To The Moon: mude uma coisa, realize um desejo

Histórias são contadas desde os primórdios da humanidade, de várias formas diferentes.

Os meios de comunicação – e expressão artística – foram evoluindo com o tempo, até que na passagem do século XIX para o XX surgiu o cinema, gerando várias revoluções. Primeiro com a reprodução da imagem em movimento e, mais tarde, com a adição de som e cor.

Porém, há outra plataforma, que vem se tornando fonte excelente de boas histórias: o videogame.

A grande vantagem do videogame sobre outras expressões artísticas é a interatividade. Ele nos coloca na pele do personagem, fazendo com que controlemos suas ações e escolhas, com que evoluamos nas mecânicas do jogo de acordo com a evolução pessoal do personagem. Superação em conjunto.

É por causa da interatividade, por exemplo, que jogos como The Last of Us – que, se fosse para o cinema, seria somente mais um filme de zumbis estrelado por Gerard Butler e Ellen Page com um enredo ok – acabam alcançando outro patamar.

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É culpa da interatividade, também, o fato de eu passar longe de jogos de terror como Outlast e Amnésia, mesmo não tendo nenhum problema com os filmes do gênero.

Aqui, vou focar em um game menor e mais simples, que faz uso da interatividade para nos fisgar para dentro de uma história interessante, emocionante e, principalmente, bem contada, saída da cabeça de uma só pessoa. Kan Gao, à frente da Freebird Studios, é o responsável por praticamente tudo de To The Moon, desde o roteiro até a linda trilha sonora original.

No game, somos apresentados ao Dr. Watts e a Dra. Rosalene, um casal de doutores que trabalham para a Sigmund Corporation, empresa que presta serviços para pessoas à beira da morte. O que eles fazem é, basicamente, entrar na mente da pessoa – à pedido da mesma - e mudar algo em sua memória de infância, criando um efeito cascata e fazendo com que ela tenha a perseverança necessária para realizar seu maior sonho.

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Por exemplo, no começo do jogo, conhecemos Johnny e descobrimos que seu maior desejo é ir à Lua. Saber o motivo do paciente desejar tal coisa é parte importante do processo e, por algum motivo, Johnny não sabe porque, só sabe que quer. Cabe a nós viajarmos por suas memórias, a fim de descobrirmos seus motivos e realizarmos seu sonho com o pouco tempo que temos antes de sua morte.

As comparações com Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrançase A Origem são inevitáveis. Sobre o primeiro, o próprio Kan Gao admitiu ser uma das maiores inspirações para a história.

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A jogabilidade é tão diminuta que alguns nem o consideram videogame.

Seguindo o estilo Point & Click, você só usa o mouse em 95% do tempo e não há desafio nenhum. Aliás, o pior momento de To The Moon é quando ele mais tenta ser um jogo. Os gráficos, vindos diretamente dos jogos de RPG japoneses de 16 bits, não são excelentes pros padrões dos games mainstream, mas eu os considero bem bonitos – me impressionou o tanto de expressão que os olhos dos personagens possuem. Sério, prestem atenção nos olhos.

O foco aqui não é a jogabilidade complexa, nem a superação de grandes dificuldades. A jogabilidade de To The Moon está ali com o único objetivo de colocar você dentro daquele ambiente, mais e mais imerso à medida que a história avança – o tempo de gameplay, de 4 a 5 horas, também ajuda na imersão.

Embora não sejam as 2 a 3 horas do espetacular Journey, ainda é possível terminá-lo em apenas uma sessão. Duas, no máximo. Por isso eu apoio a decisão de não haver grandes puzzles ou desafios no jogo. Se eu tivesse que passar por uma Tomb of the Giants em todo avanço da história, não acho que teria chegado ao final. Sem contar que isso deixa o jogo muito mais acessível, visto que não é preciso dominar um controle com mais de 10 botões e 2 analógicos para apreciá-lo.

A língua também não é mais uma barreira, já que o pessoal do Jogabilidade o traduziu para o português. A tradução é oficial e já vem no game.

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To The Moon

é um game que trata de assuntos complicados como morte, tragédias e frustrações pessoais e nos faz questionar quão valiosas são nossas lembranças – boas e ruins - e o quanto elas influenciam nossas condutas. Porém, ele balanceia isso muito bem com seu humor leve e, até certo ponto, infantil. Me peguei mais de uma vez rindo em uma “cena” e passando por grandes momentos de reflexão e/ou emoção na seguinte. A forma com que a história é contada, com seus mistérios revelados de forma gradual e seu desfecho bem amarrado são, com certeza, o ponto alto da obra.

O jogo atualmente custa R$ 16,99 no Steam. Ou seja, jogabilidade simples, tradução oficial e preço mais do que acessível, não tem porque você não jogar.

Está rolando, até o dia 21/01, o excelente Humble Indie Bundle X, e um dos games é o To The Moon. Para quem não sabe, você paga o quanto quiser pelo bundle – valor mínimo de 1 dólar – e parte da grana ainda vai para caridade. Pague um valor acima da média e desbloqueie os jogos extras.


publicado em 10 de Janeiro de 2014, 06:46
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Junior Silva

Estudante de Audiovisual e amante da literatura e dos videogames.


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