A gente vai ser feliz de verdade? Observando nossa própria mente

Conversamos com o Henrique Lemes sobre felicidade genuína e mundo interno

Imagina só, viver uma vida em que nenhum fator externo te deixa abalado e que a impermanência das coisas não embote em ti frustração ou ciúmes ou então mexa com a sua estabilidade emocional.

Parece impossível. Chega aqui mais pertinho, então.

No evento Homens Possíveis, que o PapodeHomem realizou agora em dezembro, nós conversamos sobre O que é e como cultivar felicidade genuína em nosso cotidiano.

Na conversa, o Henrique Lemes, praticante budista, contou um pouco de seu aprendizado após passar 2 anos em retiro de silêncio e após rodar o Brasil conduzindo atividades ligadas ao florescimento humano e prática de meditação.

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Para além disso, eu pincei uma fala boa dele, numa palestra feita em São Paulo em 2016.

Sobre impulsos:

“Todo mundo sabe que fumar cigarro faz mal, que batata frita muito gordurosa faz mal… Todo mundo sabe um monte de coisa. Mas entre a gente saber e chegar na hora, num buffet de restaurante, e manter aquela visão… tem um buraco. Porque a nossa relação com a comida, por exemplo, é uma relação de energia. A gente olha e ela começa a conversar com a gente: “Venha, venha…” E a gente vai. Não é uma questão cognitiva. Não é um pensamento, não é uma ideia. É uma coisa que surge e nos pega por baixo. Quando menos percebemos já estamos fazendo. A relação que temos com as coisas é uma relação de energia.

Isso aqui é um treinamento, pessoal. Um treinamento profundo, complexo, de observação do mundo interno, dessa relação com a energia. Não é apenas uma questão teórica. Isso é super crucial para a nossa cultura porque a gente é muito teórico. A gente entende muita coisa, mas a gente não tem práxis, não tem meios de colocar isso em prática.”

E aqui, em outra conversa, a que tivemos em 2013 e que gerou o vídeo "O que aprendi observando a mente", publicado aqui no PapodeHomem no mesmo ano:

Sobre quem somos:

“Meus amigos que não são budistas ficam perguntando: e agora? o que é que você é? (…) Porque (depois do retiro de meditação) a gente fica com uma imagem, porque a pessoa vai ganhando um título, à medida que vai fazendo alguma coisa, que é a visão que a gente tem na nossa cultura. Então a pessoa faz uma coisa dessas (ficar em retiro por dois anos) é como se  agora galgasse um posto no quadro de funcionalismo budista, né.

Agora eu sou outra coisa que eu não era, uma outra identidade.

É assim que a gente se relaciona, as pessoas se encontram e perguntam umas pras outras o que é que elas fazem, o que elas são, a gente sempre responde a identidade profissional. (…) O que é que você é? Ah, eu sou advogado. Eu sou médico. Eu sou alguma coisa, a gente… eu gosto de andar de bicicleta, mas você vai dizer isso pra pessoa, não funciona”. 

Sobre a busca da felicidade:

"Aí tu começa a olhar para os países que já alcançaram isso (desenvolvimento econômico e social). Suécia, Suíça, Noruega, Japão. Países que aparentemente têm tudo. Aí tu olha [e pensa], 'será que eles estão melhor que nós?', 'mas por que eles têm depressão? Por que eles têm suicídio? Por que pessoas que aparentemente têm tudo, têm problemas?'. Muitos problemas. Vão em terapeutas, muitos psiquiatras, terapias e coisas que não terminam nunca. [...] Por que pessoas que têm aquilo, ainda parece que falta alguma coisa? O que tá faltando? Por que parece que quando eu consigo as coisas, fica sempre uma sensação que tá faltando alguma coisa? Nunca está bom. Daí a gente faz um esforço para conseguir as coisas e, quando consegue aquilo... o jogo é tão neurótico que ele já te impulsiona para procurar outra coisa.

Então felicidade é como se fosse alguma coisa que tu olha pro horizonte. Que mesmo que tu caminhe e tu ande, tu nunca chega perto. nunca consegue pegar. É sempre alguma coisa que vem depois. É sempre uma corrida, né. Só que não tem fim.

Essa é a roda. Tu anda e não sai do lugar.

[...] Aí tu começa a te dar conta que tem coisas internas que não estão bem resolvidas. Tem o mundo interno. E aí, quando tu começa a se perguntar como o mundo interno funciona, que se dá conta que simplesmente ficar correndo atrás das coisas não vai te levar muito longe... 'mas, bom, internamente, como funciona? Por que eu sofro? por que eu entro em depressão? Por que, às vezes, eu fico me sentindo mal? Por que isso acontece assim? Como é que meus pensamentos funcionam? Por que é que eu não consigo parar a minha mente?'. ´hoje é ainda mais maluco, porque tem tanto estímulo, tanta coisa. [...] E aí tu se dá conta que há um mundo interno que tu não sabe lidar direito.

E aí tu começa a procurar por respostas.

[...] Daí, num retiro, é como se fosse um treinamento da mente. (você) Vai lá lidar com a sua mente, com as suas emoções. Ele não é uma coisa espiritual. [...] O que tu vai fazer lá dentro é um processo completamente prático que diz respeito a lidar com as emoções. Aí tu vai lá e vê como tu fica com raiva, como fica com desejo,  como fica com inveja, como fica com orgulho. Como é que isso funciona? Como eu fico preso e como eu ultrapasso. Como é que a minha mente funciona? Como é que, quando eu tenho um pensamento, meu corpo reage de um jeito e a minha energia de outro? Por que é tão difícil aspirar a felicidade das pessoas?"

Então tu vai lá olhar para o que realmente importa".

Mecenas: Natura Homem

Natura Homem acredita que existem tantas maneiras de exercer as masculinidades quanto o número de homens que existem no mundo. Apoiar eventos como o Homens Possíveis e a caminhada do PapodeHomem como um todo são algumas das maneiras que encontramos para caminhar lado a lado com vocês ao longo de 2017.

Seja homem? Seja você. Por inteiro.

Natura Homem celebra todas as maneiras de ser homem.


publicado em 11 de Janeiro de 2018, 00:00
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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