Pague primeiro a si mesmo

Você certamente já leu ou ouviu falar isso diversas vezes: pague primeiro a si mesmo é o mantra da educação financeira. Não há um livro que não cite isto como a primeira ação a tomar para assumir o controle financeiro de sua vida ou mesmo como a atitude necessária para enriquecer. E mesmo assim, você não segue essa regra essencial. Ou acha que segue, sem saber que está fazendo algo errado.

O que NÃO É pagar a si mesmo primeiro


  • Juntar dinheiro para trocar de carro não é pagar a si mesmo primeiro;

  • Comprar um notebook não é pagar a si mesmo primeiro;

  • Separar uma parte do que ganha todo mês e guardar debaixo do colchão não é pagar a si mesmo primeiro;

  • Comprar aquela bolsa maravilhosa a vista não é pagar a si mesmo primeiro;

  • Dar-se qualquer coisa de presente, antes de pagar suas contas não é pagar a si mesmo primeiro...

Fui claro?

O que É pagar a si mesmo primeiro

Pagar primeiro a si mesmo é simples, mas para ser efetivo tem que ser automático, um hábito, algo que nunca deixe de ser feito. Pagar primeiro a si mesmo é o ato de separar uma parte pré-determinada de tudo o que você ganha e fazer esse dinheiro trabalhar para você.

Vamos analisar esta definição de maneira mais profunda.

Separar uma parte pré-determinada significa que você mesmo define quanto do que ganhar será separado. Uma definição comum costuma ser separar 10% do que você ganha. Se você ganhar realmente muito pouco talvez seja necssário começar separando um pouco menos, 5% ou até mesmo 3% e aos poucos ir aumentando este percentual. Mas para a grande maioria das pessoas, 10% é um bom valor, então vamos fixar isso como nosso objetivo.

De tudo o que você ganha já diz tudo. Tudo é realmente tudo. Salário, bônus, bicos, 13º, férias, trabalho autônomo, consultoria nas horas vagas, publicidade em seu blog, tudo. Sobre o ganho bruto, antes de descontar taxas e impostos. Antes de descontar INSS e vale transporte, para quem recebe salário.

E fazer esse dinheiro trabalhar para você simplesmente descarta a possibilidade de gastar esse dinheiro em qualquer coisa que não traga rendimentos para fazê-lo crescer. Trocar de carro não pode. Comprar um novo telefone celular? Fala sério! Enquanto esse valor é baixo, no início, simplesmente joga o dinheiro em uma caderneta de poupança. Quando for um pouco maior, um fundo de renda fixa ajuda a ganhar um pouco mais. Outras aplicações que rendem mais? Esquece. Não é para este dinheiro. Não neste momento, pelo menos.

Quem nunca quis uma dessas? Então presta atenção no artigo, Dr. Money te mostra o caminho.
Quem nunca quis uma dessas? Então presta atenção no artigo, Dr. Money te mostra o caminho.

Tomar conta do seu dinheiro é um processo vital

Seu dinheiro e sua habilidade em fazê-lo crescer são como um bebê. No início, tudo parece difícil. Levantar a cabecinha, engatinhar, falar as primeiras palavras. Tudo é novidade. O bebê vê os adultos caminhando e tenta imitar, caindo diversas vezes antes de conseguir andar sozinho.

Com seu dinheiro é a mesma coisa, com uma sutil diferença. Você pode fazer seu dinheiro aprender a caminhar sem deixar ele se machucar ou correr grandes riscos. Você pode treinar com valores menores, valores extras, além daqueles 10% que definimos para pagar a si mesmo. Seria como ensinar seu bebê a andar sem que ele corresse o risco de cair, mostrando a ele um boneco caindo no seu lugar.

Vamos imaginar que ao longo de dois anos você tenha juntado R$ 5000 na caderneta de poupança. O valor não interessa, o prazo sim. O valor depende da capacidade de ganhar dinheiro de cada pessoa, isso é assunto para outra hora. Já o tempo, é algo necessário para o aprendizado, para a observação.

Continuando nosso exercício, imagine que você começou a pagar a si mesmo no mês em que receberia o 13º salário. Separou os 10% para colocar na poupança e com o restante, que decidiu não gastar, dividiu para aplicar em dois fundos, um de renda fixa pré-fixada e um DI pós-fixado. Você ouviu falar que ambos eram seguros e que renderiam mais do que a poupança e resolveu aprender sobre ambos na prática. Aquele 13º salário foi bem utilizado.

Ao longo dos meses seguintes você continuou separando 10% de tudo o que ganhava para colocar na poupança. Mas acompanhava mensalmente suas duas outras aplicações e eventualmente lia um ou outro artigo que explicavam uma dessas aplicações. Nestes dois anos você aprendeu na teoria (lendo os artigos) e na prática (através de seus investimentos) que os fundos pré-fixados tendem a render mais quando os juros estão caindo. E que os fundos pós-fixados tendem a render mais quando os juros sobem. Mais que isso, você aprendeu que o risco de perda em um destes fundos é extremamente baixo, é o risco do próprio país quebrar, já que estes fundos investem principalmente em títulos do governo. E aprendeu na prática que esses fundos rendem mais que a poupança. Você aprendeu. Sabe o que faz. Viveu o processo. E transfere todo o dinheiro da poupança para um destes fundos, o que deve render mais de acordo com a tendência da taxa de juros ou o que for mais adequado aos seus objetivos. Como no caso você pensa no longo prazo, esse dinheiro está lá para render para seu futuro, você opta pelo fundo DI. Seu dinheiro está trabalhando para você. E está trabalhando melhor do que quando estava na poupança.

O aprendizado é continuo, aprendemos todos os dias

Certo dia você ouve falar no Tesouro Direto. Vai no site, pesquisa artigos e descobre que você pode comprar diretamente os títulos do governo que seu fundo de investimentos adquire com suas aplicações. E melhor, pode fazer isso sem precisar pagar a taxa de administração que o banco cobra para gerenciar sua aplicação.

Você nota que há um pequeno inconveniente, você não pode dispor de seu dinheiro sempre que quiser. O governo garante a recompra dos títulos mas somente as quartas-feiras. Você pensa um pouco e decide que está tudo bem, já que este é o dinheiro que trabalha para você. Não há ainda previsão de quando você irá utilizar ele. E então, na nova aplicação, seu dinheiro trabalha melhor, rende mais, paga menos taxas, cresce mais rápido.

Amigos, TV, jornais, até o taxista...

Nada contra os taxistas, muito pelo contrário, em um artigo futuro vou mostrar como é muito mais barato andar de táxi com regularidade do que possuir um carro. Mas há um ditado que diz que quando até os taxistas estão falando de determinado investimento, é hora de tirar seu dinheiro de lá.

Meados de outubro de 2008, nosso amigo taxista achava uma boa idéia investir na bolsa.
Meados de outubro de 2008, nosso amigo taxista achava uma boa idéia investir na bolsa.

Você fica curioso com a aplicação em ações e resolve aprender como funciona. É complicado, muitos termos novos, análise gráfica, análise fundamentalista, dividendos, opções, suporte, resistência, operações a termo, ...

Resolve aplicar na prática enquanto aprende, lendo mais sobre o assunto. Escolhe um fundo de ações recomendado por seu gerente do banco, até porque não sabe ainda como adquirir diretamente as ações individuais de cada empresa, e mesmo que soubesse, não saberia quais escolher.

Claro que o valor investido é baixo, afinal, você ainda está aprendendo. E é um valor que sobrou este mês, nada de sua aplicação no Tesouro Direto foi tocada.

No primeiro mês seu dinheiro rende 8%. Muitas vezes mais que o Tesouro Direto. Mas você não faz idéia dos motivos de ter conseguido este rendimento excepcional, então não pode chamar isso de investimento, mas sim, de sorte. Os meses passam, seus investimentos crescem. Então passam alguns meses e você descobre que tem menos do que havia investido originalmente, muitos meses antes. O que aconteceu? Você se descuidou. Deixou de acompanhar seu investimento quando tudo ia bem. Quando o valor das ações começou a cair você não deu atenção, achou que era temporário, apenas um mês ruim. Mas você ainda não sabia como este investimento funcionava, então passou a jogar. Você achava que iria ter um resultado, mas não sabia o porquê, era apenas "achar". As quedas continuaram e você alí, vendo seu dinheiro minguar. Então assumiu o prejuízo e tirou o dinheiro do fundo de ações. Dois meses depois calculava que se tivesse deixado seu dinheiro aplicado, teria o dobro do que conseguiu recuperar ao tirar seu dinheiro antecipadamente.

Analisando o que fez, descobriu que não estava investindo. Estava, isto sim, em um grande casino a céu aberto. Não sabia o que estava fazendo, não sabia onde seu dinheiro estava investido, não conhecia nem as empresas nem os setores onde elas atuam. Jogo, puro e simples jogo. Bem diferente de investir, quando você protege o valor principal, pode calcular os riscos de perda e estimar quanto irá ganhar.

Onde está o perigo?

Então investir na bolsa é um jogo perigoso onde posso perder todo meu dinheiro? NÃO, não é isto que estou dizendo. O que é um jogo perigoso onde você pode perder todo o seu dinheiro é investir no que você ainda não conhece.

Imagine que você seja um engenheiro que trabalha há vinte anos projetando e construindo prédios residenciais em São Paulo. Um dia você recebe um panfleto na sinaleira falando do lançamento de um novo prédio na região onde você já acompanhou a venda de outros tantos prédios semelhantes. Investir neste lançamento, comprando um apartamento na planta para vender quando o prédio estiver concluído é um bom investimento ou não? Se eu fosse tal engenheiro, saberia a resposta e poderia investir nisto com segurança, ou dizer que o investimento é ruim, sabendo porque. Minha experiência, meu conhecimento da região, me dariam subsídios para decidir se é ou não um bom investimento. Como sou de Porto Alegre e só conheço São Paulo a passeio ou a trabalho, mas não como investidor imobiliário, não tenho os conhecimentos necessários para tomar uma decisão segura.

Isso não quer dizer que não podemos investir no que ainda não conhecemos, apenas que precisamos fazer o dever de casa e aprender o que precisamos saber para tomar a melhor decisão. No caso acima, bastaria pesquisar os prédios semelhantes construídos nos anos anteriores, ver o valor de lançamento deles e analisar os valores de venda após a conclusão, verificando se a lucratividade obtida foi alta o suficiente para valer os riscos.

Conhecer os resultados reais de outras pessoas, de nossos amigos, também nos permite analisar um investimento como se estivessemos dentro dele. Toda minha empresa de investimento em consórcios está baseada nisso. Só vendo cartas de consórcio para investimento hoje em dia, porque tenho sete anos de histórico de lucros pessoais neste investimento. Quem adquire hoje um consórcio comigo, o faz porque conhece meus resultados pessoais e também os resultados de dezenas de clientes e amigos que resolveram compartilhar suas experiências. A grande maioria dos novos investidores em consórcios comigo faz isso por indicação de algum amigo que já lucrou na prática e mostrou a eles seus resultados pessoais.

"Não levei o Dr. Money a sério. Hoje tudo que tenho é esse chapéu feio..."
"Não levei o Dr. Money a sério. Hoje tudo que tenho é esse chapéu feio..."

Resumindo o que aprendemos até agora:


  • Pague primeiro a si mesmo, fazendo seu dinheiro trabalhar para você.

  • Tomar conta de seu dinheiro é um processo que dura toda a vida.

  • Não podemos seguir cegamente as multidões. Precisamos assumir nossa tarefa de aprender o que fazer com nosso dinheiro.

No próximo artigo vou comentar sobre motivos nobres que insistem em nos separar do dinheirinho que suamos para guardar e como nos proteger disso.

Aproveitem os comentários para contar se vocês pagam a si mesmos primeiro, que percentual separam, como investem esse dinheiro para fazer ele crescer, porque fazem dessa forma e que resultados estão obtendo.

Grande abraço, sucesso e muitos rendimentos.


publicado em 06 de Fevereiro de 2009, 22:01
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Fabricio Stefani Peruzzo

Fabricio Stefani Peruzzo é empresário e investidor. Financeiramente independente desde os 35 anos, ajuda as pessoas na trilha da independência financeira e construção de patrimônio. Saiba mais em http://www.peruzzo.org e http://www.investimentoemimovel.com.br


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