Reinaldo Varela: na terra, esse é o cara a ser batido.

Em Mirandópolis, no interior de São Paulo, nem todas as estradas possuíam condições "normais" de trânsito 27 anos atrás. Isso não era problema para o intrépide Fiat 147 do menino Reinaldo Varela.

Com o pé na tábua, Reinaldo guiou seu carro pessoal na primeira competição de Rally que participou. Já havia pilotado seu 147 em algumas provas de Rally de Regularidade, mas a situação era outra. As regras de um Rally de Velocidade são basicamente simples: vence o mais rápido. Reinaldo andou rápido, muito rápido.

Era o começo de uma carreira gloriosa de 197 corridas no rally, muitos títulos, desafios e vitórias.

O homem.

A terra.

Em nosso agradável bate-papo com essa lenda do automobilismo brasileiro, pergunto se Reinaldo conseguiu algum resultado em sua primeira prova 27 anos atrás:

"Sempre estive na ponta."

Tentei arrancar história exclusivas dos bastidores do rally brasileiro, tentei buscar informações sobre o glamour que muitos de nós acreditamos estar sempre presente no automobilismo, mas o que encontrei não foi um profissional das corridas e sim um apaixonado vocacionado para o que faz. Reinaldo é viciado por velocidade e corre absolutamente sem nenhuma espécie de medo por causa dessa paixão.

A máquina. | Foto: Sanderson Pereira.

"O risco está em todos os cantos do esporte automotor, mas diminui bastante com cuidado e prudência. Graças a Deus nunca me machuquei, mas no dia em que começar a sentir medo é sinal de que está na hora de parar."

O piloto me responde após eu ter indiscretamente mencionado um episódio ocorrido durante as 12 Horas de Tarumã em que uma mãe teve de entrar na ambulância transportando seu filho, piloto de um protótipo que se acidentara gravemente minutos antes. Sem medo, qualquer motor rosnando bravo atiça o sangue misturado com metanol de Reinado.

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"Sim, o barulho já mexe com a gente."

Para dar uma pequena ideia do tamanho da paixão de Reinaldo por velocidade, essa é a resposta do piloto quando perguntei sobre o Rali de Lanchas que participou nesse ano ao retornar do Dakar 2010. Sim, de lanchas! O piloto de 51 anos saiu da prova mais difícil do automobilismo off-road do mundo e logo estava acelerando lanchas de velocidade mar adentro no Brasil.

Reinaldo diz nunca ter dado um susto na família nem pensar nos riscos envolvidos da carreira que seu filho também decidiu seguir – Rodrigo começou a correr na quadriciclos.

Ele conta com a amizade com seus navegadores para obter bons resultados. Depois de parcerias com Marcos Macedo e Erley Ayla, o piloto ainda corre com o amigo Eduardo Bampi. E esse ano volta para mais uma edição do Rally dos Sertões.

Com o parceiro Eduardo Bampi.

Acostumado a tirar o máximo de sua L200, pensei que Reinaldo teria dificuldades a trocar de equipamento quando passou a guiar uma Pajero Full desde o Dakar. Segundo o piloto, não houve grandes adaptações e logo um carro com características completamente diferentes também estava domado. Foi com a Pajero que Reinaldo conquistou o hexa-campeonato ao lado de Bampi no brasileiro de Cross Country, prova em que é o único piloto do país a vencer o campeonato mundial.

Almejando levar para casa o capacete de ouro, prêmio reservado aos pilotos capazes de obter títulos em uma série de competições do circuito nacional, Reinaldo brinca que há muitos talentos surgindo, mas sabe que está em uma fase tão boa que ainda é o cara a ser batido.

Comportado, homem de família e de poucas palavras, Reinaldo diz não ser procurado pelas "Marias capacetes"; tampouco se interessa em acelerar nas ruas. Sobre as famosas festas de encerramento das competições de Rally, se resume a dizer que são realmente boas. Aos apaixonados pela velocidade como ele, deixa a dica para começarem a trilhar caminhos no automobilismo fora de estrada:

"Basta procurar uma boa equipe e começar em uma mono marcas, como a Mitsubishi Cup, que dá uma ótima base. Procure ajuda com os pilotos mais experientes."

Ao encerrar o papo, pergunto a esse ilustre vencedor de 51 anos até que idade pretende competir. Ouço a resposta digna de um campeão:

"Até quando for competitivo."

No Rally dos Sertões. | Foto: Haroldo Nogueira.

...

Pessoal, esse é o último texto do canal especial Dr. Pirelli, no qual falei um pouco sobre automobilismo. Estamos pensando em fazer um PDF com todos os 8 textos. Acham uma boa? Interessa?


publicado em 28 de Dezembro de 2010, 08:00
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Rodrigo Almeida

Engenheiro, apaixonado pela vida e por qualquer coisa com um motor potente, nostálgico entusiasta de muitas daquelas boas coisas que já não mais se fazem como antigamente.


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