"Perdi meu marido de 39 anos para o Coronavírus"

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Hoje vamos compartilhar a história de Conrad Buchanan, um marido e pai dedicado, que morreu após contrair o Coronavírus, na Flórida (EUA). Esse relato foi originalmente publicado na newsletter de Katie Couric. Traduzimos e editamos para publicação no PdH.


Conrad, sua filha Skye, de 12 anos, e a esposa Nicole

Conrad Buchanan acordou com uma leve febre e dores no corpo na manhã de 14 de março — o dia exato no qual ele, sua esposa Nicole e a filha Skye, de 12 anos, tinham programado sair de férias.

Ele trabalhava como DJ, estava sempre em grandes festas e aglomerações. Mas quando acordou naquele dia, suas costas doíam tanto que ele disse a Nicole que talvez precisassem de um novo colchão.

À medida em que o dia seguia adiante, ele foi piorando, com dores corporais mais intensas e náusea. Ele foi testado para saber se estava gripado, mas o teste deu negativo. Seu médico o deu uma receita para fazer um teste de Covid-19 (Coronavírus), mas como ele não tinha questões de saúde, estava com apenas 39 anos e nem tinha saído do país recentemente, ninguém aceitou testá-lo.

Os sintomas seguiram se intensificando. Na quarta-feira, dia 19, ele estava com uma tosse terrível e diarréia. Quatro dias após os sintomas iniciais, Conrad finalmente conseguiu fazer um teste para o Covid-19, após o qual foi orientado para permanecer em auto-isolamento. No dia 21 de março recebeu os resultados: havia testado positivo para Covid-19. O Departamento de Saúde o instruiu a ficar em casa e ir para o hospital se tivesse problemas ao respirar.

Na mesma noite seu corpo já estava tão exausto por conta da tosse e das dores que não conseguia mais caminhar até o banheiro. Nicole nos disse que ela soube ser hora de levá-lo ao hospital.

O relato de Nicole

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"No domingo já podia notar que estava bem difícil ele conseguir respirar. Insistia que deveríamos ir, mas ele dizia estar com medo de ficar no hospital. Mas como seu pulso estava fraco — 84 — sabia que não havia outra coisa a se fazer.

Nós chegamos no hospital — o Centro Médico Gulf Coast, na Flórida — e até então ele está falando comigo. Ele diz aos socorristas do pronto-socorro, já com bastante medo: 

— Minha esposa tem que vir comigo. 

Mas a equipe do hospital rebate. 

— Ela só precisa estacionar o carro e vamos trazê-la com você. 

Após parar o carro e correr pra entrada, a equipe não me deixou entrar. Não consigo mais entrar no pronto-socorro, ninguém está falando nada comigo e o hospital está completamente fechado.

Uma hora se passa e finalmente falo com um médico que diz: 

— Entubei seu marido e coloquei ele num respirador, enquanto aguarda vaga na UTI.

— O quê? Por que colocou ele num respirador? 

Ninguém me ligou, ninguém me disse o que estava acontecendo ou quais eram as recomendações. Sei que meu marido jamais teria tomado aquela decisão sozinho. O médico me disse apenas que esse era o protocolo durante a pandemia.

* * *

À noite Conrad teve embolia pulmonar, o que afetou seus pulmões e o lado direito de seu coração.

Nicole nos explicou que apesar dela ter entrado "escondida" no hospital, não permitiram a ela encostar ou permanecer no quarto com seu marido. Uma enfermeira colocou um celular no ouvido dele para que pudesse escutar suas palavras. 

Nicole conta que "naquela altura ele já estava sedado e paralisado. A enfermeira foi incrível, ela viu e sentiu minha dor. Pedi a ela pra me avisar quando o quadro se modificasse. Na quinta ela me ligou e disse que seu nível de oxigênio havia caído pra 40 e que seu coração estava sendo bombeado por máquinas. Já havia sofrido dano cerebral. Eu sabia que essa não era uma vida que ele queria viver. Ele sempre cantava "Três passarinhos" pra nossa filha, então quando a enfermeira nos colocou no telefone com ele, cantamos juntos essa música pra que pudesse escutar em seus últimos momentos de vida. Conrad morreu naquele dia às cinco e quarenta e cinco da tarde."

Dos primeiros sintomas ao óbito foram apenas 12 dias.

Agora Nicole está lutando pra fazer uma autópsia: "Quero respostas. Nem mesmo examinaram o corpo de meu marido ainda. Estão querendo dizer que ele faleceu de causas naturais. Mas precisam examinar seu corpo pra ter as respostas. Esses médicos não sabem o que estão fazendo. Não estão prontos, não estão preparados. Todos estão com medo. Não queriam nem testar a mim para o Covid-19, sendo que estive em casa com ele por 16 dias. Acabei conseguindo comprar um teste e descobri que estou positiva para o vírus, mas o único sintoma até agora é que não consigo sentir o cheiro ou sabor de nada. Por que ele morreu e eu estou bem?"

Nicole acionou o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos para fazer uma reclamação e ficou sabendo que só estão fazendo autópsias em 5% das vítimas do Coronavírus. "Nós precisamos preparar esses hospitais e médicos, precisamos descobrir o que aconteceu com ele. Ele era tão amado pela comunidade. Um homem divertido, sempre com energia positiva. Seu único desejo era aproximar a todos por meio da música. Jamais, nem mesmo em um milhão de anos, gostaria que alguém passasse pelo que estou passando agora. Parece que estou em um filme de terror."

Por fim, conclui reforçando que todos que podem fazer isso devem ficar em casa, pois ela não deseja a nenhuma família o que estão vivendo.

* * *

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Veja aqui a lista publicada pelo Governo com os 41 serviços considerados essenciais.

Uma vaquinha online já arrecadou mais de U$89 mil para ajudar a família 

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Por fim, oferecemos uma leitura para intensificar nossa esperança:

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publicado em 08 de Abril de 2020, 15:15
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