O homem feminino existe e ele não é nada mariquinha

Muitas vezes li e ouvi falar sobre o homem ideal. "Elas gostam dos canalhas musculosos bonitões", todos dizem. Estou aqui para colocar abaixo qualquer blasfêmia e qualquer equívoco. Existe um tipo de homem simplesmente feminino, no que pode haver de mais proveitoso nisso. Esse, sim, o mais macho de todos os espécimes XY. Da humanidade inteira.

Ele é esguio, veem-se alguns ossos elegantes, cabelos desgrenhados. Ele tem barriga, gordurinhas (ou banhas), uma careca simpática, cabelos brancos, talvez muito penteado. Algum sinal de barba no rosto, pode ser farta, pode se apresentar imberbe. Sabe que não é isso o que importa.

Sensibilidade pura, exala pelos poros. Ele se senta com as pernas cruzadas, sem medo de cobrança por macheza (arreganhe esses membros inferiores e mostre a sensação que existe entre eles!, tais disparates não o intimidam). Tem mãos leves, brutas na hora certa, porém.

Ele gosta de ler e de brincar de filosofia cotidiana, ainda que não seja intelectual. Curte palavras e gestos. Não se atém a jogos de sedução, se entrega semiaberto. É tão lindo, até quando impotente, vez ou outra, porque está tão cheio de tesão que não sabe por onde resvalar. E se constrange sem disfarce, sem explicações universais, pronto para a próxima. Disponível e disposto às tentativas.

Ele conversa, acarinha madeixas, ao mesmo tempo faz sexo selvagem, chora quando emocionado. Não se interessa pela opinião do clube dos pequenos garanhões. Pode cometer desejo por mulheres do entorno, porque ciente do quão naturais são os impactos de hormônios, mas sabe valorizar bons momentos, complexos sentimentos. Ainda que cultive músculos, exercita a mente e o coração. Paga a conta, porém também aceita de bom grado dividir, sem insistências por afirmação do ethos provedor, e sem se achar menos quando partilha moedas com a moça. É seguro do que quer, todavia não disfarça o medo nem a dúvida, quando há. Sabe conversar, mesmo que em falas atravessadas pelo obscuro desconhecido comum a todos, homens e mulheres.

É físico, delirante, passional, frágil, forte, acolhedor. Honesto à necessidade do não. Não joga sujo. Não articula traquinagens estúpidas e fundamentadas em mau caratismo de autoafirmação. Faz besteira e assume, sem desculpas ou pretextos, para não correr o risco de repetir a merda. Não é nenhum príncipe, mas se mostra encantado na modéstia simples de ser.

Não se trata de fabricação do protótipo ideal. Esse homem existe, em muitas versões, todas tão interessantes e valiosas. Já topei com alguns por aí, olhem ao redor! Não percam tempo com as fabricações da mente, meras projeções, nem as suas, nem as dos bobinhos semostrantes.

Esses, na verdade, não têm nada a revelar.

Mergulhemos nos fabulosos mistérios de um verdadeiro homem. Garanto, a experiência é maravilhosa e digna de memoráveis registros. Diante deles, canastrões se apagam rapidamente, na invalidez do que não se vive de fato. Homem feminino, seu macho, eu te quero e te recomendo à mulher que busca o legítimo gozo.


publicado em 27 de Junho de 2012, 09:30
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Carolina Alves

Carolina Assunção e Alves é jornalista, com dez anos de experiência em telejornais, professora universitária em Brasília. Mestre e doutora em Análise do Discurso pela UFMG com estágio doutoral de um ano na França, estuda as sutilezas discursivas do cinema de ficção. Conta histórias de homens, mulheres, encontros e desencontros no blog C'est n'importe quoi!, a partir de imagens de filmes e imaginações.


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