HECATOMBE JÁ!

A natureza é sábia: quando percebe que algo está errado no planeta, descola uma hecatombe. Foi assim com os dinossauros, que bateram as patas e deram lugar aos mamíferos, o que resultou em você, eu e a Luciana Vendraminni (não é ma-ra-vi-lho-so estarmos na mesma classe animal?). Tirando a Fafá de Belém e o Galvão Bueno, até que valeu a pena.

Se a natureza continuar agindo com sabedoria, talvez a gente presencie uma nova hecatombe. Desta vez na Internet. A raça dos ”Internautas” (termo enjoado da muléstia...) não evoluiu. Tem muito blogueiro com síndrome de Gláuber Rocha: se define como genial em qualquer circunstância, mesmo quando pisa no penico. Não dá pé. Tem gente boa, claro. Mas eles são sufocados pelo resto, que requenta sonhos de grandeza. Se for para dar chance a uma nova espécie, eu topo ser extinto. Principalmente se a nova raça souber configurar a minha impressora. Meu blog é assumidamente inútil. Dizem que baratas sobrevivem bem aos desastres naturais. Enfim, como reles blogueiro rastejante, tenho uma chance. Acredito que valorizar a própria estupidez é uma virtude.

“Cara, odara, jabaquara, muito massa tudo isso”

Os gregos, apesar de alguns costumes esquisitos, como vestir lençóis e esculpir marmanjos de pinto pequeno, eram espertos. Quando tinham uma dúvida, perguntavam a um oráculo. A resposta podia até ser fajuta, mas pelo menos era uma opinião oficial. Hoje, não. O mais perto que temos de oráculo é o Caetano Veloso. Quando surge uma crise econômica, os jornalistas vão logo perguntando a opinião dele. E o que Caê tem a dizer? Talvez isso: “Cara, odara, jabaquara, muito massa tudo isso”. Os gregos estavam em situação melhor. Só tem um jeito de acabar com isso: chamar economistas para falar de música. Seria legal ver Delfin Neto dizendo que precisa “Equacionar a música de Caetano”. Enfim, se Caetano tem gabarito para falar de economia, então opinião é um troço que não vale um peido.

Todo mundo tem direito a dar a sua opinião e falar sobre o que quiser. Você tem até direito a rabiscar filosofia, como a Luana Piovani, que escreve coisas como “Fim de ano, começo de outro... Tudo termina pra começar... A vida é mesmo assim, cíclica... sempre foi, sempre será...” Sim, é profundo, não? Só acho que mais humildade não faria mal a ninguém, coleguinhas. Diante da imensidão do universo, todo ser humano é insignificante. Blogueiro contando detalhes da sua viagem a Ubatuba é ainda mais insignificante. Uma sugestão utópica para colocar ordem nesse barraco: abrir uma vaga de Editor Chefe em cada blog. Um “Personal Matinas Suzuki” para oprimir os blogueiros e retalhar os textos. Seria legal.

Talvez apenas um blog sobreviva à hecatombe. Meu medo é que seja o da Preta Gil.


publicado em 27 de Agosto de 2008, 20:40
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Walter Carrilho

Walter Carrilho é, na verdade, o pseudônimo de um jornalista que prefere manter o anonimato para poder falar tudo aquilo que você adoraria falar, mas não fala porque, sei lá, não pintou o clima, saca? Ele escreve no Jornalismo Boçal e no @waltercarrilho.


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