Quando o jornalismo também morre (e mata) | Curta PdH #12

Quem matou Eloá?

Quem acompanha o noticiário sensacionalista talvez se lembre que em 2009 um caso teve ampla cobertura da mídia no Brasil. Lindenberg entrou no apartamento de sua ex, Eloá Pimentel, de apenas 15 anos (sim, 15 anos) e a fez refém durante cinco dias.

O caso foi um prato cheio pra uma parcela (grande) da mídia que não vive só das notícias, mas de transformá-las em espetáculos bizarros, tendo em polêmicas e tragédias a matéria-prima para construir sua pauta que faz tudo virar um show. Tão comuns, esses tipos de programas, na nossa televisão. Enquanto o caso foi se estendendo, a cobertura foi se tornando cada vez mais surreal. 

“Quem Matou Eloá”, curta dirigido por Lívia Perez, questiona e analisa, entre outras coisas, essa cobertura. O Brasil é, hoje, o quinto país do mundo com a maior taxa de homicídio de mulheres, tendo a assustadora taxa de 4,8 mortes a cada 100.000 mulheres, ficando atrás apenas de países como Rússia, Guatemala, Colômbia e El Salvador.

Essa taxa grosseira e esse número lamentável se devem a várias coisas que pessoas muito mais preparadas poderiam enumerar, como até o fazem no filme. É completamente triste ver, num país com um contexto como o nosso, a espetacularização de um evento assim. Como a atribuição de valores, culpas e responsabilidades vão sendo agregadas ao longo da cobertura, por um viés torto e questionável, muitas vezes em um pensamento que é “automático”, “lugar comum”, mas não por isso menos absurdo (e é possível que até por ser um pensamento tão “comum” é que seja mais absurdo ainda).

Link do YouTube

O filme também pode ser visto aqui, via Porta Curtas. Nos vemos nos comentários?


publicado em 30 de Janeiro de 2017, 01:43
File

Paulo Leierer

Escreve e dirige (tirou sua carta em 2003). É apaixonado por cinema desde que viu "Esqueceram de Mim" e morre de vergonha de escrever em terceira pessoa.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura