Poker e evolução: o que está por trás de um All-in?

Você está em uma mesa de poker com uma boa mão, quando um dos jogadores sobe a aposta para um valor maior do que você pode cobrir. Agora você precisa decidir se ele está blefando ou não para recuar ou entrar em All-in.

Por mais que não repare, o nosso passado evolutivo é que permite sua decisão. As pistas e expressões, os reflexos e a leitura dos jogadores, tudo isso faz parte do que fazemos de melhor.

O reflexo animal

Um dos reflexos mais comuns em animais é o de luta ou fuga. Quando deparado com uma situação de perigo iminente, o sistema nervoso dispara uma série de respostas que vão determinar os próximos instantes. No nosso caso, por exemplo, o cérebro dispara o sistema simpático que vai estimular a liberação de adrenalina no sangue.

Assim que a adrenalina entra em nossa corrente sanguínea, uma cascata de eventos acontece, todos nos preparando para uma luta ou fuga. O coração dispara para bombear sangue oxigenado para os músculos. O pulmão aumenta a frequência respiratória para garantir o suprimento de oxigênio.

Nossos vasos sanguíneos periféricos, os capilares, se contraem e direcionam o sangue para os músculos, diminuindo as chances de um sangramento no caso de cortes e dando o aspecto pálido e a sensação de mãos geladas. O sistema digestivo suspende a atividade e envia sangue para os músculos, daí a sensação de náusea. E a saliva deixa de ser produzida, causando a sensação de boca seca.

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Relaxa, o máximo que pode acontecer é você morrer.

As pupilas dilatam, deixando mais luz entrar, mas a visão é focada. Com mais oxigênio e nutrientes no sangue, os músculos começam a tremer e os reflexos aumentam. Daí a impressão de slow motion. O corpo perde parte da sensibilidade à dor e está pronto para partir para o tudo ou nada. Ou você vai para cima do inimigo ou vai fugir.

É por este motivo que em uma situação de estresse – como o All-in que você está prestes a entrar – causa frio na barriga, palpitação e suor frio.

No poker, contudo, o perigo é muito mais subjetivo e muitas outras coisas precisam ser levadas em conta.

As funções superiores do cérebro

Animais solitários costumam ter um cérebro relativamente menor do que parentes que formam sociedades.

A razão disso é bem direta: um dos seus piores inimigos são os outros membros da sua espécie. Eles concorrem com você usando os mesmos recursos. Primatas que vivem em bando geralmente possuem uma estrutura social complexa com machos ou fêmeas dominantes, grupos concorrentes, alianças de apoio, laços familiares e muito mais. Essa necessidade cria terreno fértil para cérebros maiores e com mais capacidade.

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Nosso passado não nos deixa ver só uma torneira | Créditos: MoonBird

Os bandos humanos são ainda piores. Com grupos de mais de 100 pessoas juntas, nosso cérebro foi selecionado para entender os vizinhos.

Quem colabora com quem, quem já trocou caça, quem já roubou caça, quem é mais forte. Isso cresce exponencialmente com a teoria da mente, quando começamos a imaginar o que o outro está pensando, o que ele pensa que estamos pensando, o que pensamos que ele está pensando do que pensamos, e por aí vai.

Somos verdadeiras máquinas de reconhecer e ler rostos, o que dá origem ao fenômeno da pareidolia: vemos rostos onde não há com pouquíssimas pistas.

Já reparou que outros animais não tem a esclerótica do olho branca? Nós realmente mostramos para onde estamos olhando e sabemos para onde os outros olham também. Sombras, tom de pele, sobrancelhas, olhar, nosso cérebro trabalha com tudo o que tem para reconhecer o que o outro está pensando ou sentindo.

Repare na imagem abaixo. De perto, o rosto da esquerda parece bem bravo, certo? Agora se afaste bem do monitor... ;-)

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Qual é a face furiosa? A da direita ou da esquerda?

Tudo isso nos traz de volta ao All-in. Você é capaz de conter seu nervosismo e segurar o efeito da adrenalina? O que está mostrando ao seu oponente? Você consegue manter um rosto neutro durante o jogo, a chamada poker face?

Quem tem mais capacidade empática? Seu adversário está tremendo de medo ou de excitação? E o rosto dele, traduz o quê? Confiança, nervosismo, medo? O que ele está pensando sobre você?

A adrenalina está circulando e seu sangue sendo bombeado com força e cheio de oxigênio. Seu cérebro está processando tudo, suas cartas, quanto dinheiro você ainda tem, quais foram as outras jogadas. Sua amídala está trabalhando ao máximo para reconhecer o que os outros jogadores estão sentindo e pensando.

A estratégia e a leitura dos oponentes do poker nos fazem utilizar várias das funções superiores do cérebro, que apenas os humanos têm. Aproveite o jogo e faça uso das ferramentas que a evolução nos deixou.

* Créditos da pintura recortada no topo: C. M. Coolidge.

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All-in

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publicado em 01 de Dezembro de 2009, 11:33
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Atila Iamarino

Doutorando pela USP, biólogo viciado em informação e ciência. Autor do excelente blog Rainha Vermelha e editor do Science Blogs Brasil, o primeiro condomínio de blogs de ciência brasileiro. Vá lá expandir seus horizontes!


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