Estamos cansados de votar nas mesmas pessoas?

Na semana passada, eu pedi para o grande Pedro Américo escrever sobre uma liga secreta de políticos ridículos que, de tão ruins como corruptos, tentam se juntar para tirar um por fora, mas só conseguem fazer o país ir pra frente. Ele adorou a ideia e escreveu o post. Os leitores também gostaram do texto, que teve bons comentários, um número ótimo de likes, de tweets, de acessos.

Os EUA querem outro tipo de herói na política

Hoje, logo pela manhã, vi que o Capitão América, herói da Marvel, vai virar presidente dos Estados Unidos no universo da Casa das Ideias, e terá a difícil tarefa de "unir um país destruído pelo sectarismo e pela xenofobia contra mutantes". De acordo com a notícia, o capitas não se afiliou a nenhum dos dois partidos, mas sim foi escolhido pela vontade do povo.

Nessa época de eleição, pessoas e veículos de comunicação estão tentando (independente de ser uma tentativa justa ou não) justificar o trabalho de eleitos como o palhaço Tiririca ou o ex-jogador Romário, dizendo que esses estão fazendo um bom trabalho, que não faltam às sessões e estão efetivamente tentando fazer com que suas propostas sejam votadas. O que era, de inicio, votos de protesto contra os políticos de sempre, agora parece ser a coisa acertada, votos feitos em pessoas que podem, aparentemente, mudar um pouco as coisas na política.

Mudança. São três informações que aconteceram em poucos dias que apontam nessa direção.

Numa delas, houve uma vontade de ver o que caras novas, por mais superlativas que sejam para o humor, pudessem fazer na política. Depois, uma clara vontade americana - transmutada para as histórias em quadrinhos - de poder optar por algo diferente, que não seja democrata, que não seja republicano. Por último, a realidade mostrando, mesmo que palidamente, que as coisas poderiam mudar - não pra melhor ou pra pior, mas mudar - se pessoas diferentes começassem a "habitar" a câmara dos vereadores, dos deputados, o senado, a cadeira da presidência.

Botei tudo isso em pauta porque esse é um ano de eleição e será a primeira vez que voto na cidade de São Paulo, depois de transferir meu título de leitor do ABC paulista pra cá. Justo nessas eleições, eu não me sinto representado por nenhum partido e, mais ainda, por nenhum candidato. Não há figura que eu sinta qualquer conexão. Me sinto desligado de tudo e acho que não sou o único. O provavel motivo disso? A falta de mudança. Não vejo refrescância em nenhuma proposta, em nenhum discurso. Todos fazem a mesma persona, todos distribuem retóricas sobre o mesmo simulacro. Isso é bem triste.

"Testify" é uma música da banda americana Rage Against The Machine, cujo o clipe foi dirigido pelo documentarista Michael Moore. A canção foi lançada em 1999, há 13 anos. O vídeo mostra os dois candidatos a presidente da época, George W. Bush e Al Gore, formando, numa amálgama, uma terceira pessoa. Isso porque ambos os políticos - cada um em seu partido - discursavam sobre a mesma coisa, mesmo tendo ideias e pretenções bem diferentes.

Link YouTube | Duas pessoas que poderiam muito bem ser a mesma pessoa. Ou uma terceira que seria a mesma que as outras duas. Deu pra sacar?

Isso foi há mais de 10 anos. Até hoje, a sensação de mudança é a mesma.

Espero que aconteça logo.


publicado em 19 de Setembro de 2012, 10:00
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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