Síndrome de Solomon: o medo de se destacar | Tecla SAP #6

Você sempre evita ser o centro das atenções?

Ano novo, vida nova, e você tá aí cheio de planos, acreditando que esse é o ano que tudo vai mudar. Nesse ano você vai se destacar, conseguir aquela promoção, se formar na faculdade, começar o próprio negócio, comprar um apartamento. Nesse ano tudo vai dar certo. Certo?

Sabe de nada, inocente!

No ano passado terminamos falando sobre quando rola uma pressão social para que você fique calado, agora, vamos falar sobre quando rola uma pressão social para que você não seja capaz de se destacar/diferenciar. Mas não de um jeito social, econômico ou político. Trata-se de uma trava psicológica mesmo.

Imagine que você é aquele cara que chegou atrasado na aula. Quando você entra na sala, o professor explica que está fazendo um teste com os alunos. Ele então aponta pra lousa na qual você vê desenhada três linhas verticais de tamanhos diferentes e uma quarta, separada, exatamente assim:

E aí, pessoal? Com quem a primeira se parece?

O teste era extremamente simples e consistia em perguntar aos alunos, um a um, com qual linha a primeira se parecia: A, B ou C.

Óbvio, não?

Em ordem de chegada, o professor, então, começa a perguntar aos alunos e eles apontam sempre uma alternativa errada. Precisamente, os sete que vieram antes de você indicam que a linha mais parecida é a A. Tratava-se de uma orientação do professor. O teste era apenas com você, não com os demais.

Sem saber disso, porém, na pressão, com medo de não ter visto ou sabido de alguma coisa, incomodado por ser o único elemento destoante do grupo, você também aponta a alternativa A, mesmo ciente de que a resposta certa é C.

Pode isso, Arnaldo?

Acha que eu forcei a barra? Pois foi exatamente isso que aconteceu quando o psicólogo americano Solomon Asch fez o experimento, ainda em 1951, com 123 voluntários que achavam que se tratava de um teste de visão.

Na ocasião, Solomon formou grupos de 8 pessoas, das quais 7 tinham combinado com ele responder sempre a alternativa errada. Enquanto isso, o oitavo integrante respondia por último, depois de ter ouvido a resposta dos demais. Para tornar o teste mais verossímil, um ou dois integrantes podiam escolher uma opção diferente do resto do grupo, desde que ela também estivesse equivocada.

Este exercício foi repetido 18 vezes com cada um dos 123 voluntários e os resultados foram impressionantes: 75% dos indivíduos se deixaram influenciar pela opinião do grupo pelo menos uma vez. Os cobaias também responderam errado mais de um terço das vezes apenas para não ir contra o que dizia a maioria.

Finalizado o estudo e revelado o acordo, os participantes disseram que “distinguiam perfeitamente a linha correta, mas que não tinham dito em voz alta por medo de se equivocar, de ser exposto ao ridículo ou de ser o elemento discordante do grupo.”

E agora, José?

A experiência serviu de base para o que seria a formulação da Síndrome de Solomon, algo que intriga psicólogos e antropólogos até hoje. A partir do experimento, todos chegaram a uma conclusão unânime: nossas opiniões e aspirações estão muito mais condicionadas do que imaginamos.

Na prática, a síndrome se manifesta em pequenos decisões do dia a dia como a roupa que vamos vestir, até decisões grandiosas como a carreira que queremos seguir pro resto da vida. Segundo Solomon sugere, a maioria das pessoas se deixa influenciar pelo que as outras pessoas pensam dela e tomam decisões de maneira a evitar que elas se destaquem.

Isso explica o pavor de tantas pessoas de falar em público, por exemplo, mas também indica que muitas vezes nos boicotamos para não desviar de um caminho trilhado e aprovado pela maioria. Inconscientemente, muitos de nós tememos triunfar por medo de que nossas virtudes ofendam os demais, ou que nos tornemos o centro das atenções o que significa estar sujeito a críticas dos demais.

Quando rompemos a barreira do indivíduo, o diagnóstico da síndrome em larga escala revela um baixa autoestima coletiva, uma falta de confiança nos méritos pessoais e a formulação de uma sociedade que tende a condenar o talento e o sucesso alheio. E, de certa forma, por mais que isso seja um tabu, nesse contexto prosperar, mudar de vida, obter sucesso é mal visto pelos outros.

É claro que levar em consideração a opinião dos outros nem sempre é ruim. Pelo contrário. Em determinadas situações, ouvir de boa fé o que os outros têm pra dizer é fundamental. Como tudo, não se trata de preto no branco, mas tons de cinza.

De qualquer forma, se você tiver planos de se destacar em 2017, considere que, além de superar sua própria síndrome, deverá estar disposto a lidar com a inveja alheia. Mas isso é assunto pra outro dia.

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Tecla SAP é uma série de autoria de Breno França publicada quinzenalmente às quintas-feiras que se propõem a explicar ou traduzir conceitos complexos que estão presentes nas nossas vidas, mas não sabemos ou reconhecemos.


publicado em 05 de Janeiro de 2017, 20:12
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Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a Jornalismo Júnior, organizou campeonatos da ECAtlética e presidiu o JUCA. Siga ele no Facebook e comente Brenão.


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