Nós <3 pixels

Faz no mínimo 15 anos que os computadores e videogames avançaram suficientemente para não precisarem mais exibir gráficos em resolução tão baixa que os pixels sejam óbvios e aparentes. A tela do iPhone 4 tem uma resolução de pixels tão grande que você precisa se esforçar muito para conseguir enxergar os pequenos pontos, mesmo com o olho grudado na tela -- e muitas pessoas nem conseguem. E as TVs Full HD munidas de Blu-Ray Players mostram imagens tão incrivelmente nítidas que eu me lembro de já ter participado de discussões que sugeriam que o filme Watchmen deveria ter imagem menos realista para não atrapalhar a noção de que aquilo era um filme.

Mesmo assim, as imagens quadradonas da chamada era 8 bits continuam sendo objeto de culto por aí.

Depois de ter começado a escrever este texto, olho para baixo e vejo que esta é a estampa da minha camiseta

Qual a atração que a limitação gráfica exerce sobre nós? Por que coisas como Minecraft e 3D Dot Game Heroes continuam sendo produzidas? Por que um serviço como o EightBit.me fez com que 50% de todo mundo que eu conheço começasse a usar um avatar pixelado no Twitter literalmente da noite para o dia há poucos meses?

Algumas teorias são fáceis de delinear. Há o elemento do saudosismo, claro. As pessoas que produzem essas coisas hoje em dia são as que consumiam produtos que eram assim por necessidade durante as suas infâncias. E as que se identificam hoje com essa estética também o fazem em geral pelo fato dela sutilmente trazer boas lembranças. Mas também há o fato de que é mais fácil produzir mídia assim do que em altíssima definição, o que faz com que a estética pixelada seja a melhor opção para muitas empresas e autores de pequeno porte.

Link YouTube | Este vídeo foi feito no ano 2000, mas poderia ter sido em 2011 ou 1991.

Mas há mais cachorro nesse mato.

A era 8 bits, a estética, a mentalidade, a filosofia 8 bits, é sobre a valorização da imaginação sobre a visualização. Quando Nathan Drake, o protagonista da série Uncharted, do PlayStation 3, se apresenta na sua tela, você o vê. Altura, tipo físico, feições, roupas, som da voz, cabelo, personalidade, está tudo ali. Quando o jogo mais moderno do mundo era Pitfall, para Atari, o que você tinha era a mínima representação possível de uma pessoa. Bem mais da metade de Harry Pitfall era construída pela sua cabeça, ali, na hora, imaginada. Aposto que você nem sabia que ele se chamava Harry.

São a mesma pessoa, se você quiser

Assim como um sinal de < e um número 3, juntos, formam a mais simples representação de uma ideia tão complexa quanto gostar de alguma coisa, os avatares pixelados do EightBit.me são a mínima representação possível de quem os usa. Afinal, o sentimento de que nenhuma fotografia consegue capturar exatamente como realmente somos é comum a todos nós. Pensando por esse lado, o apelo da estética pixelada faz todo o sentido e parece que vai continuar existindo pelo futuro imediato.

Você também é adepto da cultura retrográfica da era 8 bits? Ou não vê o menor sentido nessa palhaçada geek?


publicado em 27 de Novembro de 2011, 07:50
File

Fabio Bracht

Toca guitarra e bateria, respira música, já mochilou pela Europa, conhece todos os memes, idolatra Jack White. Segue sendo um aprendiz de cara legal.\r\n\r\n[Facebook | Twitter]


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura