Calma, não é um pepino metafórico tampouco este relato possui qualquer conotação sexual, até porque estamos conversando aqui numa coluna de paternidade, contando de um episódio com minha filha que hoje tem 2 anos e meio.
Recentemente estávamos no processo de tirar a Clara da nossa cama e fazê-la dormir sem a mãe. É um processo bem delicado e para algumas crianças é um baita choque dormir longe de quem ela foi acostumada a dormir ao lado a vida inteira. Existem diversos métodos e um dos mais famosos é o do choro controlado ou Nana, nenê. Não vou me alongar muito, mas minha esposa e eu preferimos não utilizar esse método depois que lemos alguns artigos e opiniões de especialistas.
Procuramos uma especialista em sono de bebês e ela nos passou uma metodologia que é um processo gradual: começamos colocando um colchão no chão do nosso quarto onde a mãe coloca ela para dormir e assim que a criança dorme, o pai troca de lugar com a mãe e, caso ela acorde de noite, o pai acalma a criança até ela voltar a dormir. Algumas vezes esse processo pode levar até uma hora, mas eventualmente a criança se acalma e dorme.
É bem trabalhoso e que requer um bocado de disciplina e consistência, uma noite em que o pai não dorme com a criança o processo regride.
Depois de 10 dias, o colchão no chão do quarto dos pais vai para o quarto da criança e a mesma rotina se aplica: a mãe coloca para dormir e troca de lugar com o pai, da mesma forma, se a criança acordar de noite, é o pai quem acalma e a mãe deve evitar ao máximo intervir na situação.
Uma das dicas que a especialista deu foi encontrar um objeto de transição, algo familiar que ela goste e possa levar para a cama. Isso ajuda a criança se sentir mais segura no ambiente novo. Ela recomendou um brinquedo, uma boneca, um cobertor ou uma pelúcia, que vai ajudar muito na próxima etapa onde a mãe sai de cena e o pai é quem coloca a criança para dormir.
Eu apanhei especialmente nessa última etapa. Não conseguia encontrar um objeto de transição, ela não é especificamente apegada a nenhum brinquedo ou objeto.
Tentei diversas coisas durante vários dias e nada dava muito certo, era sempre uma choradeira na hora de ir para a cama, principalmente nos dias que ela estava muito cansada.
Depois de algumas semanas dormindo muito mal e quase desistindo, num momento de choradeira, a Clara gritou:
— Quero PEPIIINO!
— Pepino, filha?
— (voz de choro) Quero.
— Com sal?
— Não...
— Limão?
— Não. Só pepino.
— Eu vou buscar na cozinha. Você espera quietinha na cama?
— (voz de choro) Espero.
Voltei para o quarto com uma pequena vasilha de pepino cortado em rodelas. Ela comeu sentada na cama, pegou uma fatia fina e, sem falar nada, virou-se para o lado e dormiu segurando nas mãozinhas a comida favorita dela. Eu, boquiaberto, me senti resolvendo a maior charada da minha vida enquanto ria da cena.
Não tirei o pepino das mãozinhas dela aquela noite com medo de acordá-la.
A Clara ama pepino. Se oferecer, ela come nas três refeições do dia e de aperitivo no lanche da tarde. Costumava dizer brincando que ela gosta mais de pepino do que dos brinquedos dela, mas agora descobri que é verdade.
Desde então, na hora de dormir, corto algumas rodelas de pepino para a Clara, algumas vezes ela nem come, outras ela cai no sono sozinha antes de eu voltar da cozinha, só dela saber que a comida favorita vai dormir no quarto com ela, já é extremamente reconfortante.
E eu, que já andava meio enjoado de pepino, voltei a comer com um carinho todo especial por ele.
Obrigado, pepinos.
publicado em 29 de Novembro de 2017, 00:00