Tudo que você precisa saber para acompanhar os candidatos eleitos

Canais oficiais, agendas, aplicativos e sites de engajamento da sociedade civil. Não basta votar de dois em dois anos, tem que cobrar seus representantes

Pronto, passou a eleição. Ou ao menos o primeiro turno, em que todos os vereadores e quase todos os prefeitos são escolhidos. Durante a campanha entendemos o que faz um vereadoro que faz um prefeito, qual o impacto dos votos branco e nulos, mas e agora? Tudo termina por aqui?

É claro que não. Para que a democracia realmente funcione, a parte mais importante começa agora. Devemos fazer a nossa parte e acompanhar o trabalho de prefeitos e vereadores eleitos (tenha você votado neles ou não). Como fazer isso? Vejamos.

Comunicação oficial existe e pode ser acessível

Os canais oficiais das Prefeituras e das Câmaras Municipais durante muito tempo foram confusos, difíceis de mexer e, por isso, praticamente inacessíveis aos cidadãos. Será que melhoraram?

Vale a pena dar uma olhada nos sites desses órgãos da sua cidade, sim. Hoje em dia eles são uma das formas mais eficientes de comunicação entre o eleitor e o candidato eleito – seja o prefeito ou o parlamentar.

Agenda oficial

No próprio site da maioria das Câmaras de Vereadores, geralmente se encontra uma prévia da agenda da semana dos representantes. Às vezes estão disponíveis até prévias das semanas seguintes.

Esse é um meio bastante eficiente para acompanhar o que está em pauta e quais são os assuntos e temas mais discutidos pelos parlamentares. Consequentemente, ao acompanhar essas pautas, pode-se saber o que o seu candidato – agora representante – está pensando e levando à tribuna.

Em se tratando de Prefeitura, a conclusão é a mesma. Existem cidades que já usam seus sites como o principal meio de comunicação com o cidadão. Além de disponibilizarem questões relativas à administração pública, também informam sobre a agenda cultural, eventos, serviços de utilidade pública e outras participações que tenham a ver com a cidade e a própria Prefeitura.

Porém, como não existem sessões diárias oficiais e públicas do poder executivo, a participação popular nesse órgão é prejudicada. Normalmente, o prefeito se reúne com seus secretários e conselheiros dos Conselhos Municipais, a fim de discutir e deliberar sobre questões da cidade, e a participação popular fica por conta dos conselheiros mesmo.

Sessões plenárias

No canal mais chato, passa a programação que mais importa.

Na própria agenda da semana, consta o que haverá na ordem do dia. Portanto, nesse documento está aquilo que será discutido, quais projetos de lei serão avaliados, se existe algum projeto que já foi aprovado por comissões e agora será redigido, alguma mudança em lei, alguma colocação dos vereadores.

Além disso, em Câmaras Municipais em que existe um trabalho de comunicação mais elaborado, estão disponíveis inclusive os próprios projetos de lei em pdf, para uma maior transparência. Portanto, é possível ler a proposição na íntegra, ver de qual vereador veio e quem a apoia. Dessa maneira, acompanha-se a coerência do vereador eleito com as propostas e visões que colocou durante sua campanha.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, existe um lugar reservado à população dentro de ambientes de deliberação pública. Então, dentro de cada Câmara Municipal ou Federal em que se discutem leis, normalmente – quase 99% dos casos – as sessões são abertas à participação popular.

Já para quem não pode comparecer às sessões, mas busca conhecimento sobre como transcorreram as sessões e como foram abordados os assuntos, sempre há a TV Câmara. É uma forma de observar todas essas questões. O ponto negativo é que está disponível apenas para TV por assinatura.

Audiências públicas

Normalmente, os canais de comunicação disponibilizam os editais das audiências públicas, juntamente com o que tratam, as pessoas que envolvem, o local e horário.

As críticas de muitos cidadãos são relacionadas à transparência dos poderes executivo e legislativo municipais, por poucas pessoas terem acesso à ocorrência das audiências públicas. E apesar de os canais oficiais já estarem se organizando melhor e publicando essas informações, ainda há muito o que melhorar.

Nas cidades onde existe o movimento Rede Nossas Cidades, é feito um trabalho não só se conscientização, mas também de disseminação desse tipo de informações. Então, quando há uma reunião aberta com o prefeito, com conselhos municipais, uma sessão plenária importante ou uma audiência pública, existe a divulgação por meio da própria rede a fim de engajar os cidadãos.

Comunicação direta com prefeitos e vereadores

Tirando o orkut, ainda dá pra acompanhar alguns candidatos por essas redes.

Nos portais da transparência você pode conhecer meios de comunicação direta do cidadão com o vereador em questão ou o Prefeito. Estão disponíveis tanto os telefones de seus gabinetes como seus e-mails oficiais, por onde é possível fazer uma cobrança sobre determinado assunto, questionar posturas, sugerir pautas e etc.

Em se tratando de era digital, muitas secretarias, prefeituras e mesmo os prefeitos e vereadores utilizam redes sociais para ter uma melhor interlocução com seus eleitores e com os cidadãos. Portanto, mandar um inbox na página do Facebook de um candidato é uma forma possível de chegar até ele e de acompanhar o seu trabalho.

No mais, acompanhar as pessoas que você elegeu por meio de Linkedin, Instagram e Twitter é uma maneira nova de entender o que pensam, como estão atuando e o que propõem e fazem no dia-a-dia da vida pública.

Plataformas de engajamento da sociedade civil

Se for preciso a gente entope a caixa de entrada deles.

A necessidade de acompanhar o candidato eleito para além da agenda eleitoral fez com que institutos e cidadãos desenvolvessem aplicativos, sites e outras ferramentes para exercer engajamento pós-eleição.

Além da Rede Nossas Cidades que já citamos, um site chamado Newsletter Incancelável criou uma maneira de listar seus candidatos e, assim, mandar um e-mail diário para o eleitor com as principais notícias que envolvem o candidato eleito durante seus 4 anos de mandato. Como foi feito para as eleições gerais em 2014, por enquanto ainda não foi incluída a esfera municipal.

O aplicativo Voto a Voto foi criado para as eleições de 2014. Tem a proposta de acompanhamento do candidato para além da eleição e mede a avaliação dos candidatos por meio das opiniões dos eleitores.

Existe também o JE Processos, outro app que está disponível para os cidadãos-eleitores. O aplicativo permite o monitoramento do trâmite dos processos do Sistema de Acompanhamento Processual e do Processo Judicial Eletrônico. O usuário pode consultar por “nome da parte”, “nome do advogado” ou “número do processo”. O cidadão poderá favoritar e visualizar a lista de processos desejados. O aplicativo exibe os andamentos, o relator do caso, a origem, a ementa, as partes e os advogados, as decisões e as publicações do processo.

Um dos aplicativos desenvolvidos pelo Tribunal Superior Eleitoral, Candidaturas, foi criado em 2014 e sofreu mudanças e melhorias para 2016. Por meio dele o eleitor tem acesso a todas as informações do candidato que constam na base de dados do TSE. A mudança para 2016 foi a exibição da prestação de contas. A principal vantagem do app é que ele concede ao eleitor todas as informações do candidato, que depois poderá ser eleito. Assim, fomenta que a memória política do eleitor continue viva, deixando marcado quais candidatos foram escolhidos num determinado ano.

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E você? Já utilizou alguma dessas ferramentes, oficiais ou não, para se comunicar com seu candidato eleito? Será que eles estão cumprindo aquilo que prometeram ou sendo coerentes com as ideias que dizem ter? Agora é uma boa hora de começar. Busque essas informações, fiscalize suas ações e ajude a criar uma sociedade mais politizada.

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Nota da edição: as eleições municipais chegaram ao fim na maioria das cidades brasileiras e assim também encerramos nosso percurso em parceria com o Politize!

Desde o dia 25 de julho, foram sete artigos publicados que explicaram a importância de se interessar por política, propaganda eleitoral, coligações partidárias, funções de um prefeito, funções de um vereador, votos brancos e nulos e finalmente como acompanhar os candidatos eleitos.

Nós do PapodeHomem acreditamos muito na proposta do Politize! de levar mais educação política às pessoas. Estamos muito felizes com os resultados desse percurso e esperamos que vocês também tenham gostado.

Da nossa parte, as portas ficam abertas para que mais artigos avulsos ou relacionados surjam na tentativa de explicar questões políticas que seguem sendo confusas pra nós. Pra que siga fazendo sentido, sugestões, críticas e comentários são muito bem vindos como sempre. 


publicado em 10 de Outubro de 2016, 00:05
Carla mereles

Carla Mereles

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), colunista do Uma Boa Dose e assessora de conteúdo do Politize!.


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