Quando minha esposa virou uma estranha | Vida de pai #13

De repente ela não é mais aquela que você conheceu. E nem você.

Eu costumo dizer que cuidar de criança é fácil.

Brincar, botar pra dormir, dar comida, trocar fralda e levar pra passear? Passaria o dia inteiro com a minha filha. É claro que é cansativo, mas pra mim é extremamente gratificante fazer isso.

O difícil é coordenar a criação dos filhos com os adultos que estão em volta: esposa, mãe, sogra, chefe, colegas de trabalho, cliente, vizinho e todo mundo que participa diretamente ou indiretamente da sua nova rotina.

É óbvio que ninguém cria um filho 100% sozinho e nem é o que eu penso ser o melhor para a minha filha. Mas o ponto que eu quero levantar é que a criação de uma criança não é uma relação de um para um, mas de várias pessoas que se coordenam para conseguir criar um ambiente favorável no qual uma criança possa crescer.

E o mais difícil pra mim foi alinhar isso com a minha esposa.

Não por dificuldades específicas na relação ou por qualquer um dos dois serem pessoas difíceis de lidar. Mas porque nós viramos estranhos um para o outro.

Os diversos pontos em comum com a minha esposa não eram tão comuns assim quando a gente colocou o elemento “criação de filhos” na equação.

De repente aquele casal que adora sair para jantar, dividir uma garrafa de vinho branco, enrolar na cama no domingo de manhã, receber os amigos em casa e planejar a próxima viagem de férias não podia mais fazer nenhum dos seus programas favoritos.

Precisei debater assuntos sérios e delicados que a gente nunca tinha colocado em pauta antes como:

“Acho que nossa filha está assistindo tv demais.”

“Não acho certo a maneira que sua mãe faz.”

“Nossa filha já tem brinquedos demais, ela não precisa de tantos assim.”

“Quando vamos parar com a amamentação?”

“Não quero tratar a doença do nosso filho dessa maneira”

Coloque aí que a maioria dessas discussões foram feitas sob privação de sono, criança chorando, finanças desajustadas (também conhecido como saldo negativo), alterações hormonais, dias sem sexo e meses sem fazer um programa a dois com sua esposa.

Quando me dei conta, aquela mulher do meu lado não era mais a moça com quem eu me casei, as prioridades dela eram outras, a disponibilidade era outra, nossos assuntos em comum eram outros. Também percebi que eu não era mais o mesmo e havia mudado sem perceber: tinha outros programas, outros interesses, outras prioridades e até outros amigos.

A gente não era mais a mesma pessoa um para o outro.

Esse casal de 2011 não existe mais, uma pena, eles eram tão legais.

Foi um baque pensar que eu nunca mais teria minha esposa e aquele relacionamento de volta. Aquela enrolada na cama no comecinho do dia foi trocada por despertares repentinos as 6:30 da manhã. Aquele sexo que começava nas mensagens de texto antes de chegar em casa, virou uma rapidinha na hora que o bebê dormia e sem fazer muito barulho pra não acordar.

Aquela moça que gostava de usar vestidinhos de verão agora veste roupas largas, que facilitam na amamentação, a maquiagem que ela sempre gostou tanto de usar perdeu o sentido, já que passamos a maior parte do tempo em casa. Eu, que sempre gostei de preparar jantar para os amigos, fico tão exausto nos finais de semana que só quero descansar. E aquela energia toda que a gente gastava um com o outro passa a ser dedicada a nossa filha.

Pensei em todos os casais conhecidos que se separaram depois que seus bebês nasceram, inclusive os meus pais, e mesmo não conhecendo a intimidade deles eu entendi porque um casamento fica tão volátil.

Nos custou horas de conversas e um bocado de paciência um com o outro para que conseguíssemos ficar no mesmo barco, dividir as frustrações, os medos e as expectativas. As coisas estão se ajustando, mas temos plena consciência que nunca vão ficar 100%. Daqui a pouco surge uma nova bronca pra gente lidar como casal.

No fim das contas, as relações humanas também caem no Darwinismo, elas precisam se adaptar para sobreviver.

Mas existe esse casal aqui. Eles tem muito mais problemas, responsabilidades e buchas que o outro. Mas juntos eles criaram uma filha maravilhosa e se orgulham disso.

Um beijo especial para a minha esposa que tem aguentado a barra comigo.

Te amo.

Um convite especial: venha para o PAI, nosso evento anual sobre paternidade

Já estão abertas as vendas de ingressos pro nosso evento anual, o PAI. Estamos super empolgados de ter a chance de fazer o evento mais uma vez e queremos transformá-lo em uma tradição do Papo de Homem. Como foi um pedido da própria comunidade, esse ano vamos focar em aspectos práticos da paternidade. Tudo o que você precisa saber pra não quebrar cabeça com a rotina da paternidade.

O corpo de palestrantes está lindo. Temos desde algumas mulheres importantes, como a Rita Monte, contando sobre o que os pais podem aprender sobre companheirismo entre pais com os grupos de mães, até o Tiago Korch falando sobre como fica o sexo após a chegada dos filhos, passando pelo Ismael dos Anjos contando sobre como a forma como somos criados afeta a forma como criamos nossos filhos. Vai ser bem bonito!

Você pode ver mais detalhes no Sympla e já garantir o seu.


publicado em 07 de Fevereiro de 2017, 19:15
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Rodrigo Cambiaghi

é especialista em mídia programática, monetização de sites e BI. Reveza o tempo entre filha, esposa, cão, trabalho, banda, moto, games, horta de casa, cozinha e a louça que não acaba nunca.


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