Pra quem você conta seus segredos?

Colocar pra fora pode ser um grande combustível para sua autoconfiança

No último mês tenho feito terapia. É a minha terceira tentativa. Na primeira, em 2007, eu simplesmente parei de ir, porque me sentia fraco para seguir qualquer indicação ou orientação. Eu era uma pessoa bem diferente. No fim do ano passado tentei de novo, não me dei bem com o profissional. Não desisti e encontrei uma pessoa que, aparentemente, era o que eu queria. Se abrir para um completo estranho parece loucura num primeiro momento, por mais que seja um profissional. E por mais que todo meu sistema (robusto) de autossabotagem tenha gritado e esperneado, não faltei nenhuma consulta sequer.

Confiar meus medos, sonhos, objetivos, segredos e anseios me ajudou a me abrir não só com a minha esposa e minha família como vem me dando uma confiança como eu nunca tive.

Autoconfiança é um poder. Se a gente souber mantê-lo, nutri-lo e convocá-lo em qualquer momento, seríamos imbatíveis. Provavelmente as grandes pessoas desse mundo tem (ou tiveram) essa habilidade muito bem desenvolvida. Pense em quantas coisas você deixou de fazer porque se sentiu ridículo, ou com vergonha, ou mesmo medo do resultado ser tão ruim que as pessoas iriam rir de você.

Imagine quanta coisa boa a gente tá perdendo porque não confiamos na nossa capacidade. Esportes, ciências, artes… qualquer segmento. Por outro lado, faça uma lista rápida de gente que faz muito sucesso, mas o que elas fazem não é lá tão bom. Toda vez que eu penso “eu poderia fazer melhor que isso”, porque eu não vou lá e faço?

Desde criança eu nunca fui muito bom em compartilhar problemas ou coisas pessoais. Talvez por ter tentado com as pessoas erradas ou momentos errados, as experiências ruins me geraram um bloqueio de me abrir. Isso não é bom, isso nunca é bom. Eu, que adorava os holofotes (reunia pessoas para contar histórias, era totalmente extrovertido), me vi abraçando os bastidores e morrendo de medo de ser o centro das atenções.

Isso acontecia também no ambiente familiar. Meu medo de confiar nas pessoas minou completamente minha confiança em mim mesmo. Com os anos se passando, isso vai fazendo coisas ruins com sua mente e, provavelmente, com seu corpo também. Me tornei uma pessoa ansiosa. Primeiro acalentado por cigarro e comida, depois apenas por comida.

A terapia, como um todo, mesmo com tão pouco tempo, já tem me ajudado a ver as coisas mais claramente. Porque uma vez que eu tirei algo de dentro de mim em uma sessão, ficou mais fácil falar com minha esposa, ou com minha família. Há muito tempo não me senti tão bem quanto na última semana. Talvez tenha sido o carnaval, uma época sem dúvida feliz, talvez tenha sido algum resultado. Quero acreditar mais na segunda, porque eu preciso da minha confiança.

Ela me dá poder.

Eu me sinto como se pudesse pegar mais um cliente sim. E que pudesse escrever um livro sobre comunicação enquanto escrevo meu romance. E que eu posso mudar meus hábitos para coisas mais saudáveis. E que eu posso fazer vídeos, construir parcerias, encontrar meus amigos, viajar…

Nem o céu é mais o limite. Autoconfiança é inversamente proporcional à autodepreciação. Quanto mais confio, menos julgo. Confio porque sou aceito, sou aceito porque me mostro de verdade. E se não for, bem, não sou eu que saio perdendo.

Sua família, algum amigo íntimo, seu companheiro(a). Se não conseguir encontrar um porto seguro, eu recomendo a ajuda profissional. Faz diferença. E tem várias formas de conseguir um bom profissional a um preço acessível.

Se quiser se abrir, conversar, trocar uma ideia, é só responder aqui. Troca de força e palavras de incentivo não faltam.

Obs.: Este artigo foi originalmente publicado no Medium do autor.

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Leitura complementar

Aos meus amigos homens: façam terapia;

Isso sem falar das tretas mentais e psicológicas. Depressãobaixa autoestima, síndrome do pânico, insegurança, acessos de raiva... tem uma infinidade de doenças, síndromes e broncas ignoradas que a gente resolve metendo um uiscão/beckão/carreirão por cima ("eu vou beber pra esquecer meus problemas...") , que a gente deixa pra chorar no banho quando ninguém tá vendo, que a gente engole em seco e deixa pro corpo somatizar...

Resolver, resolver mesmo, a gente só resolve se for problema na firma. Cê deve saber do que eu tô falando.

Cultive mais autocompaixão, ao invés de mais autoestima | 23 dias para um homem melhor #20

"Que tal nos sentirmos bem com nós mesmos, sem a necessidade de sermos melhores do que outros, caindo assim na armadilha do narcisismo/auto-reprovação?

Autocompaixão envolve sermos gentis com nós mesmos, quando a vida dá errado ou notamos algo sobre nós que não gostamos, em vez de sermos frios ou severamente autocríticos.

Ela reconhece que a condição humana é imperfeita, assim, nos sentimos conectados aos outros quando falhamos ou sofremos, em vez de nos sentirmos separados ou isolados."

publicado em 13 de Julho de 2017, 00:00
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Pedro Turambar

Pedro tinha 25 anos e já foi publicitário. Ganha a vida fazendo layouts, sonha em poder continuar escrevendo e, quem sabe, ganhar algum dinheiro com isso. Fundou o blog O Crepúsculo e tem que aguentar as piadinhas até hoje. No Twitter, atende por @pedroturambar.


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