O que manchetes sobre o divórcio de Angelina e Brad Pitt dizem sobre a 'cultura dos tablóides'

Não seria muito melhor ver um jornalismo humano, acolhedor, real, ao invés de um sanguinário e histérico?

Fim de Brangelina. The end of Hollywood power couple. Mr. & Mrs. Smith, it's over. Fim trágico para o casal mais ativista do globo. Divórcio do ano: Brad e Angelina se separam. Após o divórcio entre William Bonner e Fátima Bernardes, um novo casal famoso prova que o amor está morrendo em 2016.

São algumas das manchetes que vi por aí, sobre a separação que causou furor na web hoje.

Identidades, apego, bolha coletiva. Ser famoso não blinda ninguém de nada, a gente sabe disso. Dificuldades seguem, confusões seguem, desequilíbrios ligados a gênero seguem, incoerência, prisões, violência doméstica, dificuldades com os filhos, conflitos, tristezas, e por aí vai. A impermanência das coisas e o fim das relações também. E está tudo bem.

Seria incrível, nessas horas, ver um jornalismo humano, acolhedor, real, ao invés de um sanguinário e histérico, que reforça sofrimento ao invés de ajudar as pessoas a crescerem, que nos incentiva a julgar e fazer piada ao invés de enxergar questões compartilhadas e caminhos para elas.

Ao contrário, a cultura dos tablóides reforça o que tem de pior nas coisas. De assalto a mão armada no metrô até divórcio de famosos, nada fica a salvo da visão estreita e superficial da mídia tradicional.

As notícias são narradas de forma sensacionalista, com exagero, pessimismo, fatalismo - quando não envolvem mentiras. Os discursos são inflamados e simplistas. Os títulos dos textos puxam cliques desenfreados. Depois de ler, a gente sai com um amargo na boca e uma sensação de preto no branco, maniqueísmo. Dá vontade de culpar alguém, apontar dedo, fazer fofoca.

E os tablóides só são um exemplo fácil desse jornalismo que não olha de fato para as pessoas e que informa com viéses. Um jornalismo que não é tão imparcial quanto se diz e que tem, na verdade, rabo preso e está trabalhando a favor de sistemas, não dos indivíduos ou de visões benéficas e amplas.

Um jornalismo que falha absurdamente com um papel bem importante, o de educar, mover, mobilizar, desatar nós sociais. Construir nova cultura, em um sentido público, de bem comum.

Daí, fica a pergunta: para que o jornalismo está olhando? A quem está servindo? Qual é a função dele?

Precisamos falar sobre isso. Esse jornalismo que está posto aí já está morto, e precisa urgentemente ser reinventado.

Nota do editor: esse texto foi originalmente publicado no Huffington Post e trazido pra cá por nós, sob autorização da autora. Achamos que o artigo se conecta com o percurso que estamos construindo sobre jornalismo compassivo e de soluções. Para conhecer mais sobre o que viemos falando sobre o assunto, é só clicar aqui.


publicado em 23 de Setembro de 2016, 15:06
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Anna Haddad

Acredita no poder de articulação das pessoas e numa educação livre e desestruturada. Entrou em crise com o mundo dos diplomas e fundou a plataforma de aprendizagem colaborativa Cinese. Tá por aí, nas ruas e nas redes.


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