Os seios que antes eram fonte de prazer, agora são intocáveis

Um relato paterno.

Era quase diário, amoroso, carinhoso, selvagem, performático, na sala, na cama, no banheiro, a noite toda ou uma rapidinha durante a tarde. Conhecíamos cada pedacinho dos nossos corpos, todos os lugares que davam arrepios e todas as posições mais prazerosas. O desejo e a paixão estavam nítidos em cada olhar e a cada toque.

Enfim engravidamos, ela radiantemente linda e com contornos ainda mais cativantes. Uma gestação plena, saudável e sem restrições  o que nos permitiu fazer amor até os últimos dias antes do parto. Claro que a frequência não era mais como antigamente, dependia dos enjoos, cansaço, descoberta de posições mais confortáveis, mas sempre com muita sintonia, desejo e amor.

Durante o trabalho de parto, me deparei com uma mulher infinitamente mais forte  do que um dia imaginara. E mesmo na adrenalina e emoção daquele momento, eu percebi que naquele momento não nascia somente uma criança, nascia também uma nova mulher.

Também me senti um novo homem, afinal me tornei pai e sabia que a vida não seria mais a mesma. Mas estava relativamente tranquilo, me achando pronto, confiante para o que estava por vir e para ser o melhor pai e marido de todos.

Os dias foram passando, as noites mal dormidas estavam cada vez mais cansativas, muitas fraldas pra trocar, além do trabalho e afazeres de casa. Porém mesmo eu dando o meu melhor, ou pelo menos achando que estava, era nítido o quanto estava mais pesado para ela.

A vontade em voltar a fazer amor começava a surgir novamente, de forma sutil, crescente mas com motivações diferentes. Eu motivado por voltar a ter minha mulher nos meus braços, voltar a desejar e se sentir desejado. E ela, bem, ela acredito que mais motivada com a minha motivação do que qualquer outra coisa.

Foto de Jana Romanova

Existem muitos conteúdos falando sobre o retorno a vida sexual após o parto, e confesso que li quase tudo que encontrei justamente para quando chegasse o momento eu tivesse competência para conseguir criar o “clima perfeito” e saber como fazer. Pensei que estava pronto, mas me enganei.

Os seios que antes eram fonte de prazer agora são intocáveis. As carícias que antes davam arrepios agora geram aflição. As posições que antes a faziam gozar agora doem. E os suspiros e gemidos que antes potencializavam o tesão agora davam lugar ao silêncio para não acordar o bebê.  Percebi então que ela não era uma nova mulher somente para mim, ela era uma nova mulher para ela também, tendo que aprender e descobrir sobre seu corpo e seus desejos. E isso vai tempo.

Os meses foram passando e ao contrário do que imaginava, a nossa vida sexual não voltava a normalidade. Naturalmente me vi pressionando-a, mesmo que através de brincadeirinhas  e indiretas, o que só piorava a situação. Paciência, me diziam. Paciência!

Como controlar meu instinto? Vou ter que me acabar na punheta até quando? Cadê a minha mulher? Será que a culpa é minha ? Já não sabia nem como me aproximar dela, muito menos o que fazer e como fazer.

Quase dois anos se passaram e as respostas começam a aparecer.

O tal “clima perfeito” não é só dar flores, falar palavras bonitas ou tentar seduzir com uma barriga tanquinho. Isso era antes, quando éramos apenas homem e mulher, agora somos homem-pai e mulher-mãe, e isso muda tudo, ainda mais para ela.

Descobri que o tal “clima perfeito” é construído durante dias e não mais horas. Dias de cumplicidade, parceria e comprometimento com o todo, é isso que a excita.

Confio no nosso amor. Não vou desistir de conquistá-la. Não está fácil, mas já foi mais difícil.

* * *

Nota do editor: Vimos esse relato no Instagram do @homempaterno e achamos tão legal que resolvemos publicar por aqui. Este é o primeiro texto de uma série na qual o @homempaterno vai coletar relatos em primeira pessoa sobre a paternidade. Vai lá, siga, acompanhe e, se possível, mande seu texto. 

CONVITE: Círculo do Homem Paterno, 12/05

Divulgamos no nosso Instagram um encontro promovido pelo @homempaterno. Gostaríamos de reforçar a indicação. Vai ser dia 12/05 em São Paulo. Mais informações nesse post de Instagram. :)

 


publicado em 08 de Maio de 2018, 11:43
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Tiago Koch

Idealizador do Instagram @homempaterno, homem, pai e marido. Formado em Naturologia, desenvolve trabalhos individuais e em grupos oferecendo suporte e acompanhamento para homens durante o período gestacional e puerpério.


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