Ao longo da nossa jornada que chamamos de vida, inúmeros acontecimentos fazem com que nos debrucemos nessa pergunta: “E agora? O que eu faço?”. A resposta imediata é sempre algo entre “Que se foda, vou dar um jeito!” e “Vou desistir antes de começar e ver no que vai dar”.
Continuar uma fase (de sucesso ou insucesso) é sempre mais fácil do que dar uma guinada e recomeçar, caminho de interrogações e medos que nos trazem ansiedade, inconforto, mesmo quando o começo tem boas perspectivas.
Recomeçar passa ainda por um fator: ele pode ser programado, inusitado ou simplesmente cair de paraquedas na tua vida e aí, meu irmão, tu tens que te virar. Essa última opção é o filme de terror da escolha do que devemos fazer.
Podemos citar como exemplo um dos maiores acontecimentos na vida de um homem: o ato de ser pai.
A jornada de uma pessoa que passa a ser pai muda. Você deixa de pensar em si mesmo e começa a pensar na vida de pelo menos duas pessoas: a sua e a do seu filho. Isso traz mudanças fortes na sua família, afinal, você tem um novo integrante a ser apresentado e cuidado. Começam as despesas familiares, enxoval, cuidar da saúde do seu filho, sua alimentação, seus estudos, suas companhias, enfim, cuidados básicos que você recebeu dos seus pais e que chega a hora de você repassar para outro ser: o seu filho.
Isso tudo precisa de tempo, um ótimo plajenamento, para que as coisas não aconteçam de forma errada. Agora, imagine começar tudo isso de uma forma diferente, ou melhor, antes do tempo.
No ano de 2000, eu tinha só 17 anos de idade. Moleque, gurizão que só pensava em fliperama, comprar roupas de marca, beijar bastante (sem namorar), que apenas estudava e ainda reclamava das inúmeras responsabilidades que tinha (mal sabia eu que era feliz com aquela quantidade de deveres). De repente, toda a minha vida foi dividida com no momento em que ouvi a frase:
"Hey, eu vou ter um filho e você vai ser pai".
Conheci uma menina, uma das mais bonitas da turma daquela época e, apenas por esse início, vocês já devem saber o pensamento e o final da história: precisava sacramentar o meu território e, de tanto sacramentar, ganhei um brinde: meu filho.
Ao saber da notícia, nem entendia a grandeza daquilo. Só sabia que seria pai. Foram meses de pânico. Muitos problemas que não citarei para não causar alarde, mas lembro da minha mãe, segura, toda serena na minha frente, pegando na minha mão e fazendo a seguinte pergunta: “e agora meu filho? Que queres fazer? A escolha é tua e, o que decidires, te daremos apoio”. Eu, de tão perdido que estava, me senti confortado com o que ela fez e, de boca cheia, falei: “vou assumir!”
Link YouTube | "Luke, eu sou seu pai"
Hoje o meu guri é a minha vida.
Agora ao trabalho: o ato da vida de um homem. Com ele, você almeja suas grandes conquistas, sejam elas tangíveis ou intangíveis. É com o trabalho que você compra seus bens, seu carro, a casa, roupas etc. São coisas que que te fazem bem, que te fazem levantar e seguir em frente em alguns momentos. Pode ser também o amadurecimento, o conhecimento, a experiência, a nobreza, a cultura, o crescimento, etc. Tudo isso é absorvido durante os longos anos percorridos por meio do trabalho.
Se um temporal chegar, tudo que foi conquistado pode ser perdido, porém, a tua experiência e senioridade sempre estarão ao teu lado e tudo poderá ser conquistado novamente, com uma praticidade e técnica melhor que a anterior. Almejar sempre mais é fruto do crescimento interno. Experimentar novas coisas, novos lugares, novos ares.
No ano de 2004, ainda morando em Pelotas, já estava separado (sim, o relacionamento com a mãe do meu filho não deu certo), trabalhando como caixa de um banco privado e estava bem. O banco fechou, com isso fui demitido, as contas continuaram as mesmas da época que era bancário e comecei a me endividar. E não foi uma dívida pequena. Era dívida de gente grande e que, morando em Pelotas, não pagaria nunca mais. O melhor dos amigos, que eu chamo de pai, abraçou-se no meu problema e me ajudou durante bom tempo.
Nessa época eu tinha outro grande amigo (esse que era amigo mesmo) que já morava em Porto Alegre. Trabalhando em uma agência de publicidade como Gerente de Projetos. Sabendo da minha situação de desempregado, me convidou para aprender a profissão e disse que me ajudaria no que fosse preciso para aprendê-la e ainda cedeu espaço em sua residência. Detalhe: eu precisava aprender em um final de semana. E aprendi (o básico). Agradeço muito a ele pela oportunidade que me foi dada e a sua mulher por ter me aguentado na casa deles.
Mudar de profissão ao longo dos anos também é complicado, porém, quando necessário, pode mudar o rumo da sua vida para melhor. De vez em quando, alguns momentos te fazem seguir caminhos inimagináveis. Caminhos que você não queria seguir, mas quando enxerga-se apenas uma porta, é ela que vai ser aberta.
Além disso, você passa a ser mais exigido, afinal, é um novo mercado com novas oportunidades e a sua postura precisa ser alterada para o meio. Novas pessoas, nova cultura. O cheiro do medo começa a ser sentido com mais força. O medo de fracassar surge com mais força. O buraco possível de ser caído é muito mais fundo e a luz no final dele pouco aparece.
Pelo esforço a caminho da sobrevivência, realizei uma média de 60 projetos de sucesso e, com a bagagem adquirida, uma grande agência, abordou-me e convidou-me para trabalhar. Aceitei o desafio e um novo começo foi dado. O detalhe era que essa agência ficava em São Paulo.
E pra cá eu vim, no dia 05 de Janeiro de 2009. Tinha nas mãos uma mala, um celular com DDD 53 sem crédito e alguns trocados na carteira. Fui parar em um loft, sem ninguém, que parecia desabitado. Me apresentei, peguei a chave na portaria e subi. Mais tarde, ainda no mesmo dia, estava prevista a chegada do cara que já morava lá e que aceitou dividir o apartamento durante 1 ano. O nome dele era Guilherme Nascimento Valadares.
Muitos acontecimentos fazem com que a vontade de desistir passe na cabeça de um homem, como ser pai, perder um emprego, mudar de cidade, perder algo já conquistado, começar algo novo. O medo de não dar certo, o medo da frustração devem seguir sempre ao lado de uma pessoa, para encorajá-la e não para obstruí-la. Começar algo achando que vai ser fácil pode acabar fazendo a pessoa desmoronar, por confiança demais. Unir confiança com medo é sempre o melhor remédio.
Planejar, lutar e agarrar as oportunidades com unhas e dentes. Amedrontar-se com os obstáculos, mas nunca fugir e dar as costas. Dar importância para a tua jornada. Quanto maior o planejamento e iniciativa em ativá-lo, melhor será o resultado da tua vitória. E caso não aconteça à vitória almejada, não se importe. Pelo menos ela serviu para adquirir a senioridade para da próxima vez, alcançá-la. Este é o segredo de tudo.
Hoje, diferente do rapaz citado no ano 2000, posso dizer com convicção: nunca desista de um novo começo.
publicado em 18 de Dezembro de 2011, 06:08