O Sherlock das calcinhas

Um deteivo moderno. Inusitado. E sacana.

“Sherlock Holmes descreve-se como um ‘detetive consultor’, o que significa que as pessoas vêm-lhe pedir conselhos sobre os seus problemas, ao invés dele se dirigir a elas”. Neste conto, Lúcio mostra-se como um detetive consultor das donas das calcinhas, o que significa que a mulherada, após descobrir o seu dom, vêm-lhe pedir conselhos e “consolos” (no duplo sentido da palavra)...

cachimbo
Um jovem caçador se prepara

Ao acender seu cachimbo, 15 minutos antes de ir para a “night”, Lúcio se sentia um Sherlock Holmes à moda presente. Mas não tanto quanto perante uma calcinha, na qual podia ver e sentir a personalidade da sortuda, segundo ele.

Tratou de colocar seu desodorante e deixar o elevador do prédio onde mora em Irajá, bairro boêmio no subúrbio do Rio de Janeiro, infestado... por testosterona. Rumo ao Parada da Lapa, lugar miscelânico de pequenos shows e chopperia, que oferece a vista mais privilegiada da Lapa, ele já imaginava os tipos de calcinhas que estariam sendo cobertas por calças justas e mini-saias. Sua preferência era pelas de algodão e fio-dental, o que significava uma mulher básica para os demais e safada nos momentos "hot”.

Mas Lúcio não hesitaria se fosse presenteado pelo vento levantando uma saia e revelando pura renda... mulher ousada e quase transparente (afinal, a renda tenta mostrar sem revelar). “Hummm! Tomara que eu consiga traçar a Marcinha da calça de rendinha, e mais além a Keka que usa calcinha tipo cueca”. Essa calcinha tipo cueca ou shortinho, em algumas vezes, traz a dor e a delícia de papar uma ninfeta virgem (entende-se que a dor é só para ela), conforme os delírios da lógica dedutiva do “Sherlock das calcinhas”.

Chegando a tal parada, avistou Dunga, parceiro do vôlei na praia, amigo e taradão. “Marcinha virá?”, perguntou. “Marcinha não, meu chapa”, resposta obtida. “Vamos além?”, interrogou ousando. E ousando mais ainda foram parar numa casa de swing no Jardim Botânico.

O letreiro piscava “Club EleEla” ao mesmo tempo que os dois paus endureciam na porta de entrada. Assim como o famoso detetive, Lúcio era viciado em violino e pó. Foram pro banheiro e saíram fungando, preparados. Quanta gente se roçando na pista, quanta gente se comendo nos quartos abertos, quantas gatas aptas a trocar de parceiros... e, Luana, morena tipo mingnon. Disse ter ido com o namorado que havia se transformado em ex há 20 minutos. Brigaram feio, pois ela queria trocar de parceiro (o que não tinha sido combinado pelo casal antes de sair de casa). Azar do ex e comida certa do neo-Sherlock.

Porém, Luana não estava só. Havia Cacauzinha, sua “amiga loira e inseparável”, que Dunga chegou a se beliscar para atestar de que aquela mulher era real. Naquele clima pouco claro, meio surreal e muito excitante, os quatro decidiram se conhecer melhor, literalmente, os quatro! Tiveram que esquecer a palavra egoísmo e usufruir da frase “o que é meu é teu”. E, lá estava Luana com o Sherlock carioca; Luana com Dunga (amigão e taradão); Luana com Cacau; Cacau com Dunga e etc, etc e tal!

Calcinha pequenininha, amarelinha com estrelinhas azuis... Cacauzinha era desinibida e sonhadora, logo constatou Lúcio. Mas, por incrível que pareça, a sua musa Luana não estava usando calcinha. E agora? Como saber do que Luana gosta? Sobre o que ela pensa e o que ela deseja?

O nosso Sherlock ficou em dúvida. A agonia era tamanha que até deixou de lado a tara por enfiar seu instrumento na bundinha de Cacau. Ele queria desvendar o mistério de Luana... queria conhecê-la a fundo, onde só enfiar o seu dedo, e seu pau e sua língua não bastariam.

Sem mais nem menos, abandonou seu amigão e sua nova amiguinha loira. Levou Luana para seu apartamento, onde na estante de seu quarto constava o conjunto de livros do personagem S. Holmes chamado, Cânone Sherlockiano.

sherlock
Hmmm, há algo de pitoresco nessa estante...

A morena, tipo mingnon, pediu a ele que alcançasse um dos exemplares. Fixou seus olhos amendoados na figura do detetive na capa e perguntou se podia levar para ler, “Claro” foi a resposta de Lúcio, sem pestanejar.

O finalzinho daquela noite e início da manhã em Irajá teve cheiro de cachimbo, perfume doce e sexo. Teve gosto de pele, saliva e mistério. Sherlock não sabia se veria outra vez sua musa. Mas sua musa sabia que o veria novamente e sentiu isso ao colocar o livro debaixo do braço e pegar o elevador com um aroma, agora pra ela, peculiar. Não trocaram telefones... preferiram a troca de olhares na despedida.

Dias depois, Lúcio recebe uma caixa por Sedex.

Remetente: Luana.

Material contido: uma calcinha com transfix tal qual a ilustração da capa do livro que emprestou.

Aquele foi o recado de sua musa, esclarecendo-o (mais ou menos assim): “Não pudesses me desvendar, mas só quero que saibas que, naquela noite, fui sua”. Resumo da ópera, vai-se o livro, fica a calcinha...


publicado em 01 de Outubro de 2008, 22:29
Fe5e57fd9026009e3903f753d4ebf2ca?s=130

Clarisse Colombo

Jornalista. Geralmente escreve por insights noturnos e jura que seus contos são totalmente fictícios.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura