em 2019, o Carnaval vem tarde, e a nossa expectativa já está lá no alto. Quem curte aproveitar a folia na rua está louco para colocar em prática a programação de bloquinhos, experimentar aquela fantasia criativa, e dar uma passada na loja de bebidas para garantir os suprimentos.

Só que tanta euforia pode fazer o folião mais distraído queimar a largada. Aproveite que ainda dá tempo de parar e pensar um pouquinho. Assim, sem colecionar arrependimentos, sobra mais tempo para se recompor na quarta-feira de cinzas.

Em pleno 2019, divertir-se e deixar pra lá os problemas é mais do que necessário, mas é bom evitar passar vergonha também. Até que não é difícil. Só é preciso um pouquinho de boa vontade.

Foto: Ismael dos Anjos

Cachaça não é água, não. Beba direito e melhor

Tem gente que espera o ano inteiro só pra extravasar no Carnaval. Mas aquele papo de beber, cair e levantar só é legal na música. Na vida real, não custa nada intercalar a cerveja com água e refletir melhor antes de fazer misturas muito ousadas.

Não precisa cortar o álcool – entender como ele funciona já ajuda. Basicamente, o etanol dá um gás nos neurotransmissores do prazer, e acontece o que você já sabe: o sujeito fica altinho, canta alto e se declara para os amigos. Sucesso! Só que, muitas doses depois, o efeito químico é invertido, e vem a depressão, a desorientação e todo o estrago.

Então, o lance é conhecer seus limites. Às vezes o que deixa um apenas alegrinho é o suficiente para derrubar o outro. E não é no meio da rua, sem lenço e quase sem documento que você vai querer descobrir quantas garrafas de catuaba seu organismo é capaz de consumir em uma hora. Então, beba bem, mas beba direito, e nada de dirigir e nem aceitar drink que não foi você mesmo que abriu. Facinho, né?

Mande água pra ioiô. Hidrate-se!

Falando em saúde, também é fácil fazer o mínimo para se cuidar. A rotina do Carnaval pode ser pesada, mas não tem desculpa para não beber água.

Você deve ter notado que o verão está particularmente intenso por aqui, né? Nos dias normais, a gente perde algo entre 2 e 2,5 litros de água. Quando está muito quente, é bem fácil perder o controle – e lá se vão 4 ou 5 litros no suor e no xixi (que também fica mais frequente graças ao efeito químico do álcool). Então, manter sempre uma garrafinha na mão não é frescura.

O Sol estará quente e pode queimar a sua cara, mas dá pra evitar danos muito grandes. | Foto: Circuito Fora do Eixo

Acredite, a água te livra de desidratação, evita desmaio, ameniza a ressaca e basicamente faz a sua alegria durar mais. Como é possível recusar um ingrediente que vai garantir sua felicidade? (Se quiser algo menos sem graça, água de coco serve).

E já que é para colocar a cara no Sol, não esqueça o filtro solar. Taí outra coisa que parece capricho, mas que faz muita diferença. Chegar na segunda-feira com o rosto vermelho e as costas ardendo não pega bem. E o efeito a longo prazo também não é nada bom. Um protetor solar diminui o envelhecimento da pele e evita câncer. Só vantagens.

"Eu fiz tudo pra você gostar de mim". Mas “não” é “não”

A gente sabe: um dos grandes baratos do Carnaval é poder beijar várias pessoas sem compromisso. Porém, sua meta de pegar geral pode acabar atrapalhando a diversão dos outros se você passar do limite.

Você pode argumentar que, debaixo do sol, com a música alta e as pessoas já meio bêbadas, esse limite é difícil de enxergar. Mas, na verdade, não é. Observe o alvo de sua paquera por alguns segundos e você vai perceber claramente se a pessoa está interessada ou não. Se não der pra saber só de olhar, pergunte. E, se ouvir um "não", parta para a próxima sem insistir. Às vezes, a moça (ou o rapaz) simplesmente não está a fim de você naquela hora.

Outra possibilidade é a menina que você gostou já estar acompanhada. Se for o caso, quando você perceber, não peça desculpas para o homem que estiver com ela. Isso mostra que você só a respeita porque ela é propriedade de alguém, e não por ser uma pessoa.

Respeita as mina, as mona, os mano, e seja respeitado em troca. | Foto: Circuito Fora do Eixo

Assédio de rua é coisa séria, e não rola culpar o clima de azaração do Carnaval pelos seus excessos. Mesmo no meio empurra-empurra, não pega bem sair encostando na cintura ou no braço da pessoa da qual você está a fim. Elogie a fantasia, mostre que entendeu a piadinha, ofereça água – qualquer estratégia que demonstre que você é gente boa é melhor do que já chegar roubando beijo. Se o xaveco pegou mal, peça desculpas – essa palavra mágica já vai te colocar bem acima da média.

Bota a camisinha

Agora, se a paquera deu certo e evoluiu para algo mais, faça sexo seguro. Não tem segredo, nem desculpa: o Ministério da Saúde vai distribuir 130 milhões de camisinhas gratuitas em 2019. Encha a pochete antes de sair de casa e não deixe de curtir um momento legal por falta de segurança.

Caso você não se dê bem com o preservativo gratuito, compre de várias marcas e vá testando até achar um que seja confortável. Existem tantos tipos de camisinhas que é certo que pelo menos uma te deixe satisfeito.

Já estamos todos cansados de saber, mas é bom repetir: além do HIV, a camisinha evita um monte de outras infecções sexualmente transmissíveis. Em poucos segundos, você faz um favorzão para o seu eu do futuro, que não sofrerá com a angústia de uma doença ou de uma gravidez indesejada.

Acerte na fantasia

Não importa se a sua fantasia é só uma plaquinha com uma frase hilária ou se é mais elaborada, cheia de apetrechos: o importante é aproveitar essa excelente oportunidade para sair na rua usando pouca roupa, abusando das cores e do bom-humor. Shortinho florido? Tá liberado. Chinelo? Liberadíssimo.

Mas, antes de sair, seja sincero: sua ideia de fantasia é ofensiva para alguém?

Não há outra época do ano com mais gente se expressando livremente pelas ruas. O problema é quando a gente usa nossa liberdade para rir de piadinhas que já não têm graça há algum tempo. Usar peruca para imitar uma travesti ou pintar a cara de marrom se você for branco, por exemplo, é puro mau gosto.

Meio Chapeuzinho, meio Lobo-Mau: crie uma fantasia só sua e não passe vergonha reproduzindo clichês ofensivos | Foto: Circuito Fora do Eixo

Vamos lá, é bem possível ser criativo e engraçado sem ridicularizar uma pessoa, um gênero, uma raça, uma classe social, uma religião, ou qualquer outra minoria. Mire nos memes que mais te fizeram rir nos últimos meses. Quem sabe não pinta uma ideia de fantasia baseada nos cachorros "gorditos y cansaditos", no "ovo do Instagram" ou no filme Birdbox?

Será que ele é? Deixa pra lá

Carnaval é festa, mas também é espaço de luta e política. Tem gente que espera o ano todo para poder passar mensagens e levantar bandeiras no Carnaval. Por isso, respeite a diversidade e deixe os outros curtirem o charme da liberdade. Um casal de meninas se beijando não é um convite para você participar, e nem um espetáculo para você aplaudir. Se o afeto entre dois homens te incomoda, olhe para outra direção (e depois reflita melhor sobre o motivo desse incômodo).

Diversidade não é só de gênero e orientação sexual. Talvez você cruze com blocos que tocam músicas diferentes das que você gosta, ou veja manifestações religiosas que não batem com a sua fé. A festa dura muito pouco para você se preocupar demais com a vida dos outros.

Ninguém quer passar os próximos meses sofrendo consequência de más decisões. Então, pense bem: como você pode curtir ao máximo a festa mais legal do ano sem passar vergonha? Qual é o seu segredo para aguentar a maratona de blocos sem passar mal? Compartilhe as dicas e ajude a criar um Carnaval mais agradável para todo mundo, e inesquecível pelos motivos certos. Se a canoa não virar, a gente chega lá.


publicado em 02 de Março de 2019, 19:16
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Otávio Cohen

Otavio Cohen aprendeu a contar histórias em Minas Gerais, mas vive em São Paulo há oito anos. Como escritor, lançou três livros de não-ficção pelas editoras Abril e Planeta. Como jornalista, passou pela redação digital da Superinteressante, colaborou com Viagem & Turismo, Mundo Estranho e Guia do Estudante, e foi editor de infografia para livros didáticos da Editora Moderna. Especializou-se em branded content e realizou projetos para marcas como HBO, Motorola e Medley.


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