A origem dos nomes das franquias da NFL – Parte 1: Conferência Nacional

Quão criativos os americanos conseguiram ser na hora de criar o nome dos times de futebol americano?

Apesar do Brasil (ainda?) ser considerado o país do futebol, um outro futebol, com bola oval, proteções, capacetes e jogado com as mãos ganha cada vez mais adeptos por aqui.

A NFL (National Football League), principal liga de Futebol Americano do mundo, monopoliza o domingo de um dos canais da ESPN e não faz isso à toa: a emissora vê cada vez mais retorno em seu investimento no esporte. Os playoffs da temporada 2015/2016 colocaram mais de meio milhão de espectadores na frente da TV, segundo dados da própria ESPN.

Com 32 franquias espalhadas pelos Estados Unidos, a NFL é a liga mais rentável do mundo e pretende ampliar a liderança. Estádios cheios e ultramodernos, salários multimilionários e o grandioso evento que é o Super Bowl – onde o show do intervalo e os anúncios também são parte do espetáculo –, todos chamarizes para a liga norte-americana. Mas quem vê tanto sucesso raramente imagina que nem sempre foi assim.

A NFL surgiu em 1920. Nesses 96 anos de história muitas franquias surgiram, inúmeras falências aconteceram, uma rivalidade surgiu com outra liga (a AFL, American Football League) até elas se fundirem e verdadeiros guerreiros entraram em campo (e em alguns escritórios) para fazer o produto entregue hoje apresentar toda essa força.

Por isso, inspirados nos artigos que contam a origem dos nomes das franquias da NBA (Conferência Leste e Conferência Oeste) e a pedido de alguns leitores, preparamos um material que conta um pouco da história dessa liga e suas franquias, explicando a origem do nome dos times que atualmente compõem as duas conferências (Americana e Nacional), com quatro divisões cada. 

Hoje vamos nos dedicar a Conferência Nacional e na semana que vem você confere o artigo sobre a Conferência Americana, mas já avisamos: a vontade do povo foi a razão para a maioria dos nomes.

Washington Redskins

E começamos logo pelo nome mais polêmico dos esportes americanos hoje. Os Redskins (peles vermelhas) surgiram ainda quando a franquia estava em Boston, antes de se mudar para a capital americana. Na época, o dono da franquia, George Preston Marshall, justificou que era uma homenagem aos povos nativo-americanos e inclusive contratou um treinador com descendência indígena.

Entretanto, especialmente na última década, movimentos para mudar o nome ganharam força, já que a palavra “Redskin” é usada de forma derrogatória para se referir a esse mesmo povo nativo. Entretanto, apesar da polêmica, com alguns jornalistas inclusive se negando a falar o nome da equipe, o dono atual da franquia disse que não mudará o nome. E para isso se baseia em uma pesquisa com nativos americanos onde 90% dos entrevistados não se importam ou acham ofensivo o nome do time de Washington.   

New York Giants

Quando o futebol americano profissional surgiu e começou a se organizar, os times tentavam tirar uma casquinha da popularidade do baseball e sua MLB (Major League Baseball). Os Giants são um desses casos: o time copiou na cara dura o nome do New York Giants e logo, para evitar um processo, se autointitulou New York Football Giants, tudo isso ainda na década de 1920.

O mais “engraçado” dessa história é que nos anos 1950, os Giants do Baseball se mudaram para São Francisco. E assim os únicos gigantes de Nova York se tornaram os do futebol americano.

Dallas Cowboys

O nome é óbvio para um time de futebol do estado do Texas, mas não foi o primeiro. O nome que pegou primeiro foi Rangers, só que mais uma vez havia um time de baseball no meio do caminho, com o mesmo nome. Então, para evitar confusões, os dois donos da franquia da NFL, Clint Murchison Jr. e Bedford Wynne decidiram pelos Cowboys. Decisão vertical, sem discussão e que acabou pegando.

Philadelphia Eagles

Aqui a política se mistura com o esporte, mas no bom sentido. O Frankford Yellow Jackets pediu falência em pleno Estados Unidos do New Deal se recuperando da crise de 1929. O símbolo do programa do governo de Franklin Delano Roosevelt era uma águia. Buscando inspiração em algo que estava dando certo, Lud Wray e Bert Bell compraram a massa falida dos Jackets e usaram a águia para representar outro renascimento, o do futebol profissional na cidade da Philadelphia.

New Orleans Saints

O dia do nascimento da franquia da NFL foi 1º de novembro de 1966, dia de todos os Santos. Se tratando de uma cidade de grande maioria católica e um dos berços da música gospel, com um dos maiores hinos do gênero, “When The Saints Go Marching In”, tendo uma de suas versões mais conhecidas gravados pela lenda Louis Armstrong, uma coisa levou a outra e o nome ficou.

Detalhe: adivinha onde Louis Armstrong nasceu? Sim, Nova Orleans. Saints combinou perfeitamente com Nova Orleans.

Link Youtube - Eu te condeno a ficar com essa música na cabeça pelo resto do post.

Tampa Bay Buccaneers

A cidade de Tampa fica em uma baía no estado da Flórida. Assim como o Tenneesse Titans busca representar mais que sua cidade, o Bay no caso é para representar a região e não só a cidade de Tampa. Já o termo Buccaneer é um sinônimo de piratas hoje, mas historicamente é algo mais específico: eles eram os piratas anglo-saxões que roubavam navios espanhóis no mar do Caribe.

Mar do Caribe com a baia de Tampa, tudo a ver. E quatro séculos depois, os Buccaneeers não roubam mais nada, além de alguns jogos na NFL.

Atlanta Falcons

O time da Geórgia foi um dos vários times que ganhou seu nome por causa de uma pesquisa. Elas funcionam assim: os fãs sugerem o nome que quiserem e aí um comitê ou o dono da franquia decide qual é o melhor/ que mais combina/que vende melhor. Para nomear a franquia de Atlanta, 588 nomes foram sugeridos e Falcons (Falcões) foi o vencedor. A explicação para acompanhar a sugestão da professora Julie Elliott foi a premiada: “o falcão é orgulhoso e dignificado com grande coragem e luta.”

Carolina Panthers

Nenhuma relação com o Cleveland Panthers. Depois de ganhar o direito de criar uma franquia da NFL na Carolina do Norte, o dono Jerry Richardson omitiu o “do Norte” para o time ser adotado também pela Carolina do Sul. O nome Panthers foi uma escolha do filho Mark, que mandou a tradição de fazer uma pesquisa para o espaço, afinal, ele era filho do dono. E pelo visto o pai gosta de suas sugestões. Agora, de onde o moleque tirou a alcunha Panthers, ainda precisamos perguntar pra ele.

Los Angeles Rams

A história dos Rams não começou nem em Los Angeles e nem em St. Louis, de onde a franquia era antes de se realocar em 2016. A franquia foi criada na cidade de Cleveland, ainda na década de 30, para disputar a AFL (American Football League). Com a falência da liga, os Rams foram aceitos na NFL (National Football League) e jogaram em Ohio até 1946, quando o sonho da Califórnia bateu na porta. Na Califórnia o time se estabeleceu, mas times ruins, público idem e uma dona (Georgia Frontiere) não muito sã, fizeram os Rams se mudarem para St. Louis nos anos 90, ganharem um Super Bowl, se cansarem do Missouri e voltarem para L.A. agora que Frontiere não é mais dona dos Rams (ela morreu em 2008).

Ah, e por que Rams (ovelhas)? Explicação chata: o general manager Damon Wetzel gostava da equipe da Universidade de Fordham, que se chamava Rams. E decidiu copiar na cara dura. Por isso falei mais da mudança de cidades do que do nome propriamente dito.

Seattle Seahawks

Os Seahawks sabem que a voz do povo é a voz de Deus e quando a franquia foi criada nos anos 70, fizeram uma pesquisa com o público, gerando mais de 1700 sugestões. Seahawks, ou águias-marinhas, foi o vencedor.

O nome pelo menos combina com a cidade, litorânea, portuária e com muitas águia-marinhas sobrevoando a água em busca de peixes. Pior seria se fosse como o Utah Jazz da NBA, que era New Orleans Jazz antes de mudar para a nada jazz Utah, mas ter preguiça de mudar de nome.

San Francisco 49ers

Falta de criatividade é algo que não se pode acusar os donos dos 49ers, eles foram longe para encontrar um bom nome para o time. A história é uma das mais interessantes do esporte e remete a história da região.

Se você lembra da origem do nome do Philadelphia 76ers, deve imaginar que um número na alcunha geralmente remete a um ano importante para a região e o nome 49ers se trata justamente disso: uma homenagem aos garimpeiros que se mudaram para o Oeste, migrando para a região da cidade de São Francisco no exato ano de 1849 para explorar as riquezas naturais (ouro principalmente) e povoar a Califórnia.

Arizona Cardinals

Antes de existir um Chicago Bears, que já é antigo para dedéu, existia um Chicago Cardinals. O time surgiu em 1898, sendo o mais antigo ainda em atividade, como um time de bairro em Chicago. Em 1901, depois de comprar uniformes vermelhos, o dono do time, Chris O’Brien, disse que eles eram ‘cardinal red’. Cardinal é um pássaro cujo macho tem a penugem de cor vermelha forte e é chamado assim porque o pesquisador o relacionou com a cor das vestimentas dos cardeais. Profundo, não?

Depois de Chicago, o time passou por St. Louis, se chamou Phoenix Cardinals e hoje, em Glendale, se chama Arizona Cardinals.

Minnesota Vikings

Os Vikings antes de tudo são, me perdoem os fãs, uns tremendo traíras. O time era para ser da AFL, concorrente da NFL, mas no dia anterior do Draft da nova liga, eles viraram a casaca e escolheram fazer parte da mais estabelecida e antiga NFL, que tentava enfraquecer a concorrente.

Já o nome é bem fácil de explicar. Primeiro, Minnesota está no título da franquia porque os donos queriam representar o estado inteiro e não só a cidade. Além disso, Minneapolis tem a cidade gêmea de St. Paul e falar de um sem falar de outro era pedir para dar treta, ao mesmo tempo, incluir as duas juntas gerariam um nome ridiculamente grande.

Enquanto isso, o epíteto Vikings é porque Minnesota recebeu muitos imigrantes escandinavos e estes mantêm sua cultura ainda forte. Agora, história a parte, Vikings por si só é um belo nome de time de futebol americano e um capacete maravilhoso, diga-se de passagem.

Green Bay Packers

Provavelmente o nome mais legal desta lista e um dos mais legais de todos os esportes, e nem adianta falar que sou parcial porque nem sequer torço para eles.

Curly Lambeau fundou seu time junto com um companheiro de escola. Trabalhando na empresa Indian Packing Company da pequena cidade de Green Bay (105 mil pessoas no estado do Wisconsin, hoje), ele pediu para o patrão patrocinar seu time. E ele patrocinou, sem esquecer de pedir para que o time levasse no nome essa relação. Assim surgiram os empacotadores de Green Bay.

Detroit Lions

O time começou como Portsmouth Spartans, mas os famosos problemas financeiros fizeram a franquia ser vendida e realocada para Detroit. Na cidade do motor já existia o Detroit Tigers do baseball e o dono George A. Richards já começou causando: “os leões são os monarcas da selva. E nós queremos ser os monarcas da NFL”. Um pouco de modéstia não faria mal ao time que ganhou quatro títulos da liga, mas desde a era Super Bowl não conseguiu nem chegar à grande final, muito menos ganhá-la.

Chicago Bears

A história dos Bears é a história de George Halas. Talentoso em vários esportes, ele foi contratado por uma empresa de Decatur, Illinois, de propriedade de Augustus Staley, para trabalhar no administrativo e cuidar dos times esportivos. Só que visionário, ele se juntou a uma liga que estava começando chamada NFL (National Football League) e o Decatur Staleys até hoje é um dos fundadores.

Só que Staley não continuou seu apoio às equipes e sugeriu que Halas mudasse o time de futebol para a grande cidade de Chicago, a 300 km de distância. O Chicago Staleys começou a jogar no Wrigley Field, campo do tradicionalíssimo Chicago Cubs do baseball e logo o time de futebol mudou de nome para Chicago Cubs.

Aí entra a brisa: Cub é uma palavra para designar filhote em inglês, e no caso do time da MLB, de urso. Halas então pensou que se os jogadores de beisebol, menores e menos fortes, eram filhotes de urso, os brutamontes do futebol americano podiam ser naturalmente considerados ursos adultos. E assim nasceu o Chicago Bears.

E aí? Qual história é mais legal? Qual nome é mais interessante? Seguimos a conversa nos comentários e semana que vem tem mais.

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Nota da edição: conheça também a origem dos nome das franquias da Conferência Americana.


publicado em 16 de Junho de 2016, 00:05
Miguel amado

Miguel Amado

Formado pela Cásper Líbero, criador e editor do Quinto Quarto, gosta de escrever sobre esportes, séries e política e odeia fazer uma descrição de si mesmo.


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