As corridas e ralis mais intensas do mundo

Fazer as malas, pegar seu carro e cair na estrada sem rumo. Se você já fez uma viagem assim, certamente gosta de aventuras sobre quatro rodas.

Existem várias maneiras de se divertir (e ter uma descarga de adrenalina) ao volante de um carro. Participar de um rali é uma experiência extenuante que leva piloto e máquina ao limite, mas proporciona um contato mais íntimo com a natureza e explora sua capacidade de sobrevivência em situações extremas.

Competir em uma prova de longa duração é um dos maiores desafios da carreira de um piloto de corrida, a ponto do lendário designer Gordon Murray (que trabalhou por quase duas décadas projetando os carros da McLaren) dizer que “vencer (as 24 Horas de) Le Mans é mais difícil do que um campeonato de Fórmula 1”.

Veja a seguir alguns dos desafios mais complicados do mundo do automobilismo.

Rally Dakar

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Cruzar vários países debaixo de um sol escaldante, enfrentando os desafios de diferentes tipos de terreno e condições climáticas, correndo o risco de se perder no meio de um deserto sem qualquer assistência médica imediata e com recursos escassos. Este é o Rali Dakar, antigamente conhecido como Paris-Dakar.

Criada em 1979, a etapa largava da capital francesa com destino à cidade de Dacar, no Senegal. Naquela ocasião, 182 veículos partiram da praça do Trocadero, mas apenas 74 venceram o desafio de 10 mil quilômetros. A partir de 1980 a categoria de caminhões foi incluída na competição e em 1988 teve 603 veículos inscritos, até hoje o recorde de participantes. No ano 2000, a prova deixou de começar na França, cruzando o continente africano de oeste a leste, do Senegal ao Egito.

O rali só deixou de ser disputado uma única vez. Foi em 2008, quando a ameaça atos terroristas fez os organizadores cancelarem a edição poucos dias antes da largada. O medo da violência combinado com uma tentadora proposta financeira fez a corrida cruzar o Atlântico e ser realizada na América do Sul, onde acontece desde 2009.

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A morte, aliás, é uma infeliz companheira na história do Dakar. Aproximadamente 54 pessoas, entre pilotos, pessoas envolvidas na organização e espectadores, já perderam a vida em 34 anos de evento.

Em 2014, o Dakar acontecerá entre 5 e 18 de janeiro, partindo de Rosário, na Argentina, até Valparaíso, no Chile.

Rally dos Sertões

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Se o Dakar é o rali mais difícil do planeta, o Rally dos Sertões vem logo atrás.

A prova começou a ser realizada em 1991, quando partia de Ribeirão Preto (SP) até Maceió (AL). A partir de 1993 ela ganhou o nome Rally dos Sertões, indo de Campos do Jordão, em São Paulo, até Natal, a capital do Rio Grande do Norte. Somente as motos participavam da corrida até 1995. Naquele mesmo ano, ela já começava a atrair alguns nomes do cenário do rali mundial. A prova foi crescendo a cada ano e passou a aceitar os caminhões em 1999.

Nos últimos cinco anos, pilotos de ponta disputaram o Rally dos Sertões. Em 2009, a Volkswagen trouxe para cá três protótipos que também disputavam o Dakar naquela época. O trio fez bonito, garantindo os dois primeiros lugares (com a lenda do rali Carlos Sainz levando a melhor) e a sexta colocação entre os carros.

O francês Stéphane Peterhansel, 11 vezes campeão do Dakar, estreou na prova em 2012 com título – além dos Sertões, ele também corre o Dakar todo ano. Na edição 2013, o Rally dos Sertões percorreu 4.157 quilômetros, com largada e chegada em Goiânia (GO), fazendo um laço em Palmas, capital do Tocantins. Sabe quem venceu entre os carros? Peterhansel, é claro.

Pikes Peak

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Este simpático senhor é Nobuhiro Tajima, um japonês de 60 anos. Ele poderia ser um aposentado que passa seu tempo livre se dedicando a atividades típicas da colônia nipônica, como jogar gateball (um esporte livremente inspirado no críquete) ou disputar torneios de karaokê. Mas Tajima prefere viver de um jeito um pouco mais animado: arriscando sua vida na prova de Subida de Montanha mais perigosa do mundo.

Antes que você pergunte, a Subida de Montanha é uma modalidade com nome auto-explicativo, na qual o objetivo é chegar a um ponto mais elevado da largada no menor tempo possível. Praticamente qualquer tipo de automóvel pode participar destas provas, desde modelos originais de fábrica até protótipos.

A Pikes Peak International Hill Climb é realizada desde 1916 em um percurso com 19,99 quilômetros de extensão e 156 curvas. A linha de chegada fica a 4.300 metros de altitude.

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Na edição deste ano, foi a vez de um certo piloto de rali experimentar as emoções da prova. E ele se deu bem. Completou o percurso em 8’13”878, quebrando o antigo recorde em 15%. Quer saber o nome deste cara? Sébastien Loeb.

Se você não o conhece, basta dizer que ele é nove vezes campeão do Campeonato Mundial de Rali, o WRC. Acho que isso basta.

Rubicon

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Quem gosta de off-road sabe que quanto mais difícil for o caminho, melhor. Mas até os jipeiros mais experientes tremem na base quando ouvem falar da Rubicon Trail.

Localizada na Califórnia, ela é a trilha mais difícil do mundo, classificada com a nota 10 de grau de dificuldade numa escala que vai de 1 a 10. Nela não há riachos, atoleiros ou buracos. Só pedras. Gigantes. Por todos os lados.

O percurso de 12 quilômetros pode parecer simples. Os participantes saem da margem de um lago (o Loon Lake) e chegam até a margem de outro, o Lago Tahoe. Seria um agradável passeio em um dia ensolarado, não fossem as enormes rochas pelo caminho. A velocidade média dos jipes não passa de 8 km/h e só os pilotos habilidosos conseguem transpor os obstáculos sem colocar em risco a integridade do veículo e de si mesmos.

Originalmente utilizada pelos índios para fazer comércio, a trilha foi descoberta pelo Exército norte-americano no século XIX. Somente em 1908 é que o primeiro veículo motorizado conseguiu percorrê-la.

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Hoje, o Jamboree é promovido anualmente na trilha. A estrutura oferecida no evento é de primeira linha, com acampamento, restaurantes e até festas.

Mas se você não tem medo de desafios, esqueça o oba-oba e encare a trilha fora do Jamboree. Só não se esqueça de levar mantimentos, barraca e de preferência algum meio de comunicação que permita pedir socorro em caso de acidente, como um telefone via satélite.

E nunca, jamais, faça uma trilha sem a companhia de outros jipeiros. Afinal, nunca sabemos o que pode acontecer.

24 horas de Le Mans

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Se você acha a Fórmula 1 a categoria mais desafiadora do automobilismo mundial, aconselho ver uma prova de longa duração.

A 24 Horas de Le Mans é a corrida de resistência (ou endurance) mais antiga do mundo. Realizada desde 1916 na cidade de Le Mans, na França, testa as habilidades de piloto, equipe e carros durante 24 horas ininterruptas. Há pouca iluminação noturna pelos 13,629 quilômetros do Circuito de Sarthe, obrigando os pilotos a confiarem no equipamento e em seus reflexos. Três deles se revezam na corrida, ouvindo instruções dos chefes do time o tempo todo e descansando quando não estão na pista.

Le Mans é uma das provas mais perigosas do automobilismo mundial. Vários acidentes fatais aconteceram desde a primeira corrida, em meados dos anos 20. O mais grave deles aconteceu em 1955, quando a Mercedes-Benz 300 SLR pilotada por Pierre Lavegh foi tocado por outro carro que tentou evitar uma colisão.

O contato fez o Mercedes decolar em direção a um banco de areia do lado da pista, arremessando Lavegh do veículo. Além do piloto, que teve morte instantânea, mais 83 pessoas perderam a vida depois dos destroços flamejantes caírem sobre o público. Depois do acidente, que até hoje é o pior da história do automobilismo, a Mercedes-Benz resolveu se retirar das pistas de corrida, retornando com equipes oficiais apenas em 1989.

Outras cenas chocantes também entraram para a história de Le Mans. Em uma infeliz coincidência, a Mercedes-Benz (de novo) se viu envolvida em acidentes na prova, desta vez sem vítimas fatais. Aconteceu em 1999, quando o CLR, o protótipo que substituía o antigo CLK-LM, literalmente “decolou” durante os treinos livres. Ao volante estava Mark Webber, atual piloto da Red Bull na F-1. O carro, que havia passado por milhares de testes em túneis de vento para atestar sua segurança, foi totalmente reconstruído e teve sua pressão aerodinâmica reforçada na frente para os treinos de sábado.

Não adiantou: Webber e o CLR levantaram voo novamente, desta vez na curva Mulsanne.

Mesmo com o fantasma de 1955 assombrando a equipe, o então diretor técnico Norbert Haug resolveu botar seus outros dois carros na pista. Quando a corrida estava com apenas quatro horas decorridas, outro CLR, o número 5 pilotado por Peter Dumbreck, decolou e deu dois loopings no ar antes de aterrisar nas árvores próximas a curva Indianapolis.

Diante do terceiro infortúnio em três dias, a Mercedes entregou os pontos e retirou o último CLR, pilotado por Bernd Schneider, da prova.

O cara das 24 Horas de Le Mans é Tom Kristensen, com “apenas” nove vitórias em seu currículo. O dinamarquês, inclusive, é o atual campeão, ao lado do escocês Allan McNish e do francês Löic Duval. O trio levou a Audi ao seu 12º título na competição, mas a prova acabou ficando marcada pela morte de Allan Simonsen, que colidiu na terceira volta da prova.

24 horas de Nürburgring

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Quase 21 quilômetros espalhados em 151 curvas. Nürburgring Nordschleife é um dos mais míticos e assustadores autódromos do mundo.

O palco do fatídico acidente de Niki Lauda (retratado com fidelidade assustadora em “Rush – No Limite da Emoção”), não é uma pista para amadores, embora vários motoristas e aspirantes a pilotos se aventurem todo dia nas sessões abertas a qualquer pessoa apta a dirigir.

Isso mesmo: se você tiver uma carteira de habilitação válida em mãos, pode sentir a adrenalina de acelerar na pista que já fez mais de 200 vítimas fatais.

É justamente este autódromo, conhecido como “Inferno Verde”, o palco das 24 Horas de Nürburgring.

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A segunda corrida de longa duração mais importante do automobilismo mundial acontece desde 1970 e envolve mais de 200 carros e pelo menos 800 pilotos, já que até quatro pessoas podem compartilhar o volante de um mesmo veículo. Cada participante pode pilotar por até 150 minutos, mas precisa descansar pelo menos duas horas antes de retornar à pista. Os pilotos podem percorrer todo o percurso da pista, com mais de 26 quilômetros por volta.

Apesar de desafiadora, a corrida é menos badalada do que as 24 Horas de Le Mans. Praticamente qualquer carro pode participar mediante o pagamento de uma taxa de inscrição de aproximadamente 4 mil euros, mais 3 mil euros para cobrir os custos com combustível. É por isso que se veem desde esportivos de rua seminovos até protótipos que participam de provas de turismo, como a GT3.

Na última edição, que começou às 16h do dia 19 de maio e terminou no mesmo horário do dia seguinte, a prova foi interrompida por nove horas devido às fortes chuvas que castigaram o circuito naquele final de semana.

A vitória ficou nas mãos do quarteto Bernd Schneider, Jeroen Bleekemolen, Sean Edwards e Nicki Thiim.

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E aí, adicionam alguma corrida matadora à lista?


publicado em 29 de Novembro de 2013, 22:12
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Vitor Matsubara

Jornalista especializado em automóveis há cinco anos, fanático por tudo que tem motor há mais de 20. Quando não está pensando em carros, acompanha todas as partidas de futebol que estiverem passando na TV e se dedica a um de seus hobbies: colecionar camisas de... futebol.


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