Era sexta-feira, era fim de dia, fim de mês e de ano.
Chegou em casa com as juntas doloridas, os olhos cansados e as pernas amassadas por um vai e volta contínuo entre as escadas do seu trabalho. Trancar a porta parecia mais custoso a cada volta na fechadura, porque nem seus dedos escapavam do esgotamento. Tirou o tênis sem desamarrar o cadarço, caminhou até o banheiro, esvaziou a bexiga cheia por duas horas de ônibus e deu algumas passadas de água no rosto para encontrar a animação que ainda lhe restava.
Durante o dia havia construído repetidas vezes a cena do seu próprio corpo caindo no novo colchão que comprara com o décimo terceiro, acompanhado de uma coberta quentinha, o quarto sem luz e os olhos se fechando para o melhor sono de sua vida.
Mas uma dúvida entre ceder ao sono ou ceder à fome fez com que ele reunisse as forças que as passadas de água no rosto lhe deram e procurasse desesperadamente por comida na geladeira. Achou panelas com os restos da semana, colocou as três no fogão, esquentou por 5 minutos e comeu nelas, só para não ter pratos para lavar.
E por falar neles, a limpeza ia ficar para depois.
***
Essa história poderia facilmente se encaixar na rotina de grande parte das pessoas. A cena de ter que acordar com uma pia cheia de louça suja do dia anterior é clássica, e para alguns reflete um exemplo genuíno de mau hábito que precisa ser deixado de lado.
Mas será que não é saudável manter uma "cota de vacilos"? Um "depois eu arrumo esse quarto", "mais tarde eu termino esse texto", "deixa esses pratos pra amanhã".
Tomar cuidado para não se afundar na própria zona de conforto é sempre um ótimo exercício, como comentou Leandro Lima no texto "Um método extremo para deixar seus maus hábitos", mas se permitir chutar o pau da barraca em doses homeopáticas pode ser igualmente positivo.
Vem ver essa e algumas outras discussões que apareceram nas caixas de comentários do PdH essa semana :)
Em "Um método extremo para deixar seus maus hábitos", por Breno França
Em "Meninas que saem da água", por Alex Castro
Em "Largando um pouco essa ideia de largar tudo", por João Baldi Jr.
Em "Cuidar de cachorro não te torna mais preparado para paternidade", por Rodrigo Cambiaghi
publicado em 16 de Dezembro de 2016, 05:00
