Tem dias em que tudo é muito triste

Na superfície

Ficasse menos tempo nessas de sentir a própria dor e tivesse deixado de carregar pensamentos de um domingo que já se foi faz três dias, talvez tudo estivesse bastante diferente de muito triste. Mas não.

Tudo é muito triste.

Porque as convicções que sigo e as crenças em que me apoio dizem que eu devo querer a profundidade de cada alma, mas sem mergulhar, sem molhar os cabelos para não mostrar as imperfeições de um couro já nem tão cabeludo. Me mantenho na superfície. Digo que tenho muito pouco, mas que quero muito, no entanto, quero ganhar tudo sem nunca perder ou sequer me entregar para aquilo que chamam vida, ou aquilo que chamam sentimento.

O maior egoísmo das últimas dez semanas foi me descobrir sentado em plena melancolia, refletindo sobre sentimentos passados e futuros e me entender saudoso em relação ao arrebatamento da paixão. Aquela coisa de frio na barriga, de sair todos os dias com a pessoa, um dia após o outro e sem cansar. Querendo mais, inclusive. Querendo muito mais muito depressa para depois querer muito menos mais depressa ainda. E talvez seja esse o ponto de equivalência: o exato momento em que racionalizo o não-mergulhar com o resultado dos mergulhos. Afinal, entrar na água implica dar fortes braçadas para sair dela.

E fortes braçadas cansam o corpo por mais algumas tantas e boas sádicas semanas de tristeza inconsistente. E aí eu me vejo querendo ser arrebatado para em seguida me punir por estar querendo algo pelo qual não estou disposto a nadar.

Obs.: este texto foi originalmente publicado no Medium do autor.


publicado em 24 de Março de 2017, 00:00
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Sergio Trentini

Cursou psicologia, administração e jornalismo. Não terminou nenhuma das três. A última já passou da metade, e essa, jura que vai acabar. Assim como todas as histórias que começa a escrever. Escreve lá no Medium


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