Traição - As origens

Este é o primeiro de uma série de três artigos sobre Traição, escritos pelo designer e psicólogo Philipe Kling David, do Mundo Gump, a convite da Revista Papo de Homem.

Nesse início, irá entender as origens. Na segunda parte, a razão que motiva os homens a traírem. E na terceira, vai ter 10 dicas sobre como se manter *fiel* a sua mulher.


As Origens

Talvez nenhuma das perfídias humanas seja tão cruel quanto uma traição. A história da humanidade está cheia de reviravoltas e traições de todos os tipos. A produção cultural humana como os mitos gregos estão recheados delas, com seus diferentes graus e formas.

Zeus e sua mulher Hera, a primeira ciumenta da históriazeus

Zeus, o deus máximo do monte Olimpo, líder de todos os demais deuses e deusas, era um libertino e chifrador contumás de sua esposa, a neurastênica e ciumenta deusa Hera.

A política antiga e moderna está recheada de traições, das mais célebres até as mais corriqueiras. Políticos e suas sacanagens com o dinheiro público são expostos aos holofotes graças a mulheres traídas.

Nada pode ser mais perigoso que uma mulher cega de ódio em função de ter sido traída.

O fato é que o ser humano convive com o fantasma da traição desde que nos entendemos por gente e, posso afirmar sem medo de errar, que antes mesmo já era assim. Veja por exemplo, nossos parentes próximos, os Chipanzés. A sociedade dos macacos é permeada de enredos complexos, onde a traição, a mentira e a dissimulação, escondem desejos, medos e verdadeiras tramas políticas pelo domínio do grupo.

Nas sociedades mais primitivas, ainda reinam os elementos clássicos e instintivos que regem o comportamento. Os machos querem transmitir seus genes. Fazer descendentes.

Quanto mais filhos, melhor. É a programação genética do macho.

A fêmea, por sua vez, busca o melhor macho. Ela é seletiva por natureza. A fêmea quer garantir que os filhos sejam bons. E assim a espécie se perpetua.

O homem, esta criatura cosmopolita, com suas máquinas, carros, computadores, casas e iates, vestindo roupas de grife e relógios de procedências sofisticadas, pode se julgar uma criatura evoluída. Pode se julgar importante como a última bolacha do pacote. Mas a verdade é que somos um bando de manés, regidos pelas mesmas leis que controlam os pobres macaquinhos. Somos animais.

A maioria dos homens trai suas parceiras. A mulher na rua deu chance, o cara vai lá e manda bala. Isso quando não é o caso do cara pegar uma grana e bancar uma prostituta para prestar alguns serviços. É parte indelével da índole masculina buscar parceiras.

Somos caçadores. Andamos nas ruas perscrutando cada calçada em busca dos sinais inequívocos do sexo. Bundas, pernas, peitos... É normal ocorrer de estarmos pensando em outra coisa e ainda assim olharmos. A programação genética é inexorável.

Da mesma maneira, pode ocorrer com a mulher de se sentir atraída e, em certos casos, criando fantasias o primeiro homem seguro e inteligente que lhe dê atenção.

Com as mulheres, o princípio primitivo da seleção de genes opera em ritmo frenético. Isso explica a sabedoria popular que sempre diz “mulher gosta é de dinheiro. Quem gosta de pinto é bicha”. A mulher busca e sempre buscará segurança. Nos tempos antigos, em que tudo se resolvia na pancadaria, a segurança era obtida com o macho mais forte.

Hoje, em tempos capitalistas, a segurança pode ser resumida a fatores mais complexos, como dinheiro e poder. Aí está o véu do mistério descortinado para expor a realidade das meninas de classe média que se envolvem com marginais e bandidos. A mídia não entende, mas o mecanismo é ridiculamente simples.

O macho alpha e as fêmeas

Mulheres sempre serão atraídas por machos alpha. E chamo de macho alpha aquele que se sobressai ante os demais. E no mundo dos humanos, isso não significa ser mais forte, nem necessariamente mais bonito.

Disputa por dominância entre dois potenciais machos alphamachos-alpha

Não vou me arriscar a incorrer no erro de explicar os motivos de uma traição. Sobretudo da traição feminina, que é mais complexa do ponto de vista psicológico.

Os mecanismos psicológicos complicaram bastante o meio de campo humano. Com o advento do pensamento, o jogo de esconder e mostrar, tradicional dos primatas, se complexificou bastante. Existem mecanismos de defesa, estruturas narrativas e dramas psicológicos para todos os lados. Mas, no fundo no fundo, lá no núcleo mitocondrial, em algum lugar onde os olhos nem os microscópios mais poderosos alcançam, está a instrução de trair.

A fêmea trai por muitas razões. Mas uma das maiores razões é detectar falhas inconscientes na posição social-sexual de seu parceiro e simultaneamente acontecer um processo de côrte de um outro macho, numa posição tipologicamente superior ao do macho original.

Para um macho, de todas as épocas, a traição da fêmea sempre foi e será um drama. Não só por perder a mulher para outro, mas pela constatação mesmo que inconsciente, que ela encontrou outro macho melhor. Não há pior maneira de se descobrir um desgraçado marginal no sistema de pirâmide social humana senão a traição.

Se a traição é um fantasma para o homem, também é para a mulher. Elas fingem que não, mas 100% de todas as mulheres que eu conheço morrem de medo de serem traídas. Se não fosse assim, qual seria o motivo das novelas da Rede Globo serem praticamente todas baseadas em estórias de traições e conflitos advindos destes fatos?

O medo é o fator chave de manutenção da atenção. De quebra, isso explica também os motivos pelos quais a mídia brasileira segue o sistema americano, no qual as notícias de violência e desgraça aumentam as vendas dos jornais.

Amanhã, as 5 razões que levam um homem a trair. Aguardem!

Aproveitem para visitar o Mundo Gump, onde vai encontrar outros textos nota dez do Philipe.


publicado em 07 de Julho de 2007, 10:23
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Philipe Kling David

Psicólogo por formação, já trabalhou com 3D e efeitos especiais, bonecos, jogos de videogames e miniaturas de chumbo. Foi professor de escultura, diretor de curta-metragem e até ufólogo. É um grande contador de histórias. Desde 2006, escreve no blog Mundo Gump, que já virou livro. No Twitter, @philipe3d


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