O mundo dos tímidos

Você encontra, olha, reflete sobre os pássaros, o mundo e o esquema de dois volantes fixos do Mano Menezes. Mas não faz nada. Ela se vai. Junto, leva toda a esperança de construção do tão discutido amor à primeira vista.

Você é um frouxo. Um frouxo tímido. Sorte a sua.

Não importa de quem se trata. Do capitão do time de basquete da escola de filme americano ao pro-blogger carioca que se acha tão esperto quanto o Dr. House. Até onde vai sua coragem? O pronunciado linguístico capaz de transmitir um desejo, seja ele real ou apenas um reflexo do seu estado alcoólico, é uma prática antiquíssima que separa os homens espontâneos dos homens tímidos.

Sim, estamos falando da cantada. A chegada. O puxar papo. O ato de esquecer tudo que há em volta e expor-se ao ridículo da negativa ou glória da reciprocidade. A linha tênue entra a fantasia realizada e desespero de um amor perdido pela impaciência e... medo. Ah, o medo. Medo? Cantada é sinônimo de fraqueza. Pelo menos algumas.

Não existe uma cantada perfeita. Os que discutem e listam cantadas infalíveis são os mesmos Dons Juan do futuro do pretérito condicional. Ou seja, aqueles sujeitos que dizem o que fariam e nada fazem. Apoiam-se nesses poucos segundos de fraqueza transformada em motivação, sabe-se lá por que, para agir. Agem de maneira errada, sem entender que, antes de atingir incauta, é preciso conhecê-la. Ou no mínimo provar que existe. O sonho nos motiva, posiciona e, principalmente, influencia no momento certo de abrir a boca.

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Eu não tenho nada contra as cantadas. Muito pelo contrário. São as pequenas cantadas que formam a maior de todas as declarações. Mas os tempos são outros. Graças à Internet e seus derivados, os interneteiros, é possível transformar um simples lance ou gesto em algo sério. Portanto, observem como a possibilidade de ser notado é essencial, mesmo sem precisar se expor. Assim como, para evitar um erro, a insegurança e falta de saber o que falar não deve sobressair.

Qual é o momento certo para falar é algo que nunca saberemos - mas sim, sentiremos? Essa fase de reconhecimento não tem um prazo de atuação. Por mais que isso seja frustrante, não há uma validade ou cronograma exato de ações que farão as coisas terem alguns sentidos. Apenas surge, acontece e passa. E pedem oportunidades. Muitas vezes um cara legal é um cara legal que não teve como alcançar a sua atenção.

Basta uma chance.

Basta observar.

O mundo é dos tímidos. Parte deles representa a inocência de uma conquista. A outra, traduzida na oportunidade de não deixar um olhar morrer, acredite, será a recompensa de um lance correspondido.


publicado em 28 de Fevereiro de 2012, 10:01
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Fred Fagundes

Fred Fagundes é gremista, gaúcho e bagual reprodutor. Já foi office boy, operador de CPD e diagramador de jornal. Considera futebol cultura. É maragato, jornalista e dono das melhores vagas em estacionamentos. Autor do "Top10Basf". Twitter: @fagundes.


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