Vivemos sob um contrato social implícito desde que nascemos: o de tomar o lugar dos adultos, de preferência numa versão melhorada e mais bem sucedida que a geração anterior.
A escola é umas das nossas principais fontes de conhecimento. É o primeiro passo de um longo investimento que vai te levar a uma carreira profissional brilhante que deve deixar toda a sociedade orgulhosa.
Mas, logo no ensino fundamental, muitas vezes nos percebemos confusos sobre o porquê de estudar metade das coisas que estudamos, e por isso mesmo, o colégio pode se tornar a primeira experiência de emprego frustrada de nossas vidas.
As escolas te preparam para entrar na universidade, e as universidades te preparam para o mercado de trabalho.
No meio dessa trajetória, ENEM.
Será que isso dá certo?
Pensa comigo: São 7,7 milhões de pessoas concorrendo a 205 mil vagas em uma universidade federal brasileira. Tá na cara que muita gente vai se dar mal nessa história.
No entanto, até o fim do nosso ensino médio, acreditamos que um curso superior (de preferência em instuições de ensino [IEs] públicas) é o único caminho para sermos bem sucedidos profissionalmente. Ou até mesmo o mais fácil.
O problema é que, ao avaliar as universidades, o ponto mais negativo listado pelos estudantes é justamente a inadequação das instituições na preparação para o mercado de trabalho, como mostra esse estudo a respeito da transição da Universidade ao Mercado de Trabalho.
Ou seja: há uma diferença brutal entre o contrato social e o que acontece na prática: as IEs não estão preparando os jovens para o mercado, segundo sua própria avaliação.
Eu, como empreendedor que possui um diploma, posso atestar que, mesmo valorizando o trabalho desempenhado pelos meus professores, confesso que a maioria das habilidades que utilizo hoje na minha empresa não foram herdadas do meu curso superior.
Uma boa parte do modelo universitário, ainda que haja exceções, nos prepara para que nos tornemos pesquisadores; seguindo para a pós, como um mestrado ou doutorado. O que é bacana, afinal você está gerando ciência, uma das coisas mais importantes para um país. A menos que você esteja no Brasil, onde o estudante de mestrado não é sequer considerado trabalhador diante da lei.
Ao terminar a pós, voltamos à velha decisão sobre o que fazer: estudar para um concurso, trabalhar em uma empresa ou montar seu próprio negócio. E, nesse ponto, quero deixar uma coisa clara: não há uma resposta certa sobre que caminho seguir. Ser pesquisador é legal, fazer concurso também; apenas não são os únicos, ou necessariamente os melhores caminhos.
O pesquisador de Harvard, Howard Gardner, fala em sua pesquisa [em inglês] que possuímos Inteligências Múltiplas. Ele as divide em várias sub-áreas, alegando que um indivíduo que não tem habilidade com multiplicações não necessariamente é menos inteligente que outro, apenas pode ser melhor desenvolvido em outras áreas.
Provas como o ENEM conseguem medir apenas as áreas lógico-matemática e linguística. Portanto, há um universo de outras áreas onde você pode se desenvolver e ser bem sucedido, seja qual for seu resultado nesses testes.
Mas o que eu faço, então?
Independentemente de você passar no ENEM e concluir o seu curso em uma IE pública, uma das melhores formas de você conseguir experiência para o mercado de trabalho é trabalhando.
Pode ser interessante desenvolver alguma habilidade desejável pelos outros, mesmo que não tenha relação com o seu curso dos sonhos. Independentemente da atividade, se coloque nessa posição (desconfortável, eu sei) de aprender a resolver problemas e necessidades de outras pessoas.
É esse o resumo do mercado de trabalho: trocar o seu tempo e suas habilidades pelo tempo e habilidades de outras pessoas, em forma de uma moeda comum. Quanto antes você entender as nuances e peculiaridades dessas trocas, mais potencial você terá para ser bem sucedido profissionalmente.
Seja qual for a sua definição de sucesso, um trabalho, mesmo que temporário, pode te proporcionar:
Uma visão de mundo mais ampla
Sua mente pode nunca mais ser a mesma. Fica mais fácil entender o que é estar do outro lado da mesa e deixar de ser apenas consumidor.
Responsabilidade
De repente, outras pessoas dependem do que você faz. Se tudo correr bem, isso vai te gerar disciplina para honrar horários, compromissos e atividades. É importante manter a palavra.
A chance de conhecer parceiros valiosos para o futuro
Trabalhando, surgem oportunidades de lidar com uma variedade enorme de pessoas que não conheceria de outro modo. Cultivar alguns desses relacionamentos é a chave para bons negócios futuros, mesmo que você esteja atuando em um ramo totalmente diferente.
Independência
Mesmo que seu salário seja pouco, ganhar o teu próprio dinheiro pode fazer diferença e te ajudar a valorizar mais as coisas que possui, além de poder comprar alguns mimos que parecem bobagem aos olhos dos outros, mas que você gosta muito.
Não tenho todas as respostas, mas garanto que o aprendizado adquirido vai mudar a sua percepção de mundo.
publicado em 28 de Outubro de 2015, 15:40