Wagner Pagotto, 30, piloto profissional de Stock Car

Continuamos com nossa série de entrevistas, abrindo possibilidades de vida e diferentes modos de existência para leitores em formação ou para quem não mais está tendo prazer em suas ações no mundo (leia aqui as anteriores).

Não só evitamos profissões mais comuns (como advogado ou publicitário), mas buscamos gente que não é tão conhecida, que não está em todos os pódios e programas de TV. Gente mais próxima, sempre aprendiz, com trajetos peculiares e formação híbrida, às vezes mais vencedora do que aqueles que se perderam no meio da fama ou de trabalhos sem sentido.

Wagner Pagotto (blog | twitter) é um desses caras. Ele estreou com tudo na categoria Stock Jr (que não ocorrerá ano que vem) e já está levantando recursos para a nova categoria da Stock Car: Mini Challenge.

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Conversamos num bar, segue o papo:

1. Qual sua história? Quais suas origens? O que fazia antes de ser piloto de corrida?

Nasci em 13 de novembro de 1979, em São Paulo. Cresci e vivo no bairro do Butantã (criado entre cobras! rs...). Sou de uma família simples, mas muito trabalhadora, honesta e divertida! Estudei no Colégio Rio Branco (unidade da Granja Viana) e fiz faculdade de Sistemas de Informação na Faculdades Integradas Rio Branco. Tive muita sorte com minha formação, pois graças a minha mãe que trabalhava no Colégio Rio Branco, meu estudo sempre foi na faixa!

Também realizei vários cursos voltados para crescimento e fortalecimento mental, dentre os principais estão: Programação Neurolinguística (PNL) e formação em Coaching. Trabalhei 5 anos com vendas de artigos esportivos, começando aos 13 anos de idade e depois me tornei analista e desenvolvedor de sistemas, com que trabalho até hoje em paralelo com o Coaching e as corridas.

2. Como descobriu que era isso que queria fazer e como chegou onde está?

Desde minha infância sempre fui apaixonado pelo automobilismo e não perdia uma corrida de F1. Na adolescência (1998), comecei a correr nos Kart Indoor só por brincadeira. Nessas brincadeiras me destaquei da maioria das pessoas que também estavam começando e já andava de igual para igual com os mais experientes.

Ao começar a andar no kartódromo da Granja Viana (2005), nessas baterias de aluguel mesmo, novamente já andava no tempo dos profissionais. Com isso, fui querendo me tornar um piloto profissional e correr de verdade, mas os custos do automobilismo sempre estiveram longe da minha realidade!

Em 2008, resolvi fazer um curso de pilotagem para ver se realmente eu tinha jeito para a coisa e também para correr em Interlagos, pelo menos uma vez! Fui muito bem no curso e muito elogiado pelos meus instrutores!

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O brinquedinho de Wagner Pagotto

Após o curso resolvi que realmente eu queria e tinha tudo (menos dinheiro) para ser um piloto profissional! Começou a partir daí uma intensa busca por patrocínios. Busca em vão, pois eu não tinha nenhuma experiência e nem material para demonstrar minha capacidade.

Graças ao curso de formação em Coaching, consegui achar formas de eu realizar meu sonho! Resolvi pegar todas as minhas economias de anos de trabalho e investir em mim mesmo! Se eu não acreditasse em mim, quem iria? E foi assim que em 2009 virei piloto profissional da Stock Car, correndo na categoria Stock Jr. (categoria de formação da Stock Car) com muita dificuldade financeira, mas muito recompensadora e terminando a temporada como melhor estreante do ano.

3. O que você faz atualmente? Qual sua especialidade? No que você é realmente bom?

Atualmente tenho uma empresa de desenvolvimento de sistemas e presto serviço a uma empresa de Softwares, faço coaching de vida para as pessoas (por enquanto apenas para amigos) e sou piloto da Stock Car.

Devido a minha facilidade de me relacionar com as pessoas, proatividade, persistência e desejo enorme de superação, as minhas carreiras profissionais estão indo por um ótimo caminho.

4. Conte um pouco do seu cotidiano.

Normalmente passo o dia inteiro na frente do computador, desenvolvendo sistemas ou buscando e entrando em contato com possíveis patrocinadores. Nos finais de semana gosto de estar com os amigos.

Já em dias de corrida... a coisa muda totalmente! Geralmente viajo na quinta cedo para o local onde será a corrida. Ao chegar, vou para o hotel, almoço e vou para o autódromo fazer as inscrições e reconhecimento da pista. Depois só descansar até o próximo dia. Na sexta e sábado, acordo bem cedo, normalmente às 5h, tomo café da manhã bem reforçado e vou para os primeiros treinos.

Normalmente saio no meio da tarde do autódromo, vou almoçar, dou uma passeada pelo local e mais descanso. No domingo, também acordo bem cedo, tomo café da manhã e vou para corrida. Após a corrida, mais correria: hotel e aeroporto. Chego em São Paulo no começo da noite.

2ª etapa Stock Jr 2009 - Curitiba

5. Uma história ou uma cena que fez todo o esforço valer a pena.

Acho que um dos principais momentos de realização foi em minha terceira corrida deste ano (2009) na etapa de Brasília. Saí na 10ª posição do grid e fiz uma excelente corrida, terminando na 4ª posição, quase um pódio na terceira corrida da minha vida!

Recebi muitos elogios e até mesmo de pilotos renomados como Felipe Giaffone e Djalma Fogaça. Foi um sinal de que eu estava indo no caminho certo!

6. O que acontece nessa profissão que ninguém imagina? Aproveite pra quebrar mitos, idealizações ou preconceitos.

Muita gente fala que no automobilismo não dá para ter amigos. Eu discordo. Em todas as categorias da Stock Car é comum ver os pilotos saindo juntos, trocando ideias etc. São poucos que têm “narizinho empinado”.

Outra ideia errada que fazem é a de que quem é piloto ganha muita grana. Pelo contrário, são poucos pilotos que conseguem ganhar com as corridas. A maioria, mesmo com patrocínios, tem de desembolsar muito para correr.

7. Quais os erros de outros pilotos e organizadores que deixam você com vergonha da profissão?

Infelizmente, o automobilismo é um esporte que envolve muita grana e politicagem. Muita gente acaba valorizando demais a sede por dinheiro, deixando para trás os reais valores dos seres humanos.

Com isso, vemos constantemente uma série de situações vergonhosas. Assim como vimos recentemente na F1. Uma pena para nós que amamos o verdadeiro automobilismo, buscando superar os limites.

1ª etapa Stock Jr 2009

8. Mulher: melhor trabalhar ao lado dela, melhor mantê-la longe ou nenhum dos extremos?

Mulheres... quanto mais perto melhor! rs... Adoro trabalhar com as mulheres! Elas possuem características fenomenais que só somam a qualquer trabalho. No automobilismo elas também estão buscando quebrar as barreiras e sofrem muito mais com os preconceitos que nós homens.

Hoje vemos mulheres muito habilidosas e excelentes profissionais no automobilismo. Além de, claro, trazer mais beleza e charme ao nosso esporte. O que seria dos pilotos e dos patrocinadores sem as promotoras? rs... Amo muito tudo isso!

9. O que você diria a um leitor que deseja se tornar um piloto de corrida?

Como não tive experiencias anteriores com o automobilismo e nem cresci no Kart, ficou muito claro o quanto o aspecto mental pesa muito! Enquanto ainda estou aprendendo muito na forma de pilotar e acertar o carro, tenho como “armas” principais a minha tranquilidade, concentração e humildade.

Os cursos de crescimento e fortalecimento mental que eu fiz foram de fundamental importância para a ótima temporada de estreia. O corpo e mente devem estar muito bem preparados! Feito isso, a técnica será adquirida muito mais rapidamente.

A busca de superação do piloto tem que estar voltada para ele mesmo e não se comparando com os outros pilotos.

10. O que você demorou muito tempo pra aprender e agora pode resumir em poucas palavras?

Um bom piloto é aquele que é bom nas pistas, mas um ótimo piloto é aquele que é melhor ainda fora delas.

11. Quais são os benefícios que seu trabalho gera para as pessoas próximas, para sua comunidade e sociedade em geral?

O automobilismo é um esporte que gera muita emoção e diversão para o público! Gera também a busca por avanços tecnológicos para melhorar a vida das pessoas.

É uma excelente ferramenta de marketing para as empresas divulgarem suas marcas, produtos ou serviços associadas ao prazer que o público tem ao assistir às corridas, se tornando assim uma das melhores formas de fixação da informação transmitida. E, para mim, também serve como uma ótima metáfora para as nossas vidas, buscado sempre a superação!

12. Quais seus outros interesses, práticas e habilidades?

Sou muito ligado à música! Faço dança de salão, sempre estou ouvindo música e procuro também aprender a tocar instrumentos.

Adoro esportes em geral e amo viajar! Sempre estou com minha família e amigos.

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13. Faça uma pergunta e responda.

–O que te motiva?

–Superação!

* Conhece algum profissional com uma formação perculiar? Coveiro, dublador, ator pornô, garçom, diplomata, pirata, mergulhador… Envie sua indicação para gitti arroba papodehomem.com.br


publicado em 12 de Janeiro de 2010, 10:20
Gustavo gitti julho 2015 200

Gustavo Gitti

Professor de TaKeTiNa, colunista da revista Vida Simples, autor do antigo Não2Não1 e coordenador do lugar. Interessado na transformação pelo ritmo e pelo silêncio. No Twitter, no Instagram e no Facebook. Seu site: www.gustavogitti.com


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