A história por trás de grandes carros no cinema

Aston Martin DB5 do 007, o Rolls Royce do Grande Gatsby, o Tumbler do Batman... só coisa foda

Hollywood é solo fértil para a proliferação de artistas incrivelmente talentosos. E não estou falando dos diretores de cinema premiados ou artistas consagrados. Não. Estou falando de cenógrafos e diretores de arte, responsáveis por criar e dar vida a itens cenográficos únicos.

Afinal, onde mais você encontraria uma equipe de profissionais capaz de construir um Tiranossauro Rex mecânico, como o usado em Jurassic Park (1993)? Ou capaz de recriar o Titanic para filmar seu próprio naufrágio?

No espectro automotivo, Hollywood é especialmente inspirada, idealizando máquinas alucinadas que constituem sonhos por gerações e gerações, como os espetaculares Batmóveis, ou o voador Chitty Chitty Bang Bang de O Calhambeque Voador (1968).

Eu sou completamente apaixonado por carros. E em muitos aspectos, gostar deles é como voltar à infância.

Costumo acreditar que ninguém decide simplesmente gostar de carros. Você pode se interessar mais com o tempo e aprender através de estudos dedicados, mas o fato é que a paixão pelos automóveis, aquela irracional paixão que faz você quase quebrar o pescoço quando vê uma Ferrari acelerando pelas ruas, simplesmente nasce com você.

O ambiente, obviamente, é igualmente essencial. Como podem imaginar, filmes tiveram um peso muito grande na formação da minha adoração por carros. Meu pai não passava desenhos da Disney para eu assistir, mas me incentivava a assistir clássicos como De Volta para o Futuro (1985) ou filmes de James Bond.

O DeLorean que foi pro Velho Oeste

Eu não tinha a menor ideia do que acontecia na trama, mas quando o DeLorean do Dr. Emmett Brown aparecia na tela, era simplesmente genial. Também me acostumei a voltar várias vezes o VHS na cena em que o Sean Connery usava seu Aston Martin DB5 para tirar um Mustang conversível da estrada em 007 Contra Goldfinger (1964).

Em um mundo sem internet, ou DVDs, passei boa parte da minha infância tentando encontrar alguma locadora de filmes que tivesse o VHS de Se Meu Fusca Falasse (1969). Sem sucesso, diga-se. E hoje pode até parecer ridículo, mas só quem viveu sabe o que era esperar o guia de domingo da Folha de São Paulo para conferir se entraria em cartaz na programação da Rede Globo naquela semana.

Lembra do Herbie?

Também atribuo a esses pequenos deleites automotivos infantis, parte da minha adoração por cinema. E revisitando estes filmes, já maior, finalmente percebi o quão bom o são, o que apenas tornou a experiência ainda mais deliciosa.

Mas com o crescimento, parte da magia igualmente é perdida, se uma criança pode até imaginar as mais extremas possibilidades retratadas nas telas, com aquele fascínio e brilho nos olhos típicos das juventudes do passado, ainda não corrompidas por malditas telas de smartphones e tablets, com o tempo fica incontroversamente clara as limitações do ramo. Hollywood é uma terra de ilusões, não tenha dúvida disso.

Objetos cenográficos, assim, são idealizados para funcionar nas telas. Fora delas, entretanto, nem sempre são objetos tão iluminados como podemos supor. Alguns sequer funcionam como deveriam. Ou sequer existem, já que vivemos uma era onde tudo é filmado em frente a uma tela verde. Ou azul.

Buscando informações sobre meus antigos (e novos) pequenos trajetos de volta à infância, também desenvolvi certo fascínio pelo poder de criação dos profissionais do cinema. O poder de um objeto cenográfico só é limitado pelo poder da mente humana. E das telas de cinema. O genial seriado Hollywood Treasure (2010-2012), que acompanha o dia a dia de uma empresa que leiloa itens usados em filmes, pode muito bem comprovar isso.

O contexto por detrás de alguns dos veículos do cinema, muitas vezes, pode ser incrivelmente curioso e fantasioso. Muitas vezes, pode até ser totalmente incoerente. Eis aqui 5 exemplos de carros cinematográficos famosos, e suas histórias, que compravam que os bastidores podem ser ainda mais interessantes que seus próprios filmes.

 1. O misterioso caso do Aston Martin DB5 de 007

“Assento ejetável. Você está brincando” – diz James Bond. “Nunca brinco sobre o meu trabalho” – responde Q.

O filme é 007 Contra Goldfinger (1964), terceiro da série James Bond, e o carro é o legendário Aston Martin DB5. Assim como o veículo retratado nos cinemas, a história real do DB5 de 007 é tão cinematográfica e folclórica quanto o próprio filme que o tornou famoso.

O herói e seu carro, o Aston Martin DB5

Ian Fleming, criador dos livros de 007, foi ele próprio um agente secreto britânico, de forma que o personagem herdou doses homéricas de sua personalidade, sendo o verdadeiro alter-ego do escritor. Entretanto, Fleming nunca atuou em campo, tendo desempenhado um trabalho burocrático somente, de forma que Bond era um reflexo daquele ideal de vida que o próprio Fleming sempre sonhou para si mesmo.

Entusiasta de carros, o autor transferiu sua paixão para o papel, e em seus primeiros livros deu a Bond um antigo Bentley 4½ litros do final dos anos 20, famoso por ter vencido Le Mans. Entretanto, enquanto escrevia o romance Goldfinger (1959), Fleming recebeu uma carta de um leitor entusiasta de carros, que o aconselhou a dar a 007 um Aston Martin DB3. E assim o fez.

Aston Martin DB3, o carro que um leitor sugeriu ser a posse de James Bond

Alguns anos depois, os produtores do filme simplesmente atualizaram o modelo, e pediram à Aston Martin um exemplar do novo DB5 para ser utilizado nas filmagens. Não acreditando na viabilidade publicitária da produção, as negociações entre os produtores e a Aston foram difíceis, mas por fim a companhia automotiva concordou em ceder não um DB5 de produção normal, pois este era muito caro, mas o único protótipo original do veículo, que estava sem uso e para eles não serviria para nada.

Então vermelho, o protótipo foi pintado de prata e envido à equipe de efeitos especiais, que o preparou com uma série de objetos cinematográficos, como armas e escudos, ficando tão pesado que os produtores acharam melhor comprar um segundo veículo, agora um DB5 de produção normal, para ser utilizado nas cenas em movimento.

Os dois carros voltariam para as gravações de 007 Contra a Chantagem Atômica (1965), e após as filmagens, o DB5 normal utilizado nas cenas em movimento foi devidamente recheado com armas cenográficas iguais as do protótipo, passando a ser exposto promocionalmente.

Pouco tempos depois, em meados de 1968, em uma das manobras mais estúpidas da história do automóvel, um funcionário da Aston Martin decidiu vender o protótipo original utilizado nas filmagens como se fosse um DB5 usado, e para isso mandou retirar todos os apetrechos cinematográficos.

Pelas placas BMT 216A, o comprador descobriu o passado do carro, e instalou de novo as engenhocas, dessa vez desenvolvidas por oficinas mecânicas particulares, para que o carro voltasse a ficar parecido como era quando tinha as armas cenográficas.

Trocando de donos algumas vezes, o protótipo do DB5 foi leiloado em definitivo nos anos 80 para um comprador que conseguiu segurá-lo em US$ 4 milhões. O carro chegou a ser exposto várias vezes, até ser roubado em 1997 de um galpão alugado no aeroporto Boca Raton, na Flórida, num crime jamais solucionado. Seu dono recebeu o seguro milionário.

O segundo carro usado nas filmagens, o DB5 normal, recheado promocionalmente após as filmagens de 007 Contra a Chantagem Atômica, foi comprado em 1969 e ficou nas mãos do mesmo dono até 2010, quando foi leiloado por US$ 4.6 milhões.

2. O Tumbler do Cavaleiro das Trevas

Em algum momento do ano passado, o diretor hollywoodiano Zack Snyder usou sua própria câmera fotográfica Leica para fotografar o novo Batmóvel no set de filmagem de Batman vs. Superman, que deve chegar aos cinemas no ano que vem.

A foto, divulgada pelo próprio Snyder em sua conta no Twitter, não revelava muito do novo carro, é verdade, mas era o suficiente para concluirmos algo que já era bastante óbvio, e um tanto triste: o legendário Tumbler estava com os seus dias contados.

Por muitos anos, o homem-morcego foi fadado a filmes pouco realísticos e um tanto quanto estilizados. Assim, quando o diretor Christopher Nolan lançou Batman Begins (2005), buscando um enfoque mais realístico e sombrio para renovar o personagem, foi o fim dos batmóveis extravagantes.

Todo carnaval tem seu fim

O Batman de Nolan não precisava de um carro em forma de morcego, mas de um tanque capaz de destruir o que estiver em seu caminho. Para entender a mudança de paradigma na visão estilística da história, basta ver que o carro jamais é chamado de Batmóvel em momento algum do filme. Seu nome é Tumbler.

O espetacular veículo foi desenvolvido com o conceito de ser um híbrido entre um Lamborghini e um tanque de guerra. E enquanto um carro normal nasce com um desenho, o Tumbler nasceu diretamente como uma maquete, construída pelo próprio Nolan, com peças de vários kits de montar.

E o bicho funciona mesmo

Confiado a uma empresa britânica já habituada a construir veículos para o cinema, o Tumbler se tornou desafio da engenharia, já que o projeto não tem eixo dianteiro, e suas rodas dianteiras são independentes, ligadas apenas à lateral do veículo.

Feito inteiramente sob medida, dos chassis aos freios, o primeiro protótipo demorou cerca de um ano para ser construído. A ideia de Nolan era fugir de qualquer resquício de artificialidade, e por isso a equipe foi incumbida de criar um veículo totalmente funcional. A suspensão progressiva, por exemplo, foi desenvolvida para aguentar pulos de até 9 metros de altura, e toda a lateria foi feita com peças intercambiáveis, fáceis de trocar em casos de acidentes. E eles eram esperados, já que o carro foi criado não somente para pular e derrubar muros, mas para correr em altas velocidades.

Para isso, o Tumbler foi equipado com um motor V8 de 5.7 litros e 500 cavalos fabricado pela GM, capaz de fazer o monstro de 2.3 toneladas ir de 0 a 100 km/h em 5.6 segundos, e atingir uma velocidade máxima de 143 km/h.

Sete veículos foram construídos a um custo de US$ 500 mil cada. Quatro deles foram revezados durante as sequencias de ação extrema, para pulos, arrancadas e curvas em alta velocidade pelas ruas de Chicago (no filme, Gotham). Um dos carros ganhou dois tanques de gás propano para abastecer uma turbina funcional, característica típica dos batmóveis; outro, recebeu um elaborado sistema hidráulico que o lança em grandes alturas; e um terceiro foi equipado com o teto "dobrável" por onde Bruce Wayne entra e sai do veículo - neste, o piloto real ficava escondido das câmeras em outro compartimento, enquanto o ator Christian Bale fingia estar no comando. Uma versão em escala 1/3, de controle remoto, foi construído para a sequência onde o veículo pula de telhado em telhado.

Entretanto, o interior luxuoso e tecnológico visto nos filmes nada mais era do que um cenário montado em estúdio. Nenhum dos veículos tinha um interior semelhante ao mostrado no filme. Na realidade, a visibilidade interna era tão ruim, que havia câmeras auxiliares para mostrar o exterior em pequenas telas em frente ao volante. Mesmo assim, os pilotos precisaram de vários dias de testes antes do início das filmagens.

Um dos carros funcionais ainda pertence à Warner Brothers, que o expõe junto de outros carros cinematográficos no museu da companhia. Hora ou outra ele aparece em algum evento pelos EUA. Os demais Tumblers construídos, ao que se sabe, foram encaixotados e enviados de volta para a Inglaterra.

Infelizmente os tempos do Tumbler ficaram para trás. Mas a julgar pelas fotos divulgadas por Zack Snyder, sem contar as muitas fotos vazadas das filmagens, sua filosofia continua inalterada. E isso, já é reconfortante.

3. O espetacular veículo do incompreendido A Liga Extraordinária

Ocasionalmente, objetos cinematográficos vão a leilão. Acabadas as filmagens, motivos diversos podem fazer com que itens usados em determinada produção acabem nas mãos do público. Um destes espetaculares objetos esteve sob o martelo de um leiloeiro em julho, e é um dos itens mais legais do mundo automotivo cinematográfico: o carro do Capitão Nemo.

Quando o ex-James Bond Sean Connery, então aos 70 anos, se recusou a participar dos filmes O Senhor dos Anéis e Matrix, por considerar os roteiros ‘difíceis de entender’, acabou ficando de fora de um filão que arrebatou fortunas. Somente a trilogia O Senhor dos Anéis e sua correlata O Hobbit, arrecadaram juntas US$ 6 bilhões. Se tivesse aceito o papel do mago Gandalf, Connery teria embolsado mais de US$ 500 milhões com a série.

Pensando em compensar a própria falha de julgamento, ele aceitou participar do próximo filme ‘difícil de entender’ que fosse convidado, esperando por um sucesso garantido e anos de bolsos cheios. Sua escolha foi A Liga Extraordinária, de 2003, e bem, foi um monumental fracasso. A decepção foi tamanha, que Connery decidiu abandonar sua carreira definitivamente.

De qualquer forma, o filme era belissimamente construído, e rendeu um curioso veículo sem nome: o carro do Capitão Nemo. Poderoso como o navio submersível Nautilus, de 20 Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne, o veículo possui uma curiosa beleza e é ornamentado com detalhes de temática hindu da era vitoriana.

O design foi feito pela própria diretora de arte do filme, Carol Spier, e sua construção foi confiada para uma empresa especializada de Londres, que utilizou os chassis de um Land Rover e uma carroceria de vibra de vidro encomendada em Praga. O teto é removível.

O motor é um Rover V8 de 4.2 litros e transmissão automática, capaz de levar o automóvel a uma velocidade máxima de 128 km/h. O que não soa nada mal, considerando que o veículo possui 7 metros de comprimento e 6 rodas, sendo as 4 dianteiras esterçáveis. Devido a essa engenhosidade, o carro conta com um sistema especial de freio, que trava um conjunto de rodas dependendo do lado em que se pretende virar. Tal engenhosidade pode ser vista de relance durante o filme, uma vez que é mostrado 4 pedais, sendo dois deles para o freio. A suspensão independente hidráulica pode elevar ou abaixar o veículo.

O grande atrativo, entretanto, é sua aparência. Criado para soar perfeito nas telas, a decoração hindu representa a origem do Capitão Nemo, com destaque para as representações da deusa Ganesha, uma de cada lado da grade dianteira. A temática de elefantes também está presente nas maçanetas das portas. Tudo feito para dar a aparência de ouro envelhecido. O interior é de couro falso, sendo o banco traseiro em formato de meia-lua. A pintura branca foi feita especialmente para aparentar idade, e possui rachados propositais. Detalhes do cinema.

Apenas dois veículos foram feitos, o da foto, para tomadas externas, e um com estruturas metálicas internas para filmar sequencias de dentro do carro. O veículo perfeito, feito para as externas, já foi exposto no Essen Motor Show na Alemanha e no Car Show de Londres, iria ser leiloado em 11 de julho no Reino Unido.

O preço estimado para a venda estava entre £ 18 e 25 mil (cerca de R$ 120 mil). Não parece muito para algo tão singular. Mas vale ressaltar que, apesar de completamente funcional, o carro continua sendo um mero objeto cinematográfico, e, portanto, não possui permissão para rodar em ruas e estradas. Mas este, é apenas mais um segredo de Hollywood.

4. O errado Duese do Grande Gatsby

Com o romance O Grande Gatsby, de 1925, o escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald ganhou notoriedade por conseguir retratar fielmente os contrastes extremos dos “efervescentes anos 20”, período de pujança econômica e cultural que percorreu boa parte do mundo e culminou com a crise de 29.

Situada em 1922, a história gira em torno de Jay Gatsby, um misterioso milionário que dá festas extravagantes, regadas a álcool e Jazz, em sua mansão palaciana no vilarejo fictício de West Egg, em Long Island.

Tendo construído sozinho sua vasta fortuna, Gatsby escondia o fato de ser um “novo rico”, e fingia ser o único herdeiro de uma tradicional família abastada. Gabando-se por ter estudado em Oxford, criou para si uma persona envolta em tradicionalismos típicos da aristocracia britânica, como o abuso da expressão “old sport”,  que pode ser lida como “meu velho” (ou em minha própria tradução livre, “esportista”).

Neste contexto, não foi aleatório quando Fitzgerald escreveu especificamente sobre o belíssimo Rolls-Royce amarelo e prata, com bancos de couro verde, que passava os fins de semana, como um ônibus, carregando pessoas para dentro e fora de West Egg. O carro de Gatsby, proclamou o autor, era conhecido por toda a cidade.

Considerada o apogeu do bom gosto e sofisticação, a tradicional Rolls-Royce não era apenas uma fabricante de carros extremamente luxuosos e caros, mas sim a única escolha de uma pessoa que, como Gatsby, tentava transmitir suas raízes aristocratas. Assim, dando um Rolls ao seu personagem título, Fitzgerald sabia exatamente o impacto subconsciente que a marca traria na mente de seus leitores.

Como espertamente apontou o colunista Jerry Garrett, do New York Times, o único carro grande o bastante produzido pela Rolls-Royce em 1922 e que poderia ser descrito como um “ônibus” era o 40/50 HP, carinhosamente conhecido por Silver Ghost. Este é o carro que Jay Gatsby deveria dirigir.

Poderia ter sido esse, só que amarelo

Entretanto, na adaptação cinematográfica feita pelo espalhafatoso diretor Baz Luhrmann em 2013, com Leonardo DiCaprio no papel título, por alguma razão que passa distante de qualquer lógica, Gatsby aparece guiando um Duesenberg Model J.

Mas foi esse

A escolha é errada em vários sentidos.

Fundada em 1913 nos Estados Unidos, a Duesenberg só começou a produzir carros, em 1922, com o Model A. Interessado em se mostrar tão nobiliárquico quanto possível, Gatsby jamais optaria pelo primeiro carro de uma companhia então desconhecida. Gabando-se por ser um homem de Oxford, que mandava trazer suas roupas da Inglaterra, obviamente o milionário iria preferir o tradicional automóvel britânico.

E não bastasse esses aspectos, Luhrmann ainda cometeu um erro primário: apesar de suntuoso e extravagante, com seu imenso capô com saídas de escape cromadas, o Duesenberg Model J visto no filme só começou a ser fabricado em 1929, anos depois do período em que a história se passa.

Também não ajuda saber que o carro visto no filme é na verdade uma réplica de fibra de vidro, fabricada em 1983. Mas isso é parte da magia do cinema, já que um Duesenberg original custaria muito caro para a produção. Uma irônica analogia.

Nisso, a versão de 1974, com Robert Redford, se mostrou um pouco mais coerentes: o carro era um Rolls-Royce Phantom I, e apesar de 1928, era legítimo.

Rolls-Royce Phantom I

Extremamente valorizados nos dias de hoje, alguns são leiloados por milhões, os Duesenbergs até poderiam ser uma escolha perfeita para um aristocrata dos dias de hoje. Mas não duvide, meu velho. Jamais seria a opção de Jay Gatsby para o verão de 1922.

5. O novo e inédito Aston Martin de James Bond

No mundo capitalista e predominantemente publicitário em que vivemos nos dias atuais, quando James Bond aparece dirigindo um Aston Martin nos cinemas, pouca gente deve saber que a relação do agente-secreto com a fabricante vem das páginas dos livros.

Como dito acima, o criador da série, Ian Fleming, foi ele próprio um agente-secreto. Burocrático, e não de campo, vale ressaltar, mas mesmo assim parte da inteligência inglesa. Desta forma, deu ao personagem muito de sua personalidade, incluindo a paixão por bebidas, alta alfaiataria e velocidade.

Nos primeiros livros de 007, Fleming deu a Bond um antigo Bentley 4½ Litros, modelo que havia vencido Le Mans. Na época, a linha que separava modelos de corridas e de rua era tênue, e qualquer pessoa rica o bastante poderia sair dirigindo o mesmo carro que faria fama acumulando vitórias por aí.

Bentley 4½ Litros, o primeiro carro de James Bond nos livros

Alguns jovens endinheirados ingleses, inclusive, ficaram particularmente famosos por comprarem carros da Bentley e os usarem tanto em suas vidas pessoais, como para se inscrever em competições automotivas.

Não por menos, foram batizados de ‘Bentley Boys’ (ou os garotos da Bentley). Assim, o 4½ era a escolha perfeita para a falsa identidade do agente, que se fingia nobre e rico para poder se infiltrar na alta sociedade e ter acesso aos grandes mestres do crime.

A história a gente já conhece, o filme foi um fenômeno, e transformou James Bond instantaneamente em ícone cultural.

O DB5 ainda voltaria no filme seguinte, 007 Contra a Chantagem Atômica, de 1965. Já com o infame George Lazenby no papel principal, a Aston Martin voltaria em 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969), agora com um DBS.

Após essa aparição, entretanto, a marca entrou em um hiato de quase 20 anos, que passou por todos os filmes de Roger Moore como Bond e só terminaria em 1987, já com Timothy Dalton dirigindo um V8 Vantage em 007 Marcado para Morrer.

Em GoldenEye (1995), estreia de Pierce Brosnan no papel, apesar da infame parceria publicitária com a BMW, que passou a fornecer seus carros para o agente Bond, o antigo DB5 aparece no começo do longa, repetindo a ponta no filme seguinte, 007 O Amanhã Nunca Morre (1997). Mas foi em 2002 que a Aston voltou definitivamente, em 007 – Um Novo Dia para Morrer, último filme de Brosnan, onde Bond assume o volante de um moderno Vanquish.

BMW Z3 do James Bond de Pierce Brosnan

Representando uma retomada na série, que havia ficado muito fantasiosa e risível, o filme Cassino Royale (2006) trouxe um Bond sério, e sequências de ação realistas. Sendo um restart no personagem, o 007 vivido por Daniel Craig apareceu ganhando seu lendário DB5 em um jogo de cartas, e depois capotando espetacularmente em um belíssimo DBS, que voltaria para a alucinante sequência inicial do filme Quantum of Solace (2008).

Comemorando os 50 anos do lançamento do primeiro filme do James Bond, o filme Skyfall (2012) reuniu novamente o agente-secreto com seu lendário DB5. O filme teve a maior bilheteria da história da série 007, e reacendeu o fenômeno em torno de James Bond. E justamente por isso, a atenção midiática foi intensa com o anúncio oficial do 24º filme do espião, intitulado 007 Contra Spectre.

Trazendo Daniel Craig em seu quarto filme como Bond, o novo longa também virá com uma surpresa inusitada: pela primeira vez a Aston desenvolveu um veículo exclusivamente para o agente 007. Denominado DB10, o pequeno esportivo de linhas fluidas é diferente de qualquer outro carro da marca em produção. Com seu capô alongado, faróis afinados e a frente mais baixa já feita pela britânica, o DB10 tem um visual marcante. A traseira é curta, e todo o conjunto tem um design agressivo.

Luxo total

Somente 10 veículos serão produzidos, todos voltados para as filmagens. A mecânica e o motor V8 de 4.7 litros vêm do V8 Vantage, já que o carro é apenas cinematográfico.

Ainda é cedo para saber quais serão os segredos do novo modelo, mas pessoas ligadas à produção do filme e à Aston garantem que o carro terá um papel essencial na trama. Ah, 007 Contra Spectre está chegando aos cinemas em novembro desse ano.


publicado em 28 de Outubro de 2015, 17:25
Cassio

Cássio Delmanto

Advogado, colunista automotivo, beatlemaníaco, fanático por carros, filmes, séries, música, tecnologia e cultura inútil em geral. Se a vida lhe fechar uma porta, faça uma limonada!


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