Quais alguns dos limites e riscos nas discussões sobre masculinidades tóxicas?

"Masculinidade tóxica" não é sinônimo de "masculino". Acreditamos ser chave diferenciar os termos para sonharmos outras masculinidades possíveis

É muito comum que nossa comunidade no PdH mande mensagem, escreva e-mail ou marque a gente em posts falando sobre masculinidade tóxica.

A gente ama receber mensagens e saber um pouco mais sobre o que nossos leitores andam pensando. E como esse termo ganhou bastante relevância nos últimos anos, diante das urgentes e necessárias lutas das mulheres, acreditamos ser essencial ponderar criticamente sobre seus benefícios e danos — o que temos feito há 5 anos.

Como entendemos o termo?

Explicamos nesse artigo como temos compreendido o termo, "Masculinidade tóxica: comportamentos que matam". Segue trecho abaixo:

“Masculinidade tóxica é um termo que diz respeito a comportamentos nocivos comumente associados aos homens que vem de um espaço, de medo, dominação, controle, violência.” 

Sugerimos também buscar pelo termo no Google e no YouTube para encontrar outras definições e enriquecer seu entendimento. Não temos a pretensão de encerrar a conversa.

E quais seriam alguns dos riscos envolvidos?

Nosso editor Luciano Ribeiro abordou o tema no texto "3 pontos para avançarmos a discussão sobre masculinidade tóxica".

Masculinidade tóxica se tornar sinônimo de masculino é bastante perigoso e isso parece já estar acontecendo de acordo com as buscas no Google:

Buscas no Google pelos termos "masculinity" (masculinidade) e "toxic masculinity" (masculinidade tóxica), entre janeiro e fevereiro de 2019 — reparem como os gráficos andam praticamente juntos 
Buscas pelos mesmos termos entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020, reparem como os gráficos seguem se movimentando quase juntos

O que acontece quando meninos e jovens em formação passam a compreender o masculino como algo fundamentalmente tóxico e negativo? 

O dano causado a meninos e jovens em formação, apenas pra citar um exemplo, pode ser imenso.

Se a mensagem compreendida por eles for de que ser homem e ser masculino é inerentemente ruim e tóxico. Temos rodado o Brasil conduzindo rodas de conversa e escutamos cada vez mais jovens homens confusos e ressentidos diante disso, sem ter a quem recorrer — o que nos preocupa imensamente.

Escrevemos sobre no artigo "Existe uma crise dos meninos?"

* * *

O Guilherme Valadares oferece sua visão à respeito de todo esse contexto nesse vídeo nosso:

 

No vídeo, cita exemplos de alguns comportamentos tóxicos: “O homem que acha que vai determinar como a mulher veste ou o que ela pode fazer, que vai beber mais que todos para mostrar que é macho, que vai pra um estádio e ele acha que pode ou deve ser violento para mostrar que torce muito pelo time dele. É o que assedia no meio da rua...”

Guilherme explica que criticar estes exemplos nocivos é “muito diferente de criticar o masculino como um todo. O masculino como um todo é um espaço amplo, rico, com um potencial maravilhoso, como o feminino.” 

Então é importante fazer essa distinção para não passar uma mensagem de que o masculino como um todo é tóxico, ou que os homens todos são tóxicos. Isso não é verdade. Há comportamentos que vem deste espaço de medo , dominação, violência e controle que são, sim, problemáticos e desnecessários.

Guilherme ressalta que isso precisa ser discutido e analisado com todo o cuidado e dedicação. No entanto, para ele o problema é que “masculinidade” parece estar se tornando sinônimo de “masculinidade tóxica”.  

“Isso significa patologizar o masculino. Tratar o masculino como se fosse uma doença, um problema a ser resolvido." 

Além disso, repensar como a gente tem usado o termo “masculinidade tóxica” também é um exercício de repensar como e com quem desejamos nos comunicar: 

“A gente tem que pesar quais são os riscos e limites envolvidos nessa discussão e como a gente pode tratar ela com uma linguagem que seja eficiente para uma pessoa que está com aversão a esse termo. Não posso impor esse termo para uma pessoa achando que ela vai querer me escutar com alegria.

Então quais são as maneiras de falar sobre esse problema que vão me permitir furar a bolha e chegar em quem não está escutando essa conversa ainda?”

Para quem quiser dar um mergulho ainda maior nessa discussão

Aqui falamos sobre os prejuízos que a parte tóxica da masculinidade traz aos homens apresentando alguns resultados da pesquisa que o PdH realizou em 2016 com a ONU Mulheres:

https://papodehomem.com.br/a-masculinidade-tem-sido-a-principal-inimiga-dos-homens/

https://papodehomem.com.br/a-masculinidade-tem-sido-a-principal-inimiga-dos-homens/

Já assistiram ao documentário "O silêncio dos homens?

O vídeo acima é parte do projeto "O silêncio dos homens". O Instituto PdH, nosso braço de inteligência, fez uma pesquisa nacional com mais de 40 mil brasileiros para entender as dores e os processos de transformações das masculinidades. Do estudo nasceu nosso documentário, um relatório público com os principais achados e mais uma série de vídeos complementares.

Abaixo está a playlist do nosso canal com o documentário completo e os vídeos extras:

 

E vocês, como enxergam o uso atual do termo "masculinidade tóxica"?

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Novo Natura Homem Dom é inspirado no homem que tem o dom de unir sua força e doçura. Acreditamos que há diferentes formas de masculinidades e apoiamos esse movimento. O homem não precisa encarar sua realidade de forma tradicional ou radical. Não há mais motivos para ser extremista. Esse homem aprendeu a seguir sua compaixão e decidiu agir da sua forma no mundo, encontrando balanço para quais batalhas valem a pena encarar e como as enfrentará.

Natura Homem Dom celebra o homem que chora, o homem que ri, o homem que demonstra sentimentos, o homem com coragem pra dizer 'Te amo".


publicado em 29 de Janeiro de 2020, 06:00
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