Reflexões que valem a pena no dia nacional da luta das pessoas com deficiência

Um mundo mais adaptável e inclusivo é um mundo melhor para todos porque, diante das diferentes formas de existência, dá alternativas e não restrições.

Cristiane Lico Pieroni e Tiara Rabaglio Peres trabalham com processos de inclusão e gestão no Instituto Presbiteriano Mackenzie e escreveram um texto essencial para que o dia da luta das pessoas com deficiência seja um dia de reflexão, aprendizado e inclusão.

Algumas conquistas foram feitas, mas ainda há um longo caminho a seguir

"Há 15 anos, o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência foi oficialmente decretado. Mas esta batalha começou muito antes, temos uma exclusão histórica das pessoas com deficiência, que ficaram a margem da sociedade por um longo período, muitas famílias os privaram do convívio social na tentativa de protegê-los ou até mesmo por se envergonharem das diferenças, do que os outros pensariam.

Muito mais do que isso, por não terem informação, educação e inclusão desde pequenos sobre o tema, então achavam que era o melhor a fazer. Veja bem, não existem culpados, existe desinformação e despreparo. Porém, sabemos que essas atitudes reforçaram o distanciamento e, talvez por isso, até hoje existem pessoas que não entendem o porquê deste público ser incluso em todos os espaços.

Mas, se compararmos os dias atuais com o ano em que a data se tornou oficial, podemos identificar grandes avanços e conquistas de direitos para as pessoas com deficiência, como por exemplo, a discussão e posteriormente instituição da Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015) que trata amplamente dos direitos da pessoa com deficiência.

No entanto, ainda precisa de uma divulgação massiva, pois ainda hoje existe uma grande confusão, já que essa lei não se trata de um resumo das legislações sobre o tema, mas sim de um complemento a outras legislações vigentes embora algumas resoluções ainda se fazem necessárias, este foi um marco muito importante nessa luta.

As ações afirmativas, como o artigo 93 da Lei nº 8.213/91 conhecida como Lei de Cotas, contribui para encontrarmos pessoas com deficiência no mercado de trabalho." 

O mercado de trabalho após a Lei de Inclusão

"Com o passar dos anos e o aumento da fiscalização, cada vez mais as pessoas com deficiência vão encontrando mais oportunidades de trabalho, o que garante a convivência, contribui significativamente para a conscientização da sociedade e para que as pessoas com deficiência demonstrem suas capacidades e sua competência.

Nesse setor, os desafios na inclusão ainda são grandes tendo em vista que as pessoas precisam ser avaliadas por suas competências, pelo que elas conseguem fazer independente de sua deficiência."

Como podemos usar o dia da luta das pessoas com deficiência para refletir?

"Nossa proposta é que possamos aproveitar este dia para refletir sobre esse processo e pensar:

  • Porquê das pessoas com deficiência não participam ativamente de qualquer ambiente, profissão ou escola?
  • Por que ela ou sua família precisam ter escolhas restritas?
  • Por que as escolas devem ser especiais?
  • Por que as vagas de trabalho devem ser exclusivas?
  • Por que só algumas áreas de lazer devem ser acessíveis?
  • Será que só as pessoas com deficiência usam rampas?
  • Por que não podem escolher as roupas que gostam?
  • Por que elas só podem ter acesso a algumas informações?
  • Só as pessoas que usam cadeiras de rodas precisam de espaços mais amplos?"

As pessoas, independente das suas deficiências, são diversas e terão necessidades muito diferentes. Quando pensamos em um mundo com mais acessibilidades e adaptações, em todos os sentidos, estamos elaborando um mundo que não limita às pessoas a um padrão, um mundo que estaria sempre se adaptando para não transformar as diferenças em desigualdades.

Tal mundo não seria apenas mais inclusivo para aqueles que tem deficiência, seria um mundo mais inclusivo a todos pelo simples fato de, ao acolher diferentes necessidades, oferecer alternativas.

Porque precisamos lutar por ações/projetos/leis inclusivas?

"Após essa breve reflexão, precisamos mudar o olhar e pensar em espaços inclusivos, realizando um planejamento arquitetônico, comunicacional e atitudinal que contemplem todas as pessoas independentes de suas características e assim poderemos dizer que temos a verdadeira inclusão da pessoa com deficiência na sociedade.

Enquanto isso não acontece as ações afirmativas são fundamentais, elas não existem para privilegiar ninguém, muito pelo contrário, essas ações surgem para diminuir o distanciamento entre todos, equiparando e corrigindo prejuízos históricos que a exclusão social permitiu acontecer por diversos anos.

Por fim, ressaltamos a importância de espaços acessíveis para que todos tenham o mesmo direito de escolha considerando toda a complexidade do ser humano, seus gostos pessoais, conhecimentos e competências.

E por falar com competências, o lado profissional é um assunto muito interessante, afinal, as pessoas, independentemente de sua condição física ou mental, deveriam ser selecionadas e contratadas por sua bagagem, sua experiência pessoal e profissional.

Muitas empresas já têm suas vagas de trabalho para todos, pessoas com e sem deficiência, afinal se uma pessoa com deficiência tem os pré-requisitos técnicos para a vaga, por que não se candidatar e participar do processo seletivo?

Sabemos que este é ainda um caminho longo e lento a ser percorrido, mas se cada um de nós mudarmos o nosso olhar para esta questão e conseguirmos mostrar isso para pelo menos mais uma pessoa, faremos a nossa parte para um dia termos em vigor, de forma mais natural a verdadeira inclusão das pessoas com deficiência na sociedade."

Trabalhos que valem a pena conhecer

Mais que falar sobre diversidade precisamos trazer a diversidade para a nossa vida, para o nosso convívio, mas as nossas referências diárias. 

Por isso queremos apresentar o trabalho e a voz de algumas pessoas que valem muito a pena conhecer. 

Marcos Bauch na Caixa Preta

Na nossa série Caixa-Preta, o grande Marcos Bauch falou para gente sobre sua identidade como homem, esportista, aventureiro, pai, que vive com uma deficiência.

 

O Marcos já escreveu vários textos para o PdH, quem tiver curiosidade em conhecer, dá uma olhada aqui. 

Marney Max: Lutando MMA fora das categorias paralímpicas

Marney, apelidado de "o pior dos pesadelos", foi Tricampeão Brasileiro de Muay Thai 2010, 2011, 2012 e Bicampeão Mundial da mesma categoria, além dos prêmios que ganhou lutando na categoria de Jiu-jitsu e MMA. Ah, Marney não tem um dos braços e, apesar disso, compete fora das categorias paraolímpicas, junto com adversários que tem os dois braços.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Victor Di Marco: O que pode um corpo?

Victor é cineasta, ator e também é uma pessoa com deficiência. Ele foi o responsável pelo filme "O que pode um corpo?" no qual fala sobre a sua vivência com deficiência. Segundo o cineasta, ele queria contar a sua história ao invés de, como tantas outras pessoas com deficiência, ver a sua história narrada pelos olhos de outras pessoas.

Victor fala bastante sobre o tema em seu IGTV:

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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A Pequena Lo e seu grande sucesso no TikTok

Se você ainda não está muito por dentro do que está acontecendo no Tiktok, saiba que a Pequena Lo é um hit e que seus vídeos são divertidíssimos.

Adriano Bisker: Pai de 5
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Tivemos a honra de ter o Adriano conosco no PAI 2020: os desafios das paternidade atuais. Advogado, influenciador e pai de 5 filhos, Adriano tem deficiência auditiva. Ele é uma grande referência nos assuntos de paternidade.

Conhece mais influenciadores e referências que falam sobre o tema? Indica aqui nos comentários.

Para ampliar o olhar sobre as diferenças

Em 2019 o renomado psicólogo Andrew Solomon lançou o documentário Longe da Árvore, no qual olha para famílias cujos filhos nasceram e/ou cresceram diferente do que os pais idealizaram um dia.

O filme aborda tanto deficiências como a síndrome de down e o nanismo, como amplia o olhar para outros tipos de existências diversas que nem sempre são bem acolhidas pelas famílias e/ou sociedade.

 


publicado em 21 de Setembro de 2020, 06:00
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