Não, a Geração Y não fracassou

Os Millennials para além do discurso simplista de que são apenas um bando de preguiçosos sustentados pela família

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Vamos respirar antes de cravar que nossa geração é a mais bunda-mole do universo.

Com certeza somos tão bunda-moles quanto a humanidade tem sido neste mundinho feito de caô, fúria e boas intenções não realizadas, mas ficar apenas no discurso do tipo "Ai, como a geração Y é fútil, não realiza, não tem responsabilidade, não sabe cozinhar" só vai deixar a gente parado no mesmo lugar. Vamos respirar antes de generalizar.

As gerações mais velhas sempre vão achar os mais novos "frouxos", sempre vão falar que "no meu tempo que era difícil", sempre vão achar os filhos mais "leite com pera" que os pais. Não existe uma estatística sociológica que prove nenhuma dessas teorias sobre a geração Y. Tanto as que dizem que é a geração mais incrível, quanto as que dizem que é a mais medíocre. Generalizações tendem a ser burras.

Os millenials não são “superdotados ultraespeciais que vão mudar o mundo” como defendiam os publicitários lá no começo. Todas gerações transformam o mundo para o mal e para o bem. Mas ess@s jovens de barba e franja são apenas viciados em selfies que não sabem fazer miojo?

Bom, eles podem ser hedonistas e vaidosos, sim, mas eles também têm suas causas e suas lutas.

São a geração que mais lutou pelos direitos LGBT, por exemplo, e a que viu a união entre pessoas do mesmo sexo ser reconhecida aqui no Brasil (além da homossexualidade ter deixado de ser crime em vários países do mundo só nos últimos anos).

É uma geração que abraçou o feminismo e lutou contra o assédio e o estupro acobertado.

Uma geração que defende a igualdade, assistiu a criação de cotas no Brasil e começou a discutir a situação d@s trans na nossa sociedade. Se você pudesse voltar 5 anos no tempo, perceberia que travestis/trans seriam vistos só em matérias sobre prostituição e em programas de humor babacas. Hoje a Laerte tem um programa só dela.

Legenda

Tem muita gente da esquerda tradicional que discursa como se os Y fossem um bando de alienados querendo viajar o mundo com o dinheiro da mãe. Mas, pro bem e pro mal, foi essa geração que elegeu o primeiro, o segundo, o terceiro e o quarto (ufa!!) governos de esquerda do Brasil.

Foi ela, também, que adotou a causa ambiental como sua. Que exigiu transporte público de qualidade, passe livre para os estudantes e deu a vida (literalmente) em prol das bicicletas nos grande centros urbanos. E com essa luta toda viu ciclofaixas, ciclovias e metrôs sendo inaugurados em várias cidades grandes, mesmo que em uma velocidade muito mais lenta do que gostaria.

Falando em política, vale lembrar que nossa geração organizou as Jornadas de Junho, a maior série de protestos do período democrático. Lembra do "Vem pra rua?" Então, você pode dizer que não deu em nada, mas as “Diretas" também não nos livraram das indiretas que nos levaram ao Sarney - e todo mundo lembra delas com orgulho.

Por fim, é uma geração que se revolta contra o ritmo industrial da vida e que tem buscado novas formas de trabalhar. Se as gerações anteriores criticavam tanto o capitalismo, por que chamam de hedonismo o fato desta geração querer trabalhar menos e querer aproveitar mais a vida? De não querer ter um local fixo de trabalho? De comemorar o home office e o "nomadismo digital"? Os nômades digitais, aliás, que trombei por aí não eram sustentados pelos pais, pelo contrário, estavam trabalhando de verdade, só não tinham um emprego fixo.

Claro que sempre se generaliza quando se fala de gerações. Nem todo mundo que viveu nos anos 70 estava protestando contra ditadura ou cantando os hinos tropicalistas. Aliás, a minoria estava, já que a ditadura durou 21 anos e boa parte da população (infelizmente) a apoiava. Hoje também temos direita e esquerda, conservadores e progressistas, pobres e ricos, artistas e caretas, hedonistas e raladores, babacas e pessoas legais.

Generalizações são burras e o próprio conceito de geração é uma generalização. Mas vamos apontar os erros pra melhorar, não pra deixar tudo como está na mão dos velhinhos saudosistas que não querem aceitar que o mundo muda.

E eu espero que ele mude para melhor.


publicado em 19 de Agosto de 2015, 11:21
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Fred Di Giacomo

Fred Di Giacomo é escritor e jornalista multimídia; criador do Glück Project – uma investigação sobre a felicidade; autor do livro “Canções para ninar adultos” e criador de newsgames como Science Kombat. Nas horas vagas, toca baixo na Bedibê.


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