Os homens possuem grandes dificuldades de dividir seus sentimentos, desde muito jovens aprendem que o ser masculino não pode transparecer suas fragilidades, esse tipo de comportamento só é aceito quando se trata de mulheres. Esconder os seus sentimentos não faz bem a ninguém, a falta de abertura torna ainda mais difícil sua compreensão sobre o que está acontecendo e por muitas vezes levam pessoas a buscarem alternativas que aumentam suas angústias e geram mais sofrimento e desespero.
O PDH desenvolveu uma pesquisa quantitativa para entender as razões do silêncio dos homens em relação à questões que permeiam o universo da masculinidade. Mais de 40 mil homens participaram dessa pesquisa, homens de todos o Brasil, com sexo, idade, raça e opções sexuais distintas. Dentro de todo o universo desses números um dado me chamou bastante atenção: 7 a cada 10 homens não possuem o hábito de conversar sobre os seus problemas.
Entre a comunidade LGBTQIA+, esse hábito é mais presente, cerca de 80% dos homens gays não veem problema de dividir suas angustias com seus amigos. Mas esse número despenca para apenas 26% quando a amostragem é limitada aos heterossexuais.
Na faixa etária de homens mais jovens - entre 18 a 24 anos - cerca de 24% dos homens contam que dividem com amigos. Esse número cai significativamente comparado à homens de uma faixa etária entre 40 a 59 anos, que é de apenas 15%.
A figura do homem dentro da nossa sociedade, por muito tempo foi associada a imagem da força, virilidade e sem fragilidade alguma. Essa construção ficou incrustada no imaginário coletivo de muitas gerações e é relativamente recente o questionamento sobre esse arquétipo. Já as novas gerações tem muito mais a cara da modernidade, inclusive nas relações que estabelecem.
Se permitir falar suas dores, derrubando as barreiras dessa sociedade que não valoriza as emoções avançamos ferozmente no caminho de um bem estar maior para homens e para todas as pessoas da sociedade. Ressignificar o ser homem é necessário para a construção de novas masculinidades possíveis. E somente através do uso consciente das ferramentas que podemos usar que iremos conseguir atingir um novo estágio nessa pauta.
Esses números refletem um cenário de uma possível mudança a médio e longo prazo. As porcentagens de crescimento entre homens mais jovens nos diz que o hábito de dividir os sentimentos vem sendo normalizado com o passar das gerações. Talvez pelo advento da tecnologia, várias pautas são debatidas porque nesses ambientes virtuais as pessoas ficam mais confortáveis para se posicionar. A internet pode ser um atalho facilitando a comunicação, mas também pode ser o local onde pessoas continuem reproduzindo comportamentos que antiquados, por isso devemos que usar esses recursos a favor de nós.
Essas amarras do machismo que aprisionam homens dentro desse tipo de comportamento vem sendo quebradas, a liberdade para poder falar e acolher vem sendo utilizada como ferramenta nesse sentido. Além de grupos de reflexão, produção de conteúdo (podcasts, documentários, lives) e realização de consultorias, entidades como o PDH realizam um trabalho de conscientização fazendo o homem refletir sobre seu modo de agir consigo, com o outro e com a sociedade.
Espero que na próxima vez que escreva sobre isso, tenhamos números mais animadores. E mais importante que os números, homens com novas posturas e lutando por uma sociedade mais equitativa para todos e todas. Homens conscientes de todos os privilégios que gozam dentro dessa sociedade patriarcal que vivemos e que precisa ser modificada, derrubando esses muros e construindo novas pontes de diálogo. Espero por homens que estejam realmente dispostos a bater um papo de homem.
Você também faz parte da galera que divide aquilo que está sentindo ? Ou prefere guardar seus sentimentos ?
Vem bater esse papo com nós nos comentários !
publicado em 16 de Maio de 2022, 10:47
