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Síndrome de "eu aguento tudo"

Quando a vontade de ajudar atrapalha

Contadores sociais visíveis somente quando o artigo é publicado.

—Ei, você poderia me dar uma mão nesse problema, cara?

—Manda, eu te ajudo!

Esse diálogo seria um gesto de generosidade espontânea se não fosse um detalhe. Essa pessoa já fez isso diversas vezes na vida, em variadas situações com muitas pessoas e o resultado foi o mesmo: não conseguiu dar conta de suas promessas.

Esse tipo de padrão de comportamento, bem destrutivo, é superestimado na nossa cultura de super-produtividade, o famoso "pode deixar comigo, eu resolvo".

Quem manifesta essa postura raramente consegue avaliar a complexidade daquilo que está assumindo. E o comportamento tende a se repetir, pois existe um reforço positivo gigantesco em relação às pessoas que tomam uma causa para si mesmas e se dispõem a resolver o que ninguém mais resolve.

Não raro, essas pessoas estão envolvidas em alguma atividade de ajuda, na área da saúde, algum tipo de prestação de serviço de socorro ou trabalho voluntário.

Já existe até um diagnóstico para esse tipo de situação.

Burnout da compaixão

Esse quadro que, para alguns críticos, pode cair na patologização da vida, tem características típicas:

  • Esgotamento físico e emocional;
  • Irritabilidade;
  • Mudanças de humor;
  • Problemas de concentração e memória;
  • Baixa autoestima;
  • Ansiedade;
  • Depressão.

Existe um quadro subclínico – que não chega a apresentar todas essas características – presente em muitas pessoas que sequer imaginam que precisam de ajuda. Elas ficam anos emocionalmente exaustas por um motivo simples, acham que ajudar os outros é mais importante do que serem ajudadas.

São verdadeiros missionários urbanos que se dispõe a fazer tudo, mesmo o que estiver além dos seus limites, para conquistar a estima das outras pessoas. "É para ajudar genuinamente os outros, Fred, não tem segundas intenções". Claro, nesse caso então estaria tudo bem, mas não está.

Homens e mulheres embarcam nesse tipo de postura com um certo orgulho pessoal, como se fosse uma grande virtude lidar com qualquer tipo de problema, mesmo que para isso fosse necessário se sobrecarregar.

"Eu dou conta", mas não dá

Na prática, você observa uma pessoa cheia de boa vontade, mas que não consegue orquestrar efetivamente a pilha de tarefas que fica incumbida e falha miseravelmente na sua jornada. Depois, ela se culpa, veste a capa do super-herói e entra no ciclo novamente.

Quanto mais negligencia sua vida prática, inconscientemente, sente que merece menos o cuidado dos outros. Quanto menos der atenção para si, mais carente fica de ajudar os outros para se sentir importante. Isso é um poço emocional sem fundo.

Dívidas, baixa de libido e mentiras

Para sustentar o ciclo de "superação" constante, é bem comum que essa sobrecarga se converta em sintomas indiretos. As dívidas surgem por conta de uma desorganização financeira decorrente de tentar fazer tudo o que se propõe a fazer pelos outros, mesmo que não consiga pagar ou sustentar.

Lembro de uma mulher que tinha um excelente salário, mas que estava sempre devendo para ajudar o irmão, visto por ela como irresponsável e problemático. Ele já tinha sujado o nome dela, estourado os pontos na carteira de motorista e criado muitas situações embaraçosas no casamento dela por conta de bebida.

A perda de libido também é uma característica bem comum, nos homens isso surge como impotência ou instabilidade na ereção. Como a pessoa sobrecarregada nunca olha para suas emoções, não percebe quando está triste, com raiva ou medo de algum acontecimento da vida. No sexo, o corpo não responde a uma mente cronicamente fatigada, a pessoa nem percebe qual seria a causa. É comum que acabe tentando algo mais impessoal ou regado a álcool, para diluir a pressão interna.

Além disso, para driblar suas insuficiências mascaradas de supereficiência as mentiras são bem comuns. Como ela é uma pessoa "do bem", as mentiras são toleradas como parte do projeto missionário de agradar a todos o máximo possível. Infelizmente, o teletransporte e a clonagem humana não foram inventadas e não é possível estar em vários lugares ao mesmo tempo. Daí as histórias contadas para apaziguar as inúmeras faltas súbitas em compromissos sociais.

Se perguntar para os amigos, eles serão unânimes em afirmar que o fulano é ótimo, mas que está sempre ocupado e com uma vida maluca. No íntimo, quem acha que agüenta tudo parece viver sob o peso da culpa constante e numa dívida eterna com relação à tudo, essa é sua auto-punição. Não sente que merece tanta gratidão dos outros se não pôde salvar o planeta Terra.

Se a pessoa que acha que aguenta tudo pudesse apenas parar e ter mais compaixão consigo mesma, abrir uma conversação interna mais honesta com seus limites, saber reconhecer sua vulnerabilidade e solicitar ajuda seria um caminho de verdadeira generosidade, consigo mesma e com os outros.

Curso: como resolver conflitos e conversas difíceis

Quantas vezes você se viu completamente paralisado para resolver conflitos emocionais ou com outras pessoas da vida íntima e profissional?

Nos dias 17 e 18 de outubro (sábado e domingo) vou fazer um encontro para ajudar homens e mulheres dispostos a gerenciar com mais lucidez, equilíbrio e maturidade os seus dilemas pessoais.

Além disso, esse trabalho facilitará você a se comunicar de uma maneira mais assertiva, serena e que realmente toque o ponto central da questão, sem pontas soltas.

Ao final do encontro, a ideia é que os participantes consigam lidar com suas emoções com mais sabedoria, usando uma comunicação adequada para resolução de conflitos.

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Frederico Mattos

Sonhador, psicólogo provocador, é autor do Sobre a vida e dos livros Relacionamento para Leigos" e "Como se libertar do ex". Adora contar e ouvir histórias de vida no instagram @fredmattos. Nas demais horas cultiva a felicidade, é pai de Nina e oferece treinamentos online em Fredflix.


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