Há um tempo, conversamos sobre iniciativas pra alimentar quem tem fome, desperdício de comida e a relação indissociável desses dois problemas com o nosso modo de consumir: supermercados tradicionais estão vomitando embalagens mais caras que seu próprio conteúdo e as notas fiscais dos nossos carrinhos de compras somam números bem mais altos do que o de nutrientes ingeridos por dia.
E é no mínimo curioso quando a gente se depara com iniciativas bem diferentes, como esse supermercado da França.
O Biocoop 21 está em Paris, oferecendo pra galera da cidade uma opção de consumo mais consciente em alguns sentidos. Todos os seus produtos são vendidos a granel – inclusive os líquidos –, o que significa que famílias grandes e jovens solteiros podem comprar, da mesma forma, a quantidade necessária de comida para si, evitando jogar fora sacos inteiros de pão de forma mofados.
Além disso, embalagens não estão inclusas na sua compra. O mercado até conta com potes de vidro e sacolas de algodão orgânico pros esquecidos – que deve ser comprados à parte –, mas se há liberdade de escolha nas quantidades, a responsabilidade pelo armazenamento e transporte do alimento para casa é de cada um.
Não dá pra deixar de apontar, aqui, o efeito interessante que isso pode gerar: cuidar de nós mesmos e amar nossos corpos também pode significar se dar a generosidade de reservar alguns minutos do mês ou da semana pra refletir e planejar não só o que vamos consumir, mas quanto vamos consumir e também se isso é adequado pra que a nossa nutrição seja cuidada.
A oferta de produtos exclusivamente orgânicos só corrobora com a proposta! E a preferência por produtores locais levanta uma outra discussão importante: a nossa geração de lixo.
Claro que o uso de embalagens reutilizáveis e próprias reduz drasticamente o descarte de produtos de reciclagem difícil como alguns tipos de plástico e, consequentemente, a quantidade de lixo por compra. Mas essa noção se torna muito mais poderosa quando pensamos também na economia de combustível queimado no transporte dos produtos.
A consequência disso são produtos mais baratos – com menores custos de transporte e, quiçá, produção – e mais perecíveis, o que, não se engane, é ótimo! Comida de verdade estraga. E comida que estraga não está infestada de conservantes e leticinas de soja (que, um dia, hei de descobrir a que servem).
A iniciativa da loja é da Biocoop, uma sociedade anônima francesa especializada na distribuição de produtos verdes e cosméticos que registrou crescimento de 13,4% em 2014. O seu presidente, Claude Gruffat, atribui o fato ao engajamento da marca com valores de interesse da sociedade civil, como o comércio justo e de proximidade e o consumo responsável.
A loja ainda é só uma experiência, e deve fechar no dia 30 desse mês, mas não deixa de despertar a fagulha de um novo tipo de consumo, assim como fez a inauguração do mercado Original Unverpackt, em Berlim, no ano passado.
Aqui no Brasil, ficamos na vontade de mais iniciativas assim, mas, graças a nossa boa imaginação e vontade, cito algumas parecidas como o Armazém da Dezoito, em Caxias do Sul, RS; a Casa Pedro, no Rio; e a Zona Cerealista, em São Paulo, além, é claro, das diversas feiras livres espalhadas pelo país.
Me chama nos comentários pra contar o que tem de consumo responsável na sua região. É muito pretensioso querer traçar um panorama colaborativo por aqui?
publicado em 06 de Dezembro de 2015, 00:05