Se você é um ouriço, a última coisa que pode fazer é se comprometer a não usar seus espinhos.
Guerra naval na Baía da Guanabara
Em setembro de 1893, a Marinha Brasileira em peso se rebelou contra o governo e ameaçou bombardear a capital federal se o presidente Floriano Peixoto não renunciasse. Ele se recusou e as fortalezas passaram o mês seguinte atirando contra os navios e os navios, contra as fortalezas.
Depois de um mês, os comandantes dos navios estrangeiros ancorados na baía conseguiram um acordo entre as partes, no qual a Marinha se comprometia a não atirar contra a cidade e o governo se comprometia a não atirar contra os navios rebeldes.
Os líderes da revolta, almirantes Custódio de Mello e Saldanha da Gama, são até hoje revenciados como heróis da Marinha, mas é difícil de entender o por quê: ao aceitar esse pacto, eles passaram atestado de não entender nada de guerra.
O tempo estava a favor do governo em terra, que foi se fortalecendo e costurando alianças. Já a Armada rebelada no mar abrira mão de sua única arma, de sua única ameaça crível, e basicamente se condenara à ociosidade, à inutilidade e à derrota.
![O Encouraçado Aquidabã, um dos mais poderosos navios de guerra do Brasil, rebelado. O Encouraçado Aquidabã, um dos mais poderosos navios de guerra do Brasil, rebelado.](https://cdn.papodehomem.com.br/wp-content/uploads/2013/01/aquidaba-620x408.jpg)
Finalmente, quando o governo se sentiu forte o bastante, desfez o pacto unilateralmente e ainda teve a gentileza de avisar quando começaria operações de guerra contra os navios rebeldes.
Sem outro remédio, os estrangeiros saíram da frente e os revoltosos ou se renderam ou saíram corridos da Baía de Guanabara, encerrando assim a chamada Revolta da Armada. Floriano cumpriu seu mandato até o fim.
Como escreveu Joaquim Nabuco no livro que dedicou ao episódio,
"quem não quer empregar os meios de guerra não faz a guerra".
Nabuco era favorável à revolta, eu não, mas nenhum de nós dois acha que os navios deveriam ter atirado contra a capital. Entretanto, se os líderes rebeldes não estavam dispostos a isso teria sido mais humanitário nem mesmo começar a revolta.
(A explicação é simples: dois anos antes, em 1891, o almirante Custódio de Mello fez exatamente a mesma coisa e conseguiu que o então presidente Marechal Deodoro, já velho, cansado e de saco cheio, renunciasse no mesmo dia. O erro de cálculo foi considerar que Floriano Peixoto fosse fazer o mesmo. A revolta se viu na insustentável posição de não ter estômago para cumprir as próprias ameaças. Por isso, como todos que já se colocaram nessa mesma sinuca, perdeu.)
![Resoluto, Floriano Peixoto se recusou a sair do poder! Resoluto, Floriano Peixoto se recusou a sair do poder!](https://cdn.papodehomem.com.br/wp-content/uploads/2013/01/2-620x382.jpg)
Neymar na Orquestra Sinfônica
E aí você pergunta, amigo leitor:
"E daí? Qual é a relevância disso pra mim?"
É simples. A revolta foi derrotada porque se comprometeu a não usar a sua única arma.
E, todo dia, observo várias pessoas, amigos, colegas de trabalho, familiares, dando com os burros n'água pelo mesmo motivo.
Vejo o inteligente tentando competir com o lindo na beleza, vejo o lindo tentando competir com o inteligente na cultura.
Vejo o Neymar desafiando o Federer para uma partida de tênis, vejo o Cesar Cielo desafiando o Usain Bolt pra uma corrida. Nunca dá certo.
A vitória tem várias chaves. Uma delas é não desistir. A outra é escolher suas batalhas e escolher suas armas.
O mundo está cheio de Mozarts que ninguém ouviu falar porque ao invés de estudar piano estavam dando murro em ponta de faca na quadra de futebol.
!["Luiz, seguinte, talvez o futebol não seja a sua praia. Já pensou em se dedicar a outra carreira? Política, quem sabe?" "Luiz, seguinte, talvez o futebol não seja a sua praia. Já pensou em se dedicar a outra carreira? Política, quem sabe?"](https://cdn.papodehomem.com.br/wp-content/uploads/2013/01/lula.jpg)
publicado em 21 de Janeiro de 2013, 13:14