Há algum tempo tenho me dedicado, paralelamente às atividades de subsistência, à procura de material sobre sustentabilidade. Algo que me chamou a atenção foi o chamado "Repair Manifesto", dos designers do Platform 21.
Este projeto despertou interesse também em alguns amigos, que me sugeriram traduzir o texto e trazer aqui para o site, comentado. Uma ótima ideia, já que este texto começa uma pequena revisão em nossas posturas. Nesse momento me deparei com o maior desafio, totalmente imprevisto, de se levar a cabo esta tarefa: traduzir o termo “repair”.
Repair pode ser reparar, como adotei por fim, mas há outros sinônimos. Consertar, emendar (ou remendar), arrumar... e percebi que se atribuía uma conotação negativa sutil em cada um destes termos. Como se fazer alguma coisa que não funciona adequadamente voltar a operar fosse algo muito ruim.
Isso está dentro de nossa cultura, cada vez mais.“Não vale a pena o conserto, melhor trocar o produto” é uma frase muito comum hoje. As lojas de reparos de produtos minguam e desaparecem nas cidades. Com o imenso poderio industrial mundial jogando uma massa de produtos com vida-útil planejada no mercado, não poderia ser diferente.
... ou poderia?
O questionamento surge desse texto abaixo, baixado mais de um milhão de vezes, segundo os criadores apregoam.
Manifesto Reparar*
1. Faça seus produtos durar mais tempo!
Fazer reparos significa dar a um produto uma segunda vida. Reparar não é anti-consumo. É anti-descarte desnecessário.
2. As coisas devem ser desenhadas para que possam ser reparadas.
Designers de produtos, façam seus produtos reparáveis. Compartilhe informações claras e compreensíveis sobre reparos com o consumidor.
Consumidores, comprem coisas que vocês sabem ser reparáveis, ou tente saber porque elas não existem. Seja crítico e inquisitivo.
3. Reparo não é substituição.
Substituição é descartar uma parte quebrada. Este NÃO é o tipo de reparo que estamos falando.
4. O que não mata, fortalece!
Toda vez que você repara um objeto, adicionamos algo a seu potencial, história, “alma” e beleza inerente.
5. Reparar é um desafio criativo.
Fazer reparos é bom para a imaginação. Usando novas técnicas, ferramentas e materiais, você desperta possibilidades, ao invés de becos sem saída...
6. Reparar sobrevive a moda.
Reparar não é adaptar a estilos e tendências. Não há data de validade para itens reparáveis.
7. Reparar é descobrir.
Conforme você conserta objetos, descobre coisas interessantes sobre como eles realmente funcionam. Ou não funcionam...
8. Reparar - ainda em bons momentos!
Se você pensa que esse manifesto tem a ver com a crise ou recessão, esqueça! Isto não é sobre dinheiro, é sobre uma mentalidade.
9. Coisas reparadas são únicas.
Ainda uma cópia torna-se original quando você a repara...
10. Reparar é independência.
Não seja um escravo de tecnologias. Seja um mestre. Se algo quebrar, conserte e faça melhor. E se você é um mestre, capacite outros...
11. Você pode reparar qualquer coisa, mesmo um saco plástico.
Mas recomendamos procurar uma sacola que dure mais, e repare-a se necessário.
Pare de reciclar, comece a consertar.
*Traduzido do Manifesto disponível para download no site do Platform21
A troca de produtos que operam mal gera diretamente um descarte. Há o consumo de uma nova peça, o que a indústria agradece, mas temos que fazer frente com o problema do que vai ser feito com algo que não funciona bem. Sim, uma parte poderá ser reciclada, mas o desperdício de material proporcionalmente será maior.
Aposto.
Este descarte é necessário? Sistemas reparáveis não seriam uma solução mais saudável ambiental e ecologicamente?
Por enquanto, faço o que está ao meu alcance. Tento consumir menos e estamos começando a por em prática uma iniciativa de produção dentro de moldes sustentáveis. Materiais naturais certificados, redução do consumo de energia no processo produtivo. Relações econômicas saudáveis.
Gerar felicidade e não angústia de consumo.
Sustentabilidade é a palavra-chave. A economia hoje parece dar sinais que opera com padrões que não se sustentarão a longo prazo. Sugere-se que uma mudança nestes moldes de operação pode garantir um funcionamento harmônico das redes econômicas a longo prazo.
Isso passa por uma mudança de postura e de pensar. Quem sabe podemos começar analisando porque descartamos tanto.
publicado em 04 de Abril de 2013, 10:00