Olimpianos - Eric Moussambani

Antes, uma rápida explicação. Olimpíada não é festa da uva. Tem critério pra entrar. No caso da natação, você tem que ter obtido um determinado tempo em competições oficiais pra se classificar.

Mas, em nome do espírito olímpico, a organização dos Jogos costuma convidar alguns atletas que não se classificaram pra participar também, provando que as Olimpíadas, afinal, têm um quê de festa da uva sim.

“Eric a Enguia”,

como ele foi apelidado, foi um desses atletas. Sabe-se lá por que, a organização em Sydney achou que seria legal convidar um sujeito que tinha aprendido a nadar apenas 8 meses antes dos Jogos e que vinha de um país que sequer tinha uma piscina olímpica. Não quero desrespeitar o glorioso nome da República da Guiné Equatorial, mas sejamos sensatos.

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A prova que Eric ia nadar eram os 100 metros estilo livre. Sua bateria era composta por três atletas, mas, por uma coincidência fenomenal, os dois outros queimaram a largada e foram desclassificados. Eric então ganhou a chance de uma vida: ter a piscina oficial de uma Olimpíada só pra ele. É claro que ele ia degustar o momento com toda a calma do mundo, de modo que passou 1min52s na água. Só para comparar, o recorde mundial da prova de 200 metros (isso é o dobro) na época era de 1min45s. O orgulho da pátria.

Veja o vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=A0zGrtOKtZc





Pouca gente sabe, mas nas provas de estilo livre da natação o atleta não precisa necessariamente nadar o horrendamente aportuguesado “crau”. Qualquer forma de movimentar o seu corpo na água que não seja peito, borboleta ou costas pode ser usada. É claro que o “crau” (urgh) é o comum pela razão de que é mais rápido. Mas Eric não ligava para essas bobagens de “ser mais eficiente em uma competição”. Provido de uma sunguinha azul, ele pulou na água e até se esforçou na primeira metade da prova, sacudindo pernas e braços como se sua vida dependesse disso (em certos momentos ele parecia estar se afogando, então meio que dependia sim).

Ao virar para os 50 metros finais (fazendo questão de uma atrapalhada cambalhota, diga-se de passagem), Eric resolveu mudar de estratégia, confundindo os apreensivos adversários que o assitiam: passou a nadar cachorrinho, e com uma maestria invejável.

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Depois de estrebuchar mais uns metros e sair da piscina exausto, Eric virou celebridade e chamou a atenção do mundo para o poderoso time de natação da Guiné Equatorial. A outra atleta da equipe, Paula Barila Bolopa, reforçou este ponto cravando assombrosos 1min3s nos 50 metros livres, simplesmente o pior tempo da prova em Olimpíadas.

Mas a parte mais impressionante da história vem depois. Em uma conferência no fim do dia, os juízes resolveram dar a Eric um lugar na final dos 100 metros como recompensa pelo esforço, e não é que o safado se revelou um nadador de primeira qualidade que estava só escondendo o jogo? Ganhou a medalha de ouro e riu por último!

É claro que isso é mentira. Mas o fato é que, nos anos subseqüentes, Eric continuou na natação e melhorou sua marca em quase um minuto, provando a todos que o nado cachorrinho é uma força a ser reconhecida.

Se bem que isso também teve seu lado negativo, uma vez que nadar mais ou menos bem tirou todas as chances que ele tinha de ser chamado para ser a atração de outra Olimpíada. Agora ele tem que sofrer a injustiça de competir contra outras pessoas pela vaga.


publicado em 19 de Agosto de 2008, 21:15
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Guilherme Oliveira

Guilherme Oliveira é um zé-ninguém que assina qualquer coisa como "Grato, Guilherme" por algum motivo desimportante. Quando não está cometendo textos e outras delinquências menores, passa seu tempo convivendo com pessoas que são educadas demais para saírem de fininho.


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