Às vezes eu queria poder voltar no tempo e ter altos papos comigo mesmo.
Essa semana minha timeline fala bastante sobre o ENEM. Claro, como sempre, tem de tudo.
Fico feliz que uma boa parcela dos posts sejam de gente que compreende as várias camadas e sutilezas de um desastre no vestibular.
No entanto, os que mais me chamam atenção, por aversão, são os que gostam de apontar o dedo sobre os que vão mal nas provas, e fazem discursos enfurecidos sobre como eles deveriam ter estudado muito mais e são pessoas piores por terem perdido um ano da vida em pura vadiagem (numa versão vestibularesca do Datena).
E sempre temos aqueles que dizem sentir prazer em rir da tragédias dos que se atrasam e choram desesperados.
O pior é que eu consigo entender de verdade, de coração, quem faz isso. Eu já fui essa pessoa, inclusive, quando era eu quem estava mandando mal nessas provações da vida.
Aliás, viver nesse mundo, fazer parte dele e pensar assim é a pior coisa que pode acontecer quando você passa pela experiência de mandar mal em algo que todo mundo espera de você o contrário. Afinal, não são só os dedos dos outros apontando, mas o seu próprio julgamento que pesa mais que um vagão do trem da linha vermelha do metrô às 18hrs.
Você se imagina sendo o assunto da família nas próximas reuniões. Enxerga aquele seu tio meio bonachão que gosta de falar mal de vagabundo — e antes parecia tão engraçado — agora disparando verbalmente contra você. Dá pra ver a cara de decepção da sua mãe, seu pai esperando aquela boa notícia e se frustrando e, acima de tudo, você perdendo toda e qualquer chance de se destacar e sair da linha daqueles que vão passar o resto da vida lutando pra ter o que comer.
O mundo não é um lugar fácil. De fato, muita gente que não consegue passar pelo grande filtro do ENEM dificilmente vai ter outra chance de saída das condições duras em que vive.
Mas nem só de vestibular vive o mundo.
Se eu tivesse que dizer pra mim mesmo uma só coisa hoje, quando fiz o vestibular pela primeira vez e não passei, seria: cara, aprenda a falhar e seguir em frente com isso. Fracassar é completamente normal.
É uma bosta? Você se sente horrível consigo mesmo? Com certeza. Porém, a maioria dos fracassos, ainda assim, são como vírgulas, batidas secas de bumbo, buracos na estrada, pneus furados. Essas dores passam e logo você está pronto pra outra.
Eu sei, é humilhante quando você vê essas pessoas rindo de gente como você. É um inferno.
Então, Luciano de ontem, da próxima vez que se ver em crise por causa de algo que fez e foi horrível, lembre-se: não é o fim do mundo.
E, por favor, ensine isso pro Luciano de hoje. Ele sempre precisa.
Nota: esse texto foi originalmente publicado no Medium do autor.
publicado em 08 de Novembro de 2016, 16:04