Bandeira 2 para Mano Menezes

No último domingo fui passageiro do Sr. Luis Carlos, um taxista paulista de 52 anos. Durante os 30 minutos de viagem, mais precisamente no trajeto entre o QG Papo de Homem e o Aeroporto de Congonhas, ouvi atentamente lições sobre Beatles, tantrismo, aquecimento global, céu e inferno. Quando questionei se podíamos chegar ao paraíso em vida, Luis Carlos respondeu: “podemos. Basta alcançar uma buceta”.

Ficava claro que Sr. Luis era um homem sábio.

Fato esse confirmado quando ele decidiu falar de futebol. Talvez motivado com a narração do jogo que eliminou a Seleção Brasileira da Copa América, o taxista me veio com a seguinte pergunta:

— O Mano Menezes tá montando uma seleção pensando em 2014, certo?

Eu respondi:

— Certo.

Aí, bom, aí ele disparou.

As lições de um simples taxista sobre a confusa escalação de Mano Menezes

— Então, você que é um cara da comunicação e tem o dever de conhecer tudo o que acontece no mundo, vai me responder o motivo da Seleção ser tão velha. Afinal, se é um time em formação, por que o Lúcio, um zagueiro de três Copas do Mundo e que joga na Itália, o lugar mais fácil que existe para ser zagueiro, é titular e o David Luiz não?
E na lateral direita? O Mano assinou o atestado de erro ao tirar o Daniel Alves, um lateral medíocre que só joga bem no Barcelona porque qualquer imbecil jogar bem naquele time – vide Adriano e Mascherano —, e escalar o Maicon. O meio de campo tem dois volantes que marcam bem: Ramires e Lucas. São jovens? São. Mas não fazem gol. Ao contrário daquele menino do São Paulo, o...”
—  Claudiomiro.
—  Claudiomiro. É novo, é bom, marca, chuta, cabeceia e faz gols. E joga no Brasil, tem identificação com a torcida, aquilo que o Mano procura reconstruir na Seleção Brasileira. Voltando ao assunto dos gols, se o lance é focar em formação para 2014, o que o feio aquele do Fluminense foi fazer na Copa América. O cara tem um jeitão de ser gente fina, tem mesmo. Tomaria uma cerveja com ele. Deixaria minha filha ir ao cinema com ele. Mas não será nunca meu atacante em 2014. Não mesmo. Sabe de quem to falando, né?
—  O Fred.
—  Isso, o Francis. Não é jogador pra Seleção, não é jogador. Se é para pensar no futuro, por que não levar aquele alto do Internacional?
—  Damião.
—  Hein?
— Leandro Damião, o goleador do Inter.
—  Isso, rapaz. É craque, faz gol de tudo que é jeito. Tem estrela. Ao contrario do Robinho. O Robinho é um fracasso. Tem 27 anos e parece que já decepcionou na Seleção Brasileira em todos os campeonatos possíveis. Não deu certo em nenhum time da Europa. Tem status de craque, mas é, no máximo, razoável.
Vamos ser práticos. A Copa do Mundo é daqui três anos. Se o Mano Menezes quer montar um time para 2014, por que ele convocou Lucio, Fred, Robinho, e deixou de fora jovens promissores como Claudiomiro, Juan, Bernardo, Oscar e Damião? Eu acredito que base da seleção de 2014 será o grupo de 2012. Portanto, por que ele não colocou um time Olímpico para jogar a Copa América?
Responda-me.

O final desse discurso, por sorte, ocorreu já no aeroporto.

Paguei o apontado pelo taxímetro e segui para o check-in.

Deixei o Sr. Luis sem resposta. Mas com uma boa gorjeta.

O taxista aceitou o livro PdH, mas disse que internet é coisa de punheteiro

publicado em 21 de Julho de 2011, 08:21
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Fred Fagundes

Fred Fagundes é gremista, gaúcho e bagual reprodutor. Já foi office boy, operador de CPD e diagramador de jornal. Considera futebol cultura. É maragato, jornalista e dono das melhores vagas em estacionamentos. Autor do "Top10Basf". Twitter: @fagundes.


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