Sensualidade masculina ainda é tabu? A equipe PdH topou ser fotografada e responder essa

O PapodeHomem já mostrou, conversou e deu voz a pessoas que se despiram. Agora é nossa vez de lidar com inseguranças, medos, barrigas ou timidez

Nota editorial: esse não é um ensaio nu de todos os homens da equipe do PdH. É um ensaio no qual cada um foi até onde se permitiu, com as falas e desafios reais. O nu e a sensualidade masculina seguem tabus, aqui dentro também.

* * *

O rei está nu. E só assim, sem todas as carcaças – manto, coroa, luva, botas, capa – revela-se vulnerável ao mundo. Com o pensamento despido, o súbito súdito deixa sua alma ser vista por todo o reino. E mulheres, velhos, crianças, rapazes e todas as outras pessoas que se deparam, pela primeira vez, com o corpo entregue, olham sem espanto:

– Olhem, é o Rei. É apenas um homem nu.

Há uns anos criei um projeto chamado A Olho Nu. O objetivo inicial era mergulhar no universo fotográfico do nu e chamar para uma discussão a respeito da propriedade sobre o corpo. Daí, o projeto evoluiu para as pautas individuais de cada participante que posou sem roupa: sua sexualidade, suas relações afetivas, suas carências, suas conquistas profissionais, suas rupturas, suas questões de autoestima, seus passos em direção à liberdade, sua integração com a natureza, ou espaços urbanos, ou suas próprias casas.

O projeto enriqueceu quando as individualidades se somaram e permitiram que um conjunto enorme de pessoas trocassem ideia, sempre que se viam no exemplo de alguém. O A Olho Nu virou um projeto-espelho. Foram muitas mulheres, no Brasil inteiro. Muitas mulheres. E isso tornou-se, para mim, que estava fotografando e escrevendo sobre cada uma delas, uma questão. Tantas mulheres com grandes histórias. Mas onde estão os homens?

O projeto está na sua terceira fase de ensaios e, até aqui, apenas um homem se dispôs a posar. Outras fotógrafas se juntaram a mim para fazer ensaios em capitais do país onde eu não conseguia alcançar. O projeto tornou-se mais delas do que meu. E, por instantes, parei de clicar, de escrever sobre as maravilhosas conversas durante os ensaios. Mas essa semana eu voltei. Voltei pois há mais conversas a se ter.

Os homens estão aqui.

Recebi as fotos de Guilherme, Ismael, Jader, Rodrigo e Phellipe, todos da equipe do PapodeHomem, feitas durante o verão deste 2017 (tão recente e tão adverso, com ameaças evidentes à nossa liberdade de expressão) e pensei que estas imagens, revelam muito sobre o que podemos ser.

Cada um se despiu como sentiu vontade, explorando seus obstáculos, curiosidades e medos. Desafiando o que sentem à respeito do próprio corpo e de sua exposição pública.

Ali, na casa de praia do Papo de Homem, estavam homens que estão experimentando outros diálogos. Que  assumem suas vulnerabilidades e incoerências. Que tentam tratar as mulheres com equidade, por entenderem que não há nada de extraordinário nisso – é apenas o que deve ser. Quebrar essas barreiras é permitir que a sensibilidade apareça – e não que nos seja uma ameaça. É educar nossos filhos homens para que percebam, desde muito cedo, que eles podem ser melhores do que fomos.

Aqui estão homens que começaram a desnudar os pensamentos e passaram a exibir suas vulnerabilidades, fraquezas emocionais, desprazeres sexuais, fracassos, dúvidas, medos, angústias, pressões e depressões. E que muitas vezes falham miseravelmente em tudo isso, pois é natural errar no que nunca fizemos e ninguém aqui se pretende modelo de virtude. Me vejo neles e aqui começo a tirar minhas próprias carcaças.

Eles estão aqui. Estão em todas as partes.  São homens comuns, sem capa, coroa, manto.

Guilherme Valadares

 

 

Senti um misto de vergonha e vontade ao pensar em fazer essas fotos.

Tenho tido uma relação mais segura com meu corpo ao passar dos anos. Mas é curioso como me prendo a certas ideias

Por um lado gostaria de fazer o nu completo. Por outro, penso no Google e no que as pessoas pensariam vendo essas fotos, assim que buscassem meu nome. Será que afetaria minha credibilidade como jornalista ou as palestras que tenho oferecido, sobre masculinidades e gênero, em instituições variadas? Não sei, mas deu medo.

Durante o ensaio, era bom ver as fotos e como saia nelas. Ao mesmo tempo não olhava muito, quase como um cacoete automático, pra não parecer vaidoso ou fútil demais. Mesmo falando das prisões masculinas dia sim, dia não, elas ainda batem forte aqui dentro.

 

 

 

 

 

Rodrigo Cambiaghi

 

Vira e mexe digito meu nome no Google buscando se há algo comprometedor a meu respeito rodando na rede. Algum texto antigo que escrevi, alguma foto comprometedora que alguém tirou, alguma ex-namorada ou rolo que resolve publicar alguma conversa íntima ou alguém maluco que possa simplesmente sair inventando um monte de coisas a meu respeito.

A idéia de haver algo a meu respeito publicado na internet que possa me prejudicar agora ou no futuro, me perturba demais.

Costumo ser cauteloso com o que publico na internet e se for algo que pode me comprometer, eu prefiro não divulgar, hoje muito mais.

Gostaria que esse ensaio fosse 100% nu, como o de muitos homens que saíram aqui no PapodeHomem. Mas hoje não banco essa vontade.

Quem sabe um dia?

 

Ismael dos Anjos (fotos por Juliana Labraña)

Não deveria ser tão difícil tirar a roupa, mas é. Não deveria ser tão difícil lidar com peso, barriga e outras coisas que não correspondem ao meu imaginário de como meu corpo ou meu rosto deveria ser, mas é.

Ainda estou longe de me sentir à vontade com o nu, posando ou fotografando, porque provavelmente ainda estou longe de me sentir à vontade comigo mesmo.

Mas entre ansiedade e apreensão, tenho aprendido que, com relação a certos medos e receios, o melhor a fazer é, veja só, fazer.

Nesse sentido, fez toda a diferença pra mim ser clicado por quem eu amo. Ou melhor: por alguém que me ama, e me enxerga para além e com mais carinho do que o que eu vejo quando olho um espelho.

Obrigado, Ju.

 

 

 

 

 

Phellipe Araújo

Sinceramente eu não estava preparado, o Ismael não me contou que estava me fotografando para um ensaio sensual, por isso eu acho que as fotos saíram tão bonitas e com uma estética tão agradável.

Eu fui fotografado em um momento de descontração, um instante de naturalidade, minha surpresa com o resultado foi essa mistura de Robert De Niro e Al Pacino  que surgiram nas minhas fotografias, rs.

Acredito que é importante sempre buscarmos fazer coisas novas, sou muito grato ao portal PapodeHomem por me proporcionar esses momentos.

 

 

Jader Pires

 

Tão natural quanto poderia ser. Como foi o Ismael, grande amigo, que me procurou para fazer as fotos, não houve qualquer contexto negativo nessa hora. Acabou rolando uma entrega da mais simples. "Você é quem vai me fotografar, amigo. Manda e eu faço". Eu queria, naquele momento, ser mesmo um instrumento pro olhar do fotógrafo. Não me preocupava em aparecer bonitão ou qualquer coisa que valha. Só queria que a estética final ficasse satisfatória para ele, para a pessoa que estava pensando no todo. E o resultado é esse. Espero de coração que o Ismael tenha gostado do trabalho feito. Eu gostei muito.

 

 

 

 

 

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publicado em 13 de Março de 2017, 00:05
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Pedrinho Fonseca

é pai de João, Irene, Teresa e, logo mais, de Joaquim. Nas horas vagas, escreve e fotografa.


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