Smurfs, Gremlins e PPTs

Lembro-me de alguns textos que acusavam os Smurfs (ou seu criador, Peyo) de serem comunistas. Dentre os diversos motivos que conseguiram listar, um deles era o fato de cada Smurf realizar apenas uma tarefa. Se alguém tentava desempenhar a tarefa de outro (o confeiteiro tentava pintar uma cerca, por exemplo), sempre dava errado. As postagens afirmavam que cada um tinha sua função, que não deveria tentar fazer nada que não lhe foi designado e bla-bla-bla.

Naquele tempo o conteúdo na Internet era um tanto nebuloso. Parecia uma grande creche cheia de crianças com o mesmo uniforme (como os Smurfs), poucas diferenças (como o Papai Smurf, Smurfete e alguns outros pingados), fazendo baderna (como os Sm... ahn, esses eram os Gremlins). Era complicado distinguir o que era conteúdo relevante dentre tantas besteiras ou patifarias.

Saindo da vila dos Smurfs para a realidade do mercado criativo, há alguns anos começaram a surgir agências focadas em apresentações. Começou com uma, de grande destaque, e como um Mogwai no fundo da piscina, começaram a surgir diversas outras, contribuindo com o surgimento de um mercado até então desconhecido – ou desmerecido.

Começaram, então, a conquistar atenção e interesse através de uma não-novidade: apresentação em PowerPoint. Sim, ele existe desde 1984 (oficialmente pela Microsoft, mas houve outras versões, com outros nomes) e representou um ar fresco de liberdade para aqueles que desejavam criar seu próprio material. Até começarem a usar para fazer maldade: correntes de mau gosto com fotos de nenê abraçando um urso panda em um campo de arroz com música do Yanni e um texto mal diagramado atribuído a Arnaldo Jabor ou Clarice Lispector.

Sabe aquele cara que sempre vem com conselhos espirituais românticos a la The Secret? Pode chamá-lo de "Guru de PPT".

Claro, o principal não é a ferramenta em si, mas a inteligência criativa por trás, independente de serem Smurfs ou Gremlins (ou até mesmo o Gargamel).

Tecnicamente, não existem segredos. Quem utiliza PowerPoint ou Keynote sabe o que o programa oferece e pode adquirir um template em qualquer site de modelos para apresentações (de graça ou por um custo significativo). No entanto, ao comparar com o portfolio de uma agência da área, é notável que a apresentação que chama a atenção vai além de um template ou de um conjunto de elementos prontos para qualquer um baixar e utilizar.

Todos devem ter visto esta campanha fenomenal da Heineken:

Link YouTube

As coisas parecem simples depois que as vemos prontas, mas não é fácil envolver profissionais de redação, direção de criação e arte, atendimento e planejamento. Óbvio que envolveu muito mais gente, mas como caráter ilustrativo está ótimo: deu um trabalho do cacete.

Teria o mesmo impacto se a agência que produziu esta peça desenvolvesse um template de comercial, com algumas vinhetas, algumas cenas aleatórias e o slogan final do cliente? Claro que o cliente poderia se sentir satisfeito, pois de fato nada mais conveniente do que você ter controle sobre o que você adquiriu, mas a questão é: por que um contratou o outro? Não foi pela experiência na área? Não foi pelo encantamento que os cases daquela agência trouxe, inspirando confiança? Não foi porque você faz o que faz, ele faz o que faz, e é assim que o mundo roda?

Comunicação (e sua filha apresentação) não é fácil, basta olhar todos os melhores cases de publicidade e analisar as dificuldades enfrentadas.

As pessoas estão mais exigentes, esperam mais e melhor do que no passado, o que é muito bom: impede o comodismo e incentiva a evolução. Cada vez que surge uma palestra ou apresentação (ou os dois juntos, o que é melhor ainda) que chama atenção e torna-se modelo, as pessoas só serão surpreendidas com algo igual ou melhor.

O TED, por exemplo, a maior referência de palestras no mundo, inspirou o Google a desenvolver seu próprio modelo de apresentações. Conhecem o Google's Zeitgeist Minds?

Link YouTube | Palestra sobre compartilhar carros (assim como o TED, eles disponibilizam a transcrição)

Mais uma referência: Presentation Zen, escrito pelo designer Garr Reynolds, que oferece soluções simples, elegantes e equilibradas entre conteúdo e visual, transformando apresentações ordinárias com técnicas e conceitos japoneses, como o sumi-ê ou wa.

Apesar do crescente mercado de apresentações, ainda existe muito para se explorar frente ao desconhecimento da importância de uma apresentação feita por profissionais. Verdade seja dita: da mesma maneira que a empresa não desenvolve uma campanha, ela também não desenvolverá uma apresentação que envolva o mesmo profissionalismo e recursos criativos de uma agência especializada.

São muitas (muitas mesmo) empresas que recorrem às agências de apresentações, como a MonkeyBusiness. Se a sua empresa ainda não conhece ou não vê a importância de se fazer uma apresentação, dê uma olhada para os lados e confira se os seus concorrentes pensam como você: se sim, é uma ótima oportunidade de mudar este pensamento e se destacar; se não, é melhor correr e tirar o atraso.

Quando a necessidade de apresentar surge em seu cotidiano com o mesmo suspense que aquele chinês maldito dos Gremlins entrega a caixa com o Mogwai e não se importa se você será apto a cuidar direito ou não, lembre-se: há grupos que cuidam de Mogwais todos os dias.

Dentro da filosofia comunista (ou não) dos Smurfs: façamos o trabalho que nos foi designado. Sabe por quê? Porque você tem mais o que fazer!


publicado em 06 de Fevereiro de 2011, 09:01
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Alexandre Franzolim

Diretor de Criação da MonkeyBusiness, outrora ilusionista, lutador, arqueiro, taciturno agitão que deseja convencer a todos a fazer uma (boa) apresentação.


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