Como assistir à Copa do Mundo sem novelas

Chega a ser chata a quantidade de piadas, textos e protestos que envolvem homens, mulheres e jogos de futebol.

Com a proximidade da Copa do Mundo, então, a coisa passa a ser ainda mais frequente, com uma variedade de argumentos e tiradas que demonstram como o assunto está próximo da erosão total. Não sei se alguém ainda ri com esse tipo de humor, o que exercita a intolerância (ainda que num grau inofensivo).

Coisa de uns 15 dias atrás circulou na web um "Guia machista para a copa do mundo", que procurava deixar bem claro que a Copa e seus jogos seriam mais importantes que qualquer coisa. A resposta feminista não demorou a surgir.

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Das duas listas, a única piada a ser aproveitada era a que ridicularizava a eterna suposição da incapacidade feminina de entender a regra do impedimento pedindo que se superasse a contravenção do futebol, há muito dominada, e sugerindo uma detalhada descrição do ciclo menstrual de uma mulher. Sério: como não achar esta tirada muito boa?

Pois então. Só que aí as pessoas seguem fazendo graça, citando as importância do futebol, a necessidade em acompanhar religiosamente todos os informes sobre a canarinho, os jogos, os replays, os comentários (isso do lado masculino) e a falta de atenção, a fissura por coxas e abdômens e a incompreensão sobre qual a grande questão em ver "22 homens com as coxas de fora correndo atrás de uma bola..." (do lado feminino).

Dessa feita, se tira algumas ideias que podem esclarecer as coisas:

Respeito ao espaço de cada um

Se o seu homem quer assistir a copa inteira, lembre das novelas que você assiste religiosamente. Não precisa nem ser novela, pra tentar fugir do clichê. Pode ser aquele programa de moda que passa na TV fechada. Não, não estamos falando de compensação: quem começa pensando assim já está indo para o caminho errado. Estamos falando de equilíbrio.

Respeite o espaço do fulano, peça que ele respeite o seu. Se o fascínio dele pelo evento está deixando você sem parceiro, frise isso para ele, mas sem entrar no mérito da Copa. Isso porque você não tem nenhum problema com a competição em si, e sim com a falta que sou parceiro faz, certo? Então, se for o caso, reclame que sente falta dele e do maior tempo que vocês passavam juntos. Reclamar da Copa ou do futebol só vai lhe render respostas como "Você assiste aquela novela e eu não digo nada" ou "Mas a Copa é só de 4 em 4 anos...", o outro extremo dessa briga eterna.

No entanto, se o sujeito for do tipo de ogro que arrota e pede "uma cerveja, mulher, que eu to aqui vendo o futebol" enquanto lhe aplica uma boa palmada nas nádegas, então o que existe mesmo é um problema. E não, tentar chamar nossa atenção dizendo que vai procurar por homens que não liguem para futebol, apelando para ciúme, traição e outras chantagens, não é uma boa ideia. É uma péssima ideia. Mais para baixo você vai saber por quê.

Link YouTube | Essa imagem – tão explorada pela mídia – da mulher só interessada no homem, esse sim com desejo autônomo (de sair ou de ver futebol), já deu, né?

Noitadas infinitas no bar do Zé

Homens gostam de sair juntos. Seu namorado, marido, parceiro também adora sair com você (ou deveria...), mas entre homens ele está entre iguais e isso tem muito mais força quando uma paixão comum agrega à macharada.

Então se o fulano quer ir assistir o jogo no boteco, bem, peça para ele não voltar dirigindo. O casal é sim uma unidade e das mais sagradas, mas homens e mulheres precisam de espaço para serem indivíduos, para cultivarem relações de amizade que não envolvam necessariamente o parceiro.

Sim, eu sei que é difícil de admitir isso em alguns casos, mas as pessoas com quem nos relacionamos não se encerram na gente. Nosso umbigo (a bronca vale para homens e mulheres) não é dotado de força gravitacional absurda. Se você vai com a turma do trabalho ver o jogo da Itália na sexta à noite, a sua "esposa, noiva, namorada, parceira, amiga ou colega" pode aproveitar para ir tomar algumas no boteco com os amigos. Este ponto também aparece na resposta feminista à lista machista de recomendações sobre a Copa. O diferencial entre as duas é que não há troca ou vingança envolvida, e sim igualdade.

A verdade é que a coisa se expande no momento em que nos entramos como indivíduos que escolheram se relacionar. Quem chegar de fogo em casa dando show e aterrorizando leva a bronca predefinida pelo casal. E não, incentivando esses momento individuais você não está facilitando o jogo para eventuais gaviões ou biscates, meu caro e minha cara.

Lembre sempre de que ninguém está com você por obrigação; logo, fidelidade é uma preocupação que deveria ser nula a princípio. Segundo que não é porque sua mulher está saindo com as amigas que ela vai imediatamente começar a responder todas as cantadas que ela leva no boteco (ou no bistrô). Assim como você não vai dar tela aos olhares femininos das mesas ao redor da sua no bar ou boteco. Tudo é muito lisonjeiro mas não deveria passar disso.

Nada como transar durante o jogo do Brasil e parar apenas no show do intervalo...

Bola pra uns, coxas pra outras

Eu sinceramente nunca conheci um casal em que houvesse qualquer tipo de restrição a homens que admiram gostosas de revista por suas mulheres, nem a mulheres que desejam babar pelas coxas e abdômens dos jogadores de futebol. Mas como a gente sabe que homens e mulheres são chegados a papéis ridículos, então aqui vai o conselho: desencane de ser ridículo. As coxas dos caras não te interessam? Deixa pras gurias que elas roem até o osso. Comparações, obviamente, são desaconselhadas, tanto para homens quanto para mulheres.

Decididamente, toda essa cagação de regra parte da impressão de que a noção de equilíbrio não é muito comum sofás afora. Praticar os extremos não é uma decisão lá muito inteligente – e você sabe muito bem por que eu estou dizendo isso... Tentar provocar, chantagear, ignorar, ser rude, machista, ameaçar greve de sexo... Aliás, greve de sexo é a maior das bizarrices em relacionamentos, afinal o sexo para mulher é uma arma para levar os homens a fazer o que elas querem ou uma forma de sentir prazer junto com seu parceiro? Sério, qual o ponto?

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publicado em 09 de Junho de 2010, 09:13
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Pedro Jansen

Acredita que o caos alimenta a vida e que ter baixas expectativas é a melhor maneira de se surpreender todos os dias, com as menores coisas.


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