Humans of New York publicou uma carta aberta a Donald Trump – e ela vale a leitura

O criador Brandon Stanton, se posicionou numa pertinente carta que se relaciona profundamente ao potencial empático do blog

Dizem por aí que não se posicionar em tempos de injustiça é a chave para o fim dos tempos. Difícil ter certeza, já que a linha entre o justo e o injusto pode ser mais tênue do que gostaríamos por vezes, especialmente quando lembramos que as noções morais entre nós podem ser extremamente diferentes. Mas se o silêncio e a quietude pode ser porta pra aprendizado nessas situações, há momentos no quais a máxima se faz válida e uma posição é necessária.

Quem segue o Instagram do Humans of New York percebeu que as bonitas fotos foram substituídas por um texto hoje. O print branco no preto, de recorte improvisado e fonte nada artística pode até não chamar atenção aos olhos mais distraídos, mas traz força em sua mensagem. É uma carta aberta a Donald Trump.

 

Em tempos de discussão sobre jornalismo no PdH, cabe demais ver esse posicionamento como mais uma guinada para uma comunicação mais honesta e clara entre autor e interlocutor. Humans of New York é um blog criado em 2010 pelo fotojornalista Brandon Stanton. Desde então, ativo no Facebook e no Instagram e também em formato de bestseller, vem publicando boas histórias sobre a vida de quem passa pelas ruas de Nova Iorque.

São os mais íntimos relatos sobre fatos extraordinários ou absolutamente banais sobre pessoas completamente comuns e vulneráveis ao mundo. Ler essas histórias vendo seus rostos e fortes expressões é um poderoso exercício de empatia e autoidentificação. E é por isso que o posicionamento de Brandon não podia ser mais natural e inspirador.

Vamos lá. Leia, pegue uma cadeira, me conte sua perspectiva.

“Eu tento ao máximo não me envolver em política. Recusei-me a entrevistar vários de seus companheiros de eleição. Não queria arriscar nenhum comprometimento ao tomar posição numa eleição contenciosa. Pensei: ‘Talvez não seja o momento’. Mas agora eu percebo que não há momento certo para se opor à violência e ao preconceito. O momento é sempre agora. Porque junto com milhares de norteamericanos, percebi que se opor a você não é mais uma decisão política. É uma decisão moral.

Eu o vi retwittar imagens racistas. Eu o vi retwittar mentiras racistas. Eu o vi exaltar a supremacia branca por 48h. Eu o vi encorajando veementemente a violência, e prometendo pagar a quem a cometesse em seu nome. Eu o vi advogar pelo uso da tortura e morte às famílias de terroristas. Eu o vi falar em executar muçulmanos com balas sujas de sangue de porco. Eu o vi comparar refugiados à cobras e o vi declarar que o Islã nos odeia.

Eu sou um jornalista, Sr. Trump. E pelos últimos dois anos eu tenho entrevistado centenas de muçulmanos, escolhidos aleatoriamente, nas ruas do Irã, Iraque e Paquistão. Também entrevistei centenas de refugiados sírios e iraquianos por sete diferentes países. E eu posso confirmar – o ódio está em você.

Aqueles que têm prestado atenção ao longo dos últimos tempos não deixarão que você esconda isso para montar uma nova imagem de si mesmo. Você não é um unificador. Você não é um presidenciável. Você não é uma vítima da raiva que você mesmo vem alimentando com alegria. Você é um homem que encorajou o preconceito e a violência na busca do poder. E mesmo que você mude suas palavras pelos próximos meses – o que fará, sem dúvidas –, você sempre será quem é."


publicado em 14 de Março de 2016, 20:17
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Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.


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