Nosso primeiro encontro foi perfeito, e então ela morreu

Depois de um primeiro encontro perfeito, ela parou de responder as mensagens e ele foi descobrir que o pior aconteceu

Beth Atkinson morreu. Foi com ela um dos melhores primeiros encontros que já tive.

Foi há muito tempo atrás, então nos conhecemos à moda antiga, no Match.com. Tomamos café no Mercury Cafe na Avenida Chicago. Nós rimos tão alto que deixamos os outros clientes envergonhados. Dava para perceber que eles estavam apenas fingindo estudar ou trabalhar, espiando por cima de seus livros e laptops para testemunhar o brilho de um primeiro encontro dando certo.

Depois disso, fomos com nossas bicicletas até um lugar de tacos e falamos sobre nossos sonhos. Ela queria se mudar para a França algum dia. Eu fiz essa coisa que às vezes faço, de olhar para alguém que acabei de conhecer e imaginar como essa pessoa será daqui a 30 anos. Onde as rugas irão se formar em torno deste sorriso? Então fomos para a minha casa e nos pegamos no sofá.

“Quando vou poder te ver de novo?” Era isso que eu gostava na Beth. A maioria das pessoas estavam muito ocupadas se protegendo para serem diretas. Beth mantinha um intenso contato visual quando falava com você. Eu invejava a harmonia que ela transmitia entre seus mundos interno e externo.

Eu estava me mudando para outro apartamento dali a alguns dias. Assim, tínhamos que esperar até depois disso.

Nós trocamos mensagens por algumas semanas, atrasando nosso segundo encontro devido a pequenos inconvenientes e agendas apertadas. Então, Beth parou de responder.

Por acaso, a colega de quarto de Beth, Julia, era barista em um café que eu frequentava. “Não vejo você faz algumas semanas, tirou férias?”, perguntei. Lutei contra a vergonha, já que Julia provavelmente sabia que eu tinha saído com a Beth e a coisa horrível que eu provavelmente tinha dito ou feito — ou qual terrível defeito de personalidade ou deformidade física eu deveria ter — para fazer Beth parar de retornar minhas mensagens.

Tirando um biscoito da jarra, pinça na mão, Julia congelou e ficou pálida como um fantasma. “Você não soube sobre Beth?”

Eu mal conhecia Beth. Mas eu a conhecia de maneiras que seus amigos mais próximos não a conheciam.

Normalmente, quando alguém que você gosta morre, você tem amigos e família em comum para prantear sua partida. Eu não tinha essa válvula de escape enquanto sofria por Beth. O funeral já havia passado. Parecia maldade tentar conversar com a Julia, já que ela estava com Beth durante o acidente de bicicleta. E seria egoísta procurar conforto com uma quase desconhecida que conhecia Beth tão profundamente, e havia vivido a tragédia tão intimamente.

Enquanto eu sentava no meu apartamento escuro com um copo de gim ao meu lado, lia no Facebook da mãe de Beth seus posts de luto. O contraste na perda era caricato. O quanto do meu pesar era por Beth, e o quanto era por mim?

Escrevi para o Match.com para avisar o que havia acontecido com a Beth. Seu perfil desapareceu em 30 minutos. Me perguntei sobre os outros caras que talvez estivessem desapontados ao ver ela desaparecer.

Quando vejo as pessoas tratando umas às outras tão casualmente, como produtos de e-commerce que elas podem customizar com um simples deslize de dedo, eu gostaria que elas aprendessem o que aprendi com Beth: sempre que fico tentado — pelo o que eu acho que quero do mundo — a esquecer a humanidade de alguém, ou a me enganar ao recuar de uma conexão verdadeira, eu me lembro dos flamejantes olhos azuis de Beth, fixados pacientemente nos meus, esperando uma resposta.

Os nomes nessa história real foram mudados.

***

Nota da tradução: esse texto foi originalmente publicado em inglês no Medium do autor e agora traduzido para o PapodeHomem com sua autorização.


publicado em 15 de Maio de 2016, 00:05
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David Kadavy

Autor do 18º livro mais vendido pela Amazon "Design for Hackers", cavalheiro, neurocientista e economista. Pode ser encontrado no Twitter, no Medium e no Site.


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