Mr.Robot e o mundo dominado pelos 1%

Se é uma dica de seriado que você quer, aqui está

“O que estou prestes a te contar agora é ultra secreto, uma conspiração maior que todos nós.

Existe um poderoso grupo de pessoas lá fora que estão secretamente comandando o mundo. Estou falando dos caras que ninguém sabe, os caras que são invisíveis.  Os 1% do topo dos 1%, os caras que brincam de deus.”

Mr.Robot conta a história de Eliot, um hacker experiente e idealista. Durante o dia, se esforça para sobreviver à tediosa rotina corporativa.

À noite, ele assume outro papel. Eliot usa suas habilidades técnicas para invadir computadores, descobrir sujeiras e garantir que a justiça seja feita.

A série não esconde sua semelhança proposital com o plot do venerado Clube da Luta, de Chuck Palahniuk. A batalha contra modelos impostos, a retirada de máscaras sociais e a luta contra grandes corporações que, no poder, controlam a vida de todos no mundo.

Mr. Robot é um filho legítimo do movimento Ocuppy Wall Street.

Para os que não lembram, o movimento iniciou os protestos de 2011 em Nova York, no qual milhares ocuparam as ruas contra os 1% mais poderosos do planeta. O OWS se levanta contra a injustiça da alta concentração de recursos e poder. Seu lema é “Nós somos os 99%”.

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Eliot, interpretado pelo brilhante Rami Malek, é um jovem introvertido e com sérias limitações sociais. É fácil se transportar para a pele do personagem e sentir seu desconforto em meio ao ambiente plástico, quase hostil que a série retrata.

A incrível consultoria do seriado faz com que os mais entendidos em tecnologia se deslumbrem com a precisão técnica envolvida nos ataques cibernéticos, fornecendo ao público geral um gosto muito próximo de como operam os hackers.

O seriado é coberto de criticas sociais, discursos contra o capitalismo e o poder. Pessoas que nunca pararam para questionar o capitalismo certamente sentiram um soco no estômago, um chamado para realidade. Aqueles que abertamente são a favor das estruturas de poder totalitárias serão capazes de reconhecer algumas peças da trama, os levando a pensar se o que acreditam realmente faz algum sentido.

Essa direção pode ser percebida ainda na primeira sequência do primeiro episódio, no qual durante uma consulta, a psicóloga de Eliot pergunta na lata, como quem quer saber se vai chover:

“O que tem na sociedade que te decepciona tanto?”

Então, apenas ouvimos:

“Ah, sei lá.

Será que é porque coletivamente pensávamos que Steve Jobs era um grande homem, mesmo sabendo que ele fez bilhões nas costas de crianças? Ou talvez porque sentimos que todos os nossos heróis são falsificados, e o mundo por si só é uma grande farsa? Inundando a rede com as merdas dos nossos comentários, mascarados de sabedoria, nossas redes sociais fingindo intimidade. Será que votamos nisso? Não com nossas eleições fraudadas, mas com nossas coisas, propriedades, dinheiro. Não estou dizendo nada novo, todos sabemos disso. Não é porque os livros dos Jogos Vorazes nos deixam felizes, mas porque queremos permanecer sedados.

Porque é doloroso não fingir. Porque nós somos covardes…”

É com esse espírito de subversão e confusão que a série me carregou pelos 10 episódios da primeira temporada, surpreendendo a cada novo episódio.

Se você assistir a essa cena e ainda não ficar curioso, nem precisa mais ver o seriado:

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E aí, alguém já viu? Ainda não viu?

Como sempre, a conversa segue nos comentários.


publicado em 10 de Novembro de 2015, 00:05
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Alberto Brandão

É analista de sistemas, estudante de física e escritor colunista do Papo de Homem. Escreve sobre tudo o que acha interessante no Mnenyie, e também produz uma newsletter semanal, a Caos (Con)textual, com textos exclusivos e curadoria de conteúdo. Ficaria honrado em ser seu amigo no Facebook e conversar com você por email.


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