Não use o cartão de crédito para acumular milhas | 9 práticas para 2017 doer menos

Além de simplificar seu controle financeiro, é possível que você gaste menos sem sequer perceber.

Nota do editor: O Eduardo Amuri é o colunista que trata dos assuntos de finanças pessoais aqui no PapodeHomem e também é nosso diretor financeiro.

Agora no finalzinho do ano, ele postou em sua página pessoal um vídeo curto no qual responde uma pergunta bastante recorrente sobre o uso de cartão de crédito, a bonificação com milhas e se vale ou não a pena gastar no cartão pra acumulá-las. O vídeo encontra-se no final do texto abaixo, parte do livro Finanças para jovens, que sairá em julho/2017, pela Editora Saraiva. Para ser avisado a respeito do lançamento e receber conteúdo exclusivo, você pode se cadastrar no rodapé do site do autor.

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A oferta de cartão de crédito é imensa. Tem de todas as cores e preços. Para as operadoras, é sempre interessante ter a maior quantidade possível de dinheiro trafegando nas suas redes. Por isso, elas oferecem benefícios, para nos convencer de que o cartão disponibilizado é, de fato, o melhor. Tem operadora que oferece desconto no seguro do carro, tem operadora que oferece eletrodoméstico, seguro-incêndio, seguro-acidente, dentre várias outras pequenos mimos. Nenhum deles nos seduz tanto quanto a possibilidade de acumular milhas.

É bem justificável, na verdade. Eu conheço gente que não quer ganhar um liquidificador ou uma batedeira, conheço gente que não tem carro (logo, não precisa de seguro), mas eu conheço pouquíssimas pessoas que não gostam de viajar.

O cálculo, no geral, não é muito complicado. Basta pegar o valor gasto, converter para dólar americano e aplicar a regra fornecida pela operadora. Uma regra possível seria 1 milha para 1 dólar gasto. Sendo assim, fica fácil. Vamos considerar uma pessoa que costuma receber faturas de 1.000 reais, com o dólar a 3,50. O gasto dela, convertido para dólar, é de, aproximadamente, 286. Logo, a cada mês, ela ganha 286 milhas. Em um ano, serão 3.432 milhas acumuladas.

Á princípio, parece ótimo, afinal, são milhas que vieram de graça, mas vamos dar um passo para trás e entender o que aconteceu até agora: utilizamos o cartão de crédito durante o ano e ganhamos, por conta disso, 3.432 milhas. Pouca gente sabe, mas milhas são compráveis. No momento em que escrevo esse parágrafo, 3.432 milhas custam cerca de 240 reais. Portanto, seguindo no nosso raciocínio, a operadora de cartão de crédito nos deu 240 reais por termos utilizado o cartão durante o ano, ou seja, 20 reais por mês.

Minha crítica ao argumento "utilizo o cartão porque dá milhas!" entra exatamente aqui.

Eu arriscaria dizer que, sem esforço algum, sem mudança alguma de padrão de vida, se essa pessoa do nosso exemplo deixasse de utilizar o cartão, ele economizaria mais do que 20 por mês. Muito mais. A sensação deliciosa da ausência do freio incentiva o gasto. Todas as nossas engrenagens criadoras de necessidade e desejo recebem um empurrão. A não necessidade do acompanhamento nos coloca numa posição muito vulnerável.

De todo jeito, esse é apenas uma palpite meu, baseado na experiência que tive, na minha vida pessoal a na vida dos clientes que atendi nos últimos anos. O argumento das milhas segue válido se você tiver certeza absoluta que seus gastos serão exatamente os mesmos, utilizando ou não utilizando um cartão. Nenhuma solução, dentro da educação financeira, é bala de prata, funciona para todos, é unânime. Existem pessoas que, após brincar com o dinheiro de papel por um tempo, entendem o conceito e conseguem aplicá-lo independente do meio de pagamento. Tem gente que gosta e segue para sempre. Tem gente que não se adapta. É um exercício, uma prática, longe de ser verdade absoluta inquestionável.

Num papo de bar, daqueles que a gente esquece poucos dias depois, fiz uma aposta com dois amigos, defensores da estratégia das milhas. Apostamos que, em 6 meses sem utilizar o cartão, eles já teriam economizado o que ganharam com milhas no último ano. A aposta valia um pequeno banquete de comida japonesa. Tive a pachorra de colocar um alarme mensal no celular, para questioná-los sobre o andamento do experimento despretensioso. O primeiro economizou o valor em 2 meses, o segundo em 4 – o sashimi estava ótimo.

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publicado em 02 de Janeiro de 2017, 19:23
Eduardoamuri

Eduardo Amuri

Autor do livro Dinheiro Sem Medo. Se interessa por nossa relação com o dinheiro e busca entender como a inteligência financeira pode ser utilizada para transformar nossas vidas. Além dos projetos relacionados à finanças, cuida também da gestão dO lugar.


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